Sexta-feira, 26 de dezembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 26 de dezembro de 2025
O governo do Japão aprovou nesta sexta-feira (26) um plano recorde de orçamento de defesa que supera 9 trilhões de ienes (R$ 318 bilhões) para o próximo ano. O objetivo é reforçar a sua capacidade de contra-ataque e a defesa costeira com mísseis de cruzeiro e arsenais não tripulados, em meio ao aumento das tensões na região.
O orçamento preliminar para o ano fiscal de 2026, que começará em abril, representa um aumento de 9,4% em relação a 2025 e marca o quarto ano do programa quinquenal do Japão para dobrar os gastos anuais com armamentos para 2% do PIB (Produto Interno Bruto).
O aumento ocorre enquanto o Japão enfrenta tensões elevadas com a China. A primeira-ministra japonesa, Sanae Takaichi, afirmou em novembro que as Forças Armadas do país poderiam se envolver caso a China tomasse alguma medida contra Taiwan.
Sob pressão dos Estados Unidos por um aumento militar, o governo de Takaichi prometeu atingir a meta de 2% até março, dois anos antes do previsto. O Japão também planeja revisar a política de segurança e defesa em vigor até dezembro de 2026 para fortalecer ainda mais suas Forças Armadas.
O Japão vem ampliando sua capacidade ofensiva com mísseis de longo alcance para atacar alvos inimigos à distância, uma ruptura significativa com o princípio do pós-Segunda Guerra Mundial que limitava o uso da força à autodefesa.
A atual estratégia de segurança, adotada em 2022, classifica a China como o maior desafio estratégico do país e defende um papel mais ofensivo das Forças de Autodefesa do Japão no âmbito da aliança de segurança com os EUA.
O novo plano orçamentário destina mais de 970 bilhões de ienes (US$ 6,2 bilhões) para reforçar a capacidade de mísseis de “standoff” (ataque a distância). Isso inclui a compra, no valor de 177 bilhões de ienes (US$ 1,13 bilhão), de mísseis antinavio Type-12, desenvolvidos e modernizados no país, com alcance de cerca de 1.000 quilômetros.
O primeiro lote dos mísseis Type-12 será implantado na província de Kumamoto, no Sudoeste do Japão, até março — um ano antes do planejado —, à medida que o Japão acelera o reforço de mísseis na região.
Em parte devido ao envelhecimento e à queda da população, além das dificuldades para manter as Forças Armadas com efetivo suficiente, o governo considera os armamentos não tripulados essenciais.
Para defender as costas, o Japão gastará 100 bilhões de ienes (US$ 640 milhões) para implantar um número “massivo” de drones aéreos, de superfície marítima e subaquáticos, destinados à vigilância e defesa, dentro de um sistema chamado SHIELD, previsto para março de 2028, segundo autoridades do Ministério da Defesa.
Para acelerar a implantação, o Japão planeja inicialmente depender principalmente de importações, possivelmente da Turquia ou de Israel.
Tensões com a China aumentam
O anúncio do orçamento ocorre enquanto a disputa do Japão com a China se intensifica após a declaração de Takaichi de que os militares japoneses poderiam se envolver caso a China agisse contra Taiwan, ilha autogovernada que Pequim reivindica como sua.
A discordância se agravou neste mês quando exercícios de porta-aviões chineses perto do Sudoeste do Japão levaram Tóquio a protestar depois que aeronaves chinesas travaram seus radares em aviões japoneses — o que é considerado uma possível preparação para disparo de mísseis.
O Ministério da Defesa, já alarmado com a rápida expansão das operações chinesas no Pacífico, abrirá um novo escritório dedicado a estudar operações, equipamentos e outras necessidades para o Japão lidar com a atividade chinesa na região.
Dois porta-aviões chineses foram avistados em junho operando quase simultaneamente perto da ilha japonesa de Iwo Jima, no Sul do país, pela primeira vez, alimentando a preocupação de Tóquio com a rápida expansão da atividade militar de Pequim muito além de suas fronteiras e das áreas em torno das ilhas disputadas no Mar da China Oriental.