Segunda-feira, 14 de julho de 2025

Embalado pela defesa da taxaçao dos ricos em benefício dos mais pobres, após o tarifaço de Trump, Lula ganhou fôlego no momento em que baixa popularidade ainda é um entrave

Embalado pela defesa da taxação dos ricos em benefício dos mais pobres e da “soberania”, após o tarifaço anunciado pelo presidente dos EUA, Donald Trump, o governo Lula encontrou um discurso com viés eleitoral e ganhou fôlego no momento em que a baixa popularidade ainda é um entrave e preocupa aliados sob o ponto de vista da reeleição.

Parlamentares próximos ao Palácio do Planalto, no entanto, já manifestaram incômodo com a limitação da estratégia. Para esse grupo, o Executivo deveria ampliar o leque de ações e mirar em temas que possam agregar apoios, o que, de acordo com essa visão, fica prejudicado com o acirramento da tática do “nós contra eles”.

O plano governista está em curso desde a derrota no Congresso com a derrubada do decreto que aumentava o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e foi turbinado na semana passada, após Trump enviar a Lula uma carta anunciando uma sobretaxa de 50% aos produtos nacionais, defendendo o ex-presidente Jair Bolsonaro, réu por tentativa de golpe de Estado, e criticando o Judiciário brasileiro.

Nas redes sociais, seara em que frequentemente são derrotados pela oposição, os governistas desta vez foram mais eficazes e superaram os adversários no embate sobre o tarifaço, segundo a consultoria Arquimedes. Simpatizantes de Lula replicaram o tom usado pelo presidente e focaram na “soberania nacional” em reação à ofensiva trumpista. O perfil oficial do governo, por sua vez, lançou uma campanha: “Brasil com S de Soberania”.

“O governo saiu das cordas e está conseguindo unificar o país com o compromisso pela soberania e com setores da economia que exportam e serão prejudicados. Isso consolidou um caminho para retomar a credibilidade”, avalia o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE).

A análise é compartilhada pelo Palácio do Planalto, mas auxiliares acreditam que o governo poderia ter mais impulso nas redes se Lula gravasse vídeos focados em usuários das plataformas, como fez poucas vezes desde que voltou à Presidência, há dois anos e meio. A estratégia foi conceder entrevistas a emissoras de televisão e redistribuir o conteúdo no ambiente digital.

Um dos eixos da comunicação é rivalizar com Bolsonaro e tentar colar no opositor a imagem de alguém que está atuando contra os interesses do país — a tática também foi aplicada contra o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que se viu obrigado a ajustar o discurso em meio à crise. Lula fez vinculações diretas entre o ex-presidente e o tarifaço e chegou a dizer que o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que está nos Estados Unidos, foi “fazer a cabeça” de Trump.

Respiro

Antes de a crise com os EUA escalar, uma campanha anterior já havia fornecido um respiro ao Executivo: a taxação da parcela mais rica da população. Nesse tema, o governo também conseguiu uma vitória com a apresentação, pelo deputado Arthur Lira (PP-AL), do texto que isenta de Imposto de Renda quem recebe até R$ 5 mil por mês e taxa em 10% quem ganha mais de R$ 100 mil mensais.

“O debate político saiu das generalidades, encontrou um foco e conseguimos furar a bolha. Houve um freio à oposição e foi aberto um espaço para que o governo tenha uma adesão mais ampla da sociedade”, diz o líder do PT no Senado, Rogério Carvalho (SE).

O cerne dessa estratégia digital nasceu fora do governo, entre dirigentes petistas, e foi absorvido pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom) num momento em que se discutia a troca do slogan institucional, abandonando a ideia de reconstrução do país e adotando a justiça social. Peças publicitárias sobre bancos, casas de apostas e grandes fortunas passaram a circular, algumas de forma espontânea, em perfis de apoiadores. Com o passar dos dias, o Planalto abraçou o assunto.

O método, no entanto, não convenceu todos os aliados. Em uma reunião com a bancada do PT na Câmara, a ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, ouviu de deputados a preocupação com o acirramento do discurso. Ela defendeu o enfrentamento, mas teve de lidar com a percepção de que o governo ainda não apresentou uma “saída política” para a tensão, especialmente com o Congresso no caso do IOF. A inquietação é que o discurso que opõe ricos e pobres tenha efeitos colaterais e estreite o caminho eleitoral de Lula. (Com informações do jornal O Globo)

Compartilhe esta notícia:

Voltar Todas de Política

Aliados de Bolsonaro “batem cabeça” sobre o culpado do tarifaço de Trump sobre produtos brasileiros; entenda
Líder do PT na Câmara dos Deputados pede ao Supremo investigação contra Tarcísio de Freitas por obstrução de Justiça
Pode te interessar
Baixe o app da TV Pampa App Store Google Play