Quarta-feira, 12 de novembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 11 de novembro de 2025
Em grave crise financeira e em busca de um empréstimo bancário de R$ 20 bilhões para tentar aliviar o caixa, os Correios são hoje a empresa que responde ao maior número de processos trabalhistas na Justiça. Dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) mostram que, consideradas todas as instâncias judiciais, foram registradas 56.481 novas ações nos últimos 12 meses. Isso significa 154 processos por dia ou 6 por hora.
O total de ações movidas por trabalhadores contra os Correios era de 75.173 até 23 de outubro deste ano – a empresa tem por volta de 83 mil funcionários. Como o CNJ compila dados somente desde 2019, o número de processos em trâmite deve ser muito maior. Advogados trabalhistas e da companhia relatam que há ações que aguardam a conclusão há três décadas ou mais.
Conforme o sistema de informações dos tribunais, a estatal desembolsou pelo menos R$ 1,1 bilhão para quitar as condenações da Justiça do Trabalho em 2024. Os resultados parciais de 2025, referentes ao primeiro semestre, estimam que o valor pago subiu para R$ 1,5 bilhão.
Em cinco tribunais regionais, os Correios lideram em quantidade de litígios. No Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 15.ª Região (Campinas) há 7.938 processos; seguido pelo TRT5 (Bahia), com 3.901; TRT10 (Distrito Federal e Tocantins), com 3.475; TRT6 (Pernambuco), com 2.557; e TRT22 (Piauí), com 858 ações. No TRT1 (Rio de Janeiro), a estatal registrou 7.443 casos, ficando em segundo lugar, atrás da Petrobras.
Insalubridade
A advogada Marina Tambelli, cujo escritório representa funcionários efetivos e terceirizados dos Correios desde 1977, atribui o volume de ações ao não investimento da empresa em segurança e saúde do trabalhador e aos processos de terceirização. Marina salienta que a insalubridade se intensificou na pandemia. “A grande maioria dessas ações envolve doenças ocupacionais. Os problemas mais comuns afetam a coluna, joelhos e tornozelos dos carteiros, devido às longas caminhadas e ao carregamento de peso”, disse.
O advogado Muriel Carvalho, funcionário dos Correios desde 2013 e responsável pela defesa da estatal, afirmou que a origem da maioria das ações pode ser atribuída à restrição de direitos consolidados na categoria, como o exemplo do abono pecuniário de férias.
“Os Correios pagavam um abono com base em 70%, índice acima do terço constitucional. A empresa cortou esse benefício, mas a maioria dos juízes decidiu que a alteração só se aplicaria daqui para frente, garantindo o direito adquirido dos veteranos. Quando a empresa age assim, é inevitável que as pessoas recorram à Justiça”, disse. (Com informações de O Estado de S. Paulo)