Quinta-feira, 16 de outubro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 7 de outubro de 2023
Antes de pedir recuperação judicial, a empresa 123 Milhas operava no vermelho há, pelo menos, quatro anos. Com auxílio da Polícia Federal, a CPI das Pirâmides Financeiras, da Câmara dos Deputados, investigou a empresa. O relator, deputado Ricardo Silva, do PSD, avalia que não há dúvidas de que a 123 Milhas funcionou como uma pirâmide financeira, em que as passagens de clientes mais antigos eram pagas com o dinheiro arrecadado pelas novas compras.
Em agosto, clientes da 123 Milhas fizeram fila na sede da 123 Milhas em Belo Horizonte, em postos da Defensoria Pública e em aeroportos. Em crise financeira, a agência suspendeu a emissão de bilhetes de viagens e de hotéis de uma linha promocional, em que os clientes compravam um pacote, mas não escolhiam a data exata e nem o horário do voo. Resultado: milhares de clientes pagaram, mas não puderam viajar.
O relatório da Polícia Federal mostrou que a 123 Milhas vendia “hoje” para pagar “amanhã”, apostando em preços que não estavam sob o seu arbítrio e escolha. O relator argumenta, ainda, que a empresa vendia viagens para dois ou três anos à frente, datas em que as companhias áreas sequer haviam começado a oferecer passagens. Um dos sócios, Ramiro Madureira, prestou depoimento à CPI em setembro.
“Paris, ida e volta, R$ 969. Roma, R$ 912. Como o senhor explica isso?”, questionou o deputado Ricardo Silva, do PSD-SP.
“Gostaria de voltar aqui, novamente, nas premissas dessa linha promocional que seria, primeiro: o momento correto de emissão da passagem que a gente conseguiria um preço mais barato. Essa é a um. Premissa dois: a redução do marketing da empresa ajudaria a custear essa diferença para essa linha promocional. Terceiro: várias pessoas acessando a 123 Milhas com essas promoções trouxeram outras receitas adicionais e marginais”, respondeu Ramiro Madureira, sócio da 123 Milhas, na ocasião.
Relatório
A Polícia Federal analisou onze contas bancárias da empresa. De janeiro de 2019 a agosto de 2023, as operações financeiras das contas somam R$ 46 bilhões. No relatório, a PF concluiu que há indícios substanciais de inviabilidade econômica na atividade da 123 Milhas, visto que opera com saldo negativo desde, ao menos, o ano de 2019; e de que não há capital de giro no caixa para honrar os compromissos assumidos sem que haja contínua assunção de novos compromissos, de modo que o colapso, dadas as mesmas circunstâncias, seria inexorável.
O relator da CPI deve entregar o parecer nesta segunda-feira (9).
“Nós ainda estamos fechando o relatório da CPI, mas crimes graves envolvidos e que lesaram milhares e milhares de brasileiros e brasileiras que sonhavam com a viagem, que sonhavam em fazer aquele pacote que compraram, mas na verdade compraram fumaça, compraram nada que eles venderam e as pessoas ficaram no prejuízo”, diz o relator da CPI, deputado Ricardo Silva.
A empresa está sendo investigada pelo Ministério Público e pela Polícia Civil de Minas Gerais. A MP também entrou com uma ação civil pública para que os consumidores sejam ressarcidos pelos prejuízos.
A 123 Milhas nega ter atuado como pirâmide financeira e a acusação de ter criado a linha promocional por necessidade de caixa. A empresa afirma que sempre teve crédito e boa relação com as instituições financeiras, sem empréstimos atípicos para suas operações.
A empresa declara ainda que realizou mais de 18 milhões de embarques em 14 anos e que os gestores estão cooperando com as autoridades na construção de um plano de recuperação para cumprir os compromissos com credores e retomar as atividades.