Quinta-feira, 04 de dezembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 3 de dezembro de 2025
Em meio à onda de especulações sobre qual será, finalmente, a ação que realizará o governo do presidente americano, Donald Trump, em território venezuelano, tem ganhado força entre analistas a hipótese de que a estratégia de máxima pressão da Casa Branca contra a ditadura venezuelana tem como principal objetivo provocar uma fissura na Força Armada Nacional Bolivariana (Fanb) que leve à queda de Nicolás Maduro. Até o momento, relataram fontes em Caracas, não se vislumbra qualquer fissura no mundo militar venezuelano, pelo contrário. Embora as mesmas fontes assegurem que existe mal-estar, medo e preocupação no baixo clero militar, a cúpula, ressaltaram as fontes, continua coesa e disposta a resistir ao lado de um chavismo que na disputa com Trump encontrou um elemento de união — e, nesse aspecto, fortaleceu-se.
Dinâmica instável
Numa dinâmica vertiginosa como é a do conflito entre EUA e Venezuela, as situações podem mudar de um dia para o outro, mas hoje, apontou uma das fontes consultadas, a ideia de que a pressão psicológica da Casa Branca contra o país fará com que militares de alto escalão decidam soltar a mão do ditador venezuelano ainda parece difícil de acontecer.
Em Caracas, a sensação é de que, se houver uma fissura, será entre militares que mantenham sua lealdade a Maduro e militares que decidam não se unir a uma eventual operação de resistência a um ataque americano. Essa ala ficaria paralisada. Hoje, não parece verossímil imaginar militares de alta patente negociando com Trump para banir o chavismo do poder.
Ultimato expirou em 28 de novembro: Trump rejeitou pedidos de Maduro por anistia, fim de sanções e governo interino
— Maduro perdeu as eleições de 2024, inclusive em setores militares, que votaram em massa contra o chavismo. Mas ele tem o controle dos militares por medo de perseguição. A quantidade de militares que abandonaram o país nos últimos anos é enorme, e os que ficaram se submetem por pavor e falta de alternativas — explica uma fonte da oposição, que conhece bem o mundo militar de seu país.
Segundo ela, “muitos militares também continuam ao lado de Maduro por seu envolvimento em negócios ilícitos, inclusive do narcotráfico”.
— Hoje não vejo possibilidade de um golpe dentro da Venezuela por pressão dos EUA, a cúpula chavista não vai permitir isso. Estão preparados para resistir — enfatizou a fonte.
Ela faz uma distinção entre dois grupos de militares: os acusados de violações dos direitos humanos, que não teriam como negociar eventualmente uma saída digna; e os envolvidos em negócios ilícitos, que teriam mais alternativas de negociação.
Entenda: Trump enquadra Maduro como líder de rede criminosa, mas especialistas afirmam que Cartel de los Soles não existe como organização real
— Quem estiver metido em crimes normais tem mais saídas. Quem violou os direitos humanos está numa situação muito mais complicada — acrescentou a fonte.
Defesa da soberania
Todos esses elementos explicam a coesão entre os militares venezuelanos, mas não apenas. Existe também o elemento de defesa da soberania. Ajudar uma potência estrangeira a derrubar um governo nacional é algo que jamais ocorreu na Venezuela. Em abril de 2002, o líder bolivariano Hugo Chávez (1999-2012) foi derrubado por um golpe de Estado que o afastou do poder por 48 horas. Um grupo de militares de aliou a setores empresariais, eclesiásticos, sindicatos e governos estrangeiros, entre outros, e exigiu a renúncia de Chávez em meio a protestos por seu estilo, naquele momento, cada vez mais autoritário de governar — e uma agenda econômica de nacionalizações de empresas que pôs o establishment venezuelano em estado de alerta.
Após dois dias de suspense, Chávez retornou ao poder apoiado por um amplo grupo de militares, que desafiou as ordens dos golpistas e provocou uma reviravolta no país. Naquele momento, nenhuma potência externa esteve diretamente envolvida no golpe.
Para venezuelanos: Inflação e escassez de alimentos pesam mais do que temor de ataque dos EUA
A situação atual é totalmente diferente. Maduro é um presidente impopular, que ninguém duvida em seu país que perdeu as eleições presidenciais de 2024, mas que não tem na sua frente uma oposição com capacidade de tirá-lo do poder. O ditador venezuelano, que não vem do mundo militar, conquistou o respeito de uma cúpula que cresceu com ele, a começar pelo ministro da Defesa, general Vladimir Padrino López, nomeado por Maduro e no cargo há mais de dez anos. Hoje existe entre os militares e o presidente um pacto de lealdade, dizem analistas em Caracas. Romper esse pacto não será fácil.
— Hoje as Forças Armadas estão a serviço de uma pessoa, que é Maduro. Estão politizadas e desintegradas — disse outra fonte. Com informações do portal O Globo.