Quinta-feira, 06 de novembro de 2025

Donald Trump estressa os Estados Unidos

O cerco legal a Donald Trump se fechou. Há cinco meses ele foi o primeiro ex-presidente a ser indiciado, no caso, por falsificar registros para ocultar um acordo de confidencialidade com uma mulher com quem teria tido um caso. Depois, pela Justiça federal, por se apropriar de documentos confidenciais. No início do mês, a Justiça federal o acusou de conspirar para obstruir a transição de poder. Agora, foi acusado pela Procuradoria da Georgia de interferir nas eleições. No todo, são 91 delitos.

Progressivamente, as acusações avançaram ao coração da ameaça de Trump à democracia. Três princípios estão em jogo: de que ninguém está acima da lei; de que os resultados das eleições devem ser respeitados; e de que os veredictos das cortes devem ser cumpridos.

Os dois primeiros indiciamentos realçam o primeiro princípio. Quanto às acusações sobre o 6 de Janeiro, os procuradores reconhecem o direito constitucional de Trump de criticar e mesmo vocalizar falsidades sobre o sistema eleitoral. Em outras palavras, Trump pode mentir o quanto quiser. Mas ele é acusado de agir com base nessas mentiras, não para encorajar o assalto ao Capitólio, mas para obstruir a ratificação dos votos pelo Congresso. Já a Procuradoria da Georgia alega que Trump orquestrou um plano criminoso para forçar autoridades a fraudar as eleições. A prova mais contundente é um telefonema no qual ele exige que uma autoridade local “encontre 11.780 votos”, advertindo-a de que a recusa implicaria “um grande risco”.

Se os procuradores evitassem as acusações, isso poria em risco a credibilidade da Justiça e sua capacidade de responsabilizar o Executivo. Por outro lado, elas comportam riscos para a política.

Perspectivas

Muitos analistas argumentam que a estratégia dos democratas é que Trump seja nomeado pelos republicanos, dando-lhes mais chances entre eleitores moderados e independentes. Para Trump, a estratégia legal e a eleitoral se retroalimentam, inflamando a sua narrativa de perseguição pelo deep state. Os republicanos enfrentam um dilema: endossar essa narrativa – abastecendo a tática de Trump de posar como mártir – ou desmoralizá-la – arriscando a simpatia dos trumpistas. As perspectivas são degradantes. Uma disputa entre Joe Biden e Trump se afastaria ainda mais das políticas públicas, concentrando-se na idade e enfermidades do primeiro e nos imbróglios legais do segundo.

Enquanto os políticos manobram suas estratégias, a maior responsabilidade pelos destinos da democracia no país fica com os eleitores. Os democratas têm a sua parte: para desmoralizar a narrativa de Trump, eles deveriam exigir que a Justiça aja com o mesmo rigor em relação aos indícios de corrupção da família Biden. Mas a grande chance de quebrar o círculo vicioso está com os republicanos. Criminoso ou não, não há dúvida de que o comportamento de Trump foi ou lunático ou perverso. Autoridades republicanas não deveriam tergiversar em expor esse fato nas primárias. Se não o fizerem, a esperança é que os moderados e independentes punam o partido nas urnas.

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