Sábado, 08 de novembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 7 de novembro de 2025
A recuperação da economia da Argentina trouxe efeitos positivos para a atividade no Brasil, principalmente via
exportações de bens e aumento do turismo argentino. No primeiro semestre deste ano as exportações de bens
para a Argentina foram equivalentes a 0,8% do PIB, uma alta de 0,3 pontos percentuais (p.p.) ante os 0,5% de igual
período de 2024. Dados do governo brasileiro mostram que as exportações à Argentina continuaram crescendo de
julho a setembro. Nesses três meses a venda aos argentinos cresceu 34,6% enquanto a exportação total brasileira
subiu 4,7%.
Os cálculos das exportações brasileiras como proporção do PIB são de Francisco Pessoa Faria, pesquisador associado do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre). Paralelamente ao aumento das exportações aos argentinos, destaca ele, o fluxo de argentinos em busca de paisagens brasileiras se intensificou, aumentando o volume de dólares gastos em viagens no Brasil.
Ele estima que o turismo argentino trouxe no primeiro semestre deste ano o equivalente a 0,2% do PIB em gastos
de viagens no Brasil. Em igual período de 2024 essas viagens trouxeram ao Brasil 0,08% do PIB. Os serviços
exportados ao vizinho como um todo avançaram de 0,12% do PIB em 2024 para 0,25% do PIB em 2025, de janeiro a
junho. Os cálculos foram feitos com base em dados do Indec, o instituto de estatísticas argentino.
Segundo o Indec, no primeiro semestre de 2025 o Brasil exportou US$ 2,69 bilhões em serviços aos argentinos, o
dobro do US$ 1,33 bilhão de iguais meses de 2024. O valor foi puxado pelos gastos em viagens dos argentinos no
Brasil. Foram US$ 2,14 bilhões em 2025 ante US$ 918 milhões em 2024. Em sentido inverso, a importação brasileira
de serviços em 2025 somou US$ 869,7 milhões, com queda de 11,9% contra o ano passado. O superávit da balança
de serviços em 2025 foi de US$ 1,82 bilhão a favor do Brasil, saldo bem superior aos US$ 337,3 milhões de 2024,
sempre de janeiro a junho.
A ajuda tem sido bem-vinda para o Brasil, avaliam economistas, mas não se sabe até quando vai durar nessa
magnitude. Mesmo com a ajuda dos Estados Unidos à Argentina com swap de US$ 20 bilhões e resultados
amplamente favoráveis nas eleições de meio de mandato no último dia 26, o presidente argentino, Javier Milei, deve
estabelecer medidas que podem afetar a economia de seu país.
O dinamismo econômico sob o governo Milei explica o aumento das exportações brasileiras neste ano, diz Gustavo
Pérego, sócio da consultoria argentina Abeceb. “No ano passado a Argentina passou por processo de reconfiguração
da economia. Tivemos queda da atividade forte no primeiro semestre, com início de recuperação no segundo
semestre.”
A principal exportação do Brasil à Argentina, observa Pérego, é de automóveis e autopeças. O crescimento recente,
diz, aconteceu porque no governo anterior os importadores argentinos não conseguiam comprar dólares e por isso
as opções para compra de carros no mercado doméstico eram pequenas. Por falta de acesso ao dólar pelo câmbio
oficial, os importadores acumularam valores a receber, explica. Havia ainda restrições, como licenças prévias, para a
importação argentina.
Em 2024, diz, o governo argentino adotou medidas para regularizar essa situação com os importadores e houve
também melhora na capacidade de consumo do argentino. “Quando essa situação dos importadores se estabiliza, a
compra de carros e motos na Argentina dispara porque o consumidor argentino vinha de um período de no mínimo
dois anos em que as vendas de carros foram baixas. E grande parte dos automóveis é fabricada no Brasil.”
Segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex/Mdic), a exportação brasileira aos argentinos somou US$ 14,2
bilhões de janeiro a setembro, com alta de 47,2% contra iguais meses de 2024. As importações somaram US$ 9,5
bilhões, com queda de 1,8%. O superávit a favor do Brasil foi US$ 4,7 bilhões em 2025 ante déficit de US$ 50,5
milhões em 2024 sempre nos mesmos nove meses.
Os manufaturados do setor de transportes dominam a exportação ao sócio do Mercosul. Dos embarques brasileiros
aos argentinos, 21,9% são carros, que somaram US$ 3,1 bilhões de janeiro a setembro deste ano, mais que o dobro
do US$ 1,4 bilhão em iguais meses de 20204. Parte e acessórios representam outros 9,7% das vendas à Argentina,
além de 6,4% em automóveis de transporte de mercadorias e 5,5% em veículos rodoviários.
Pérego estima que o PIB argentino cresça 4% em 2025 após queda de 1,7% em 2024. “Isso reflete na demanda de
carros dos argentinos e por isso o Brasil teve melhora das exportações.” Segundo o boletim do Relevamiento de
Expectativas de Mercado (REM) – semelhante ao Focus do BC brasileiro -, divulgado pela autoridade monetária
argentina, a expectativa média do conjunto de analistas é de alta de 3,9% no PIB argentino em 2025. Com informações do portal Valor Econômico.