Quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 13 de outubro de 2023
O presidente do Egito, Abdel Fattah al-Sisi, instou os moradores da Faixa de Gaza a “permanecerem firmes e continuarem nas suas terras”, ignorando a pressão para autorizar a saída de civis do território bombardeado por Israel em resposta à ofensiva do grupo terrorista Hamas, no sábado (7). Apesar de afirmar que está empenhado em garantir ajuda, o país tem se colocado contrário aos apelos crescentes, incluindo de autoridades americanas, para que os palestinos em fuga entrem no seu território.
O Egito faz fronteira com o enclave palestino através da cidade de Rafah, no sul de Gaza, único ponto sob controle egípcio e único ponto de trânsito que é mantido aberto na maior parte do tempo — a região sofre um severo bloqueio israelense desde 2007, quando o Hamas chegou ao poder. No território, vivem mais de dois milhões de palestinos. São quase 6 mil habitantes por km² — uma das densidades populacionais mais altas do mundo.
As autoridades egípcias rejeitaram qualquer medida para criar corredores seguros para refugiados que buscam sair de Gaza, segundo a Reuters. O Egito insiste em uma solução diplomática, argumentando que ambos os lados devem resolver o conflito dentro de suas terras e que um deslocamento em massa poderia dificultar “o direito dos palestinos de manterem sua causa e sua terra”, disse uma fonte do governo à agência de notícias britânica.
Al-Sisi também tem afirmado que a segurança nacional do Egito é a sua “principal responsabilidade”. Com medo de ser arrastado para uma crise por conta do conflito, o presidente alegou que o país “não permitirá que a causa palestina seja resolvida à custa de outras partes”.
O Cairo já vinha alertando nesta semana que a contraofensiva levaria ao êxodo de palestinos para o seu território. Citando fontes de segurança de alto nível, meios de comunicação ligados ao Estado egípcio advertiram contra uma fuga em massa de palestinos, que estavam sendo “forçados a escolher entre a morte sob os bombardeios israelenses ou o deslocamento de sua terra”.
Dor de cabeça
Para o Egito, permitir a passagem de um grande número de habitantes de Gaza, mesmo como refugiados, para a Península do Sinai seria “reviver a ideia de que a região é o país alternativo para os palestinos”, explicou Mustapha Kamel al-Sayyid, cientista político da Universidade do Cairo, ao New York Times. Em 1967, na Guerra dos Seis Dias, Israel anexou a região ao seu território, que foi retomado posteriormente em 1973, na Guerra do Yom Kippur.
Em uma postagem na rede social X (antigo Twitter), a embaixadora de Israel no Egito, Amira Oron, alegou que “Israel não tem intenções em relação à Península do Sinai e não pediu aos palestinos que se mudassem para lá”, acrescentando que “o Sinai é território egípcio”.
Outro cenário que também preocupa o Egito é acabar como administrador de Gaza, algo que segundo al-Sayyid, “o país nunca poderia aceitar”. O enclave sempre foi uma dor de cabeça para al-Sisi, e os seus laços estreitos com Israel e os Estados Unidos colidem desconfortavelmente com as opiniões pró-Palestina do seu próprio povo.
O presidente também desconfia do grupo terrorista Hamas, que governa a região desde 2007. Dezenas de milhares de palestinos invadiram em 2008 o Egito depois que o Hamas abriu um buraco na cerca da fronteira de Rafah.
As forças de segurança egípcias e israelenses coordenaram-se estreitamente para monitorar Gaza, e os egípcios utilizaram controles fronteiriços rigorosos para permitir que alguns residentes de Gaza entrassem no Egito, principalmente para estudar, obter tratamento médico ou viajar para um terceiro país — controle que endureceu com a chegada do grupo terrorista ao poder.
Ajuda humanitária
Apesar de obstruir a passagem, o Egito disse que está empenhado em garantir a entrega de “ajuda, tanto médica como humanitária, neste momento difícil”, disse al-Sisi, afirmando a “posição firme” do Cairo de garantir os “direitos legítimos” dos palestinos. O país é historicamente um intermediário fundamental entre o Hamas e Israel e apelou aos doadores para que enviassem ajuda humanitária com destino a Gaza para o aeroporto de El Arish.
Até o momento, quase 400 mil pessoas se deslocaram da Faixa de Gaza por conta do conflito e da contraofensiva de Israel, de acordo com o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários. Mais de 1.500 foram mortas.
Apesar da denúncia de violação do direito humanitário internacional pela ONU, o Estado judeu segue bombardeando de maneira incessante o enclave palestino desde o ataque do Hamas, como parte do anunciado “cerco total”. Segundo o ministro da Defesa israelense, a promessa é deixar a região “sem eletricidade, sem comida, sem água e sem gás”. De acordo com autoridades palestinas, o território ficou completamente sem energia elétrica na quarta (11), após a usina que atende os mais de 2 milhões de habitantes da região parar de funcionar por falta de combustível.