Sábado, 07 de dezembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 20 de abril de 2022
Com um leve favoritismo nas pesquisas, o presidente francês, Emmanuel Macron, enfrentou nesta quarta-feira (20), sua rival Marine Le Pen no único debate antes do segundo turno da eleição presidencial, no domingo (24). No encontro de duas horas e meia, Macron disse que a ideia de Le Pen de banir o véu islâmico em espaços públicos provocaria uma “guerra civil” na França.
”A França, berço do Iluminismo e do universalismo, se tornará o primeiro país do mundo a banir símbolos religiosos em espaços públicos. É isso que você está propondo, não faz sentido”, disse Macron. “Você vai causar uma guerra civil se fizer isso. Quantos policiais estariam correndo atrás de véus, quipás e outros símbolos religiosos?”
Inicialmente, Le Pen tentou minimizar a importância da proibição do véu islâmico, sugerindo que o tema estava causando na imprensa mais entusiasmo do que deveria. “O que eu quero é lutar contra o islamismo”, disse Le Pen a Macron. “Porque, ao contrário do de você, eu não esqueci que existe terrorismo. Eu não esqueci que existem radicais islâmicos.”
Rússia
A discussão sobre o véu islâmico, porém, não foi o único bate-boca da noite. Macron também acusou Le Pen de manter uma relação próxima demais da Rússia. “Você depende do poder da Rússia, você depende de Vladimir Putin. Você fez um empréstimo de um banco russo”, afirmou Macron. Ela rejeitou as acusações. “Sou uma mulher completamente livre e independente”, respondeu.
Aparentando estar sempre mais na ofensiva, Macron também acusou Le Pen de não admitir sua intenção de tirar a França da zona do euro. O presidente afirmou que, como há cinco anos, o projeto de governo de Le Pen culminaria na saída da França da União Europeia. A candidata de extrema direita negou que pretenda retirar a França da UE e insistiu em sua ideia de reformar “profundamente” o bloco para transformá-lo em uma aliança de nações.
“A soberania europeia não existe, porque não há cidadania europeia”, disse Le Pen. “Você quer substituir a soberania francesa pela soberania europeia e é por isso que você coloca a bandeira europeia sob o Arco do Triunfo” – em janeiro, Macron hasteou a bandeira da UE no monumento, quando a França assumiu a presidência rotativa do bloco.
Frango brasileiro
Em um determinado momento do debate, para demonstrar a necessidade de reformar a UE, Le Pen criticou os acordos de livre-comércio assinados pelo bloco e citou a concorrência desleal do frango importado do Brasil. ”Discordo da proliferação desses acordos de livre comércio, onde vendemos carros alemães e sacrificamos os nosso produtores submetendo-os à concorrência do frango do Brasil ou da carne bovina do Canadá”, reclamou Le Pen. “Que frango do Brasil? Que acordo?”, questionou o presidente. Le Pen não respondeu.
Os dois candidatos também travaram um debate sobre a economia francesa. Le Pen citou sua proposta de baixar impostos e cortar os gastos desnecessários do governo. “Quero devolver o dinheiro aos franceses”, disse Le Pen. Macron defendeu sua política econômica e disse estar orgulhoso da criação de empregos na França. “A melhor maneira de ganhar poder de compra é combater o desemprego”, afirmou o presidente.
Visões opostas
A eleição apresenta aos eleitores duas visões opostas da França: Macron oferece uma plataforma pró-europeia e liberal, enquanto o manifesto nacionalista de Le Pen se baseia em profundo euroceticismo.
O debate foi marcado por tensão. “Pare de misturar tudo”, Macron disse a Le Pen durante uma discussão sobre a dívida da França. “Não me dê sermão”, respondeu Le Pen. “Você está brincando comigo?” também surgiu pelo menos duas vezes.
Para Le Pen, que está atrás de Macron nas pesquisas eleitorais, o confronto foi uma chance de persuadir os eleitores de que ela tem capacidade para ser presidente e não há motivos para temer a extrema direita no poder. O desempenho de Le Pen foi negativo na última vez que os dois candidatos se enfrentaram em um debate, em 2017, ocasião que cimentou o favoritismo de Macron à época.
Mas pesquisas mais recentes indicam um crescimento nas intenções de voto da candidata, de 33,9%, em 2017, para um patamar entre 44,5 e 47% nessas eleições.
Macron não é mais um disruptor da política externa e agora tem um histórico a ser julgado pelos eleitores franceses. Enquanto isso, Le Pen conseguiu maior adesão entre os eleitores tradicionais e trabalhou duro para suavizar sua imagem. “Ele não é mais o mesmo oponente. Ele agora passou cinco anos no poder, o que não foi o caso da última vez”, disse Le Pen antes do debate.
Depois que mais da metade do eleitorado votou em candidatos de extrema direita ou de extrema esquerda no primeiro turno, a liderança de Macron nas pesquisas de opinião é muito menor do que há cinco anos, quando ele venceu Le Pen com 66,1% dos votos. Pesquisas projetam 55,5-56,5% desta vez.