Domingo, 13 de julho de 2025

Em meio à crise deflagrada com a imposição de tarifas ao Brasil pelos Estados Unidos, Lula fala de crise da ordem mundial sem citar Rússia e China

Em meio à crise deflagrada com a imposição de tarifas ao Brasil pelo governo de Donald Trump, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou um artigo publicado por alguns dos principais jornais do mundo. Segundo analistas, o texto deixa de citar os papéis desempenhados por Rússia e China no redesenho das forças internacionais.

O artigo foi publicado em veículos importantes como Le Monde (França), El País (Espanha), The Guardian (Reino Unido), Corriere della Sera (Itália), Yomiuri Shinbum (Japão), China Daily (China), Clarín (Argentina) e La Jornada (México), além da revista Der Spiegel (Alemanha).

Intitulado “Não há alternativa ao multilateralismo”, o texto expõe a posição do Brasil diante do que se chama de “crise” da ordem internacional. Escrito antes do tarifaço de Donald Trump, Lula disse que a Organização Mundial do Comércio (OMC) está “esvaziada” e o sistema multilateral de comércio está ameaçado pela “lei do mais forte”.

Crise

No artigo, que segundo interlocutores do governo reflete as concepções da equipe do assessor de Assuntos Internacionais Celso Amorim, o multilateralismo está em crise porque a ordem global, inaugurada com o fim da 2.ª Guerra, não corresponde às “novas forças” e aos “novos desafios” que surgiram nas últimas décadas.

“O mundo de hoje é muito diferente do de 1945. Novas forças emergiram e novos desafios se impuseram. Se as organizações internacionais parecem ineficazes, é porque sua estrutura não reflete a atualidade”, disse Lula no artigo. “A solução para a crise do multilateralismo é refundá-lo sobre bases mais justas e inclusivas.”

O internacionalista Vinicius Rodrigues Vieira, professor de economia e relações internacionais na Fundação Armando Alvares Penteado (Faap), avalia que o artigo deveria ser mais incisivo com as potências não ocidentais, como Moscou e Pequim, uma vez que a ordem internacional pós-1945, criticada pelo artigo, inclui ambos como membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU.

“O governo, talvez, pudesse ter sido mais incisivo na crítica às grandes potências, que não são apenas os países do Norte Global”, disse. “Seria desejável que houvesse uma nomeação ( de Rússia e China), dar ‘nome aos bois’, assim como Lula fez ao mencionar e apontar o dedo para o Norte Global.”

Ainda para Vinicius Vieira, ao evitar as críticas à Rússia e à China, Lula perdeu a oportunidade de tratar de duas potências que não possuem interesse em reformar o multilateralismo, tal como pleiteado pelo Brasil.

“É importante dizer que hoje o próprio multilateralismo não é interessante para China e Rússia, que preferem lidar, pelo menos no caso de questões sociais, diretamente com os EUA”, observa. “Se é para reformar o multilateralismo apenas expondo as hipocrisias do Ocidente, o Brasil não pode reclamar de ser entendido como linha auxiliar de Rússia e China no cenário global.”

Desconexão

Para Vitelio Brustolin, professor na Universidade Columbia e na Universidade Federal Fluminense (UFF), o artigo publicado por Lula expõe um “diagnóstico legítimo sobre a crise do sistema internacional, mas revela uma profunda desconexão entre discurso e prática” do presidente brasileiro.

Para Pedro Brites, professor de relações internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o tom adotado pelo artigo é passível de críticas, mas buscou mediar acenos ao Sul Global e ao Norte Global, em uma “tentativa de calcular perdas e danos”. “Há uma tentativa de ‘temperar’, dando alguns acenos para o Norte Global, como a defesa do multilateralismo e do livre-comércio, mas também dando sinais para o Sul Global, à medida que não é tão direto na crítica à Rússia.”

Já Rubens Barbosa, ex-embaixador do Brasil no Reino Unido e nos EUA, o texto reflete a política externa brasileira e vai ao encontro dos esforços empreendidos por Lula em reuniões como o G-20 e a cúpula do Brics. O ex-embaixador diz também que o artigo propõe “uma reflexão importante” sobre a ordem global atual. Com informações de O Estado de S. Paulo.

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