Sábado, 08 de novembro de 2025

Empresário Mauro Hoffmann diz que do pouco mais de um ano em que atuou como sócio na Boate Kiss seu papel foi apenas de investidor

Mauro Londero Hoffmann foi o terceiro réu interrogado no júri do caso Kiss nesta quinta-feira (09), nono dia de julgamento no Foro Central de Porto Alegre.

O empresário informou que, do pouco mais de 1 ano em que atuou efetivamente como sócio de Elissandro Callegaro Spohr (Kiko) na Boate Kiss, seu papel foi apenas de investidor. Kiko era o sócio administrador e quem tomava todas as decisões. “Ele era o Kiko da Kiss. A minha mãe não sabia que eu era sócio da Kiss. Eu não me sentia dono, eu era sócio”.

Mauro ressaltou que condicionou a Kiko ingressar na sociedade apenas se a documentação da casa noturna estivesse em dia. E que aguardou a conclusão da reforma que tinha por objetivo resolver o vazamento acústico (objeto do Termo de Ajustamento de Conduta firmado com o Ministério Público) para entrar de fato no negócio. Isso ocorreu em 16 de dezembro de 2011.

Sociedade

Mauro também era proprietário de um restaurante e de uma lancheria. A Boate Kiss surge na noite santamariense em 2009. Elissandro Callegaro Spohr também era músico e tocava na Absinto. Era um jovem comunicativo. Quando Kiko assumiu o comando da Kiss, a boate passa a fazer sucesso.

Nessa época, Mauro teve um problema com o local onde a Absinto funcionava e surgiram propostas dele se associar à Kiss e à Ballare (outra boate concorrente). “Optei pela Kiss, pela parte estrutural, mas, principalmente, porque eu não tinha tempo para nada. E lá eu não precisaria me envolver. Kiko seria o sócio administrador”.

De acordo com Mauro, Kiko pediu R$ 200 mil para colocar as contas em dia, pagos em parcelas em dinheiro e por meio de negociação com fornecedores. Isso era setembro de 2011. Ele disse que exigiu a regularização da documentação da casa noturna. “Não tinha alvará de bombeiros, mas Kiko disse que estava por vir”.

A licença veio no final de agosto daquele ano. “Não foi pela parte financeira, mas como medida de segurança. Se me tiram da Absinto, eu preciso sustentar a minha família”, explicou o empresário sobre os motivos que o levaram a investir em outra casa noturna. Mauro disse que tinha planos de construir, no futuro, uma nova estrutura para a Absinto e que já havia adquirido o terreno.

Ele costumava ir na Kiss nas quintas-feiras. Semanalmente se reunia com Kiko e Ângela Spohr (uma das gerentes da casa) sobre demandas de ordem financeira do estabelecimento.

“Todo e qualquer fato administrativo da boate eu não fazia parte. Eu não tinha nem a chave da Boate Kiss”. Havia um grupo de trabalho formado por dirigentes e funcionários, no Facebook, e Mauro não fazia parte. O investimento rendia em torno de R$ 15 mil mensais a ele.

Acústica

Kiko informou ao novo sócio que o problema de vazamento acústico estava com o Ministério Público. Isso fez com que Mauro quisesse abrir mão da sociedade. “Teve uma noite em que eu saí de casa e o Kiko estava com os funcionários em casa, comendo churrasco. A ideia era desfazer o negócio”. Elissandro disse que não tinha dinheiro para devolver, mas que o pai poderia auxiliar financeiramente.

Kiko pediu uma chance e deu garantia de que resolveria a questão com a ajuda do Engenheiro Samir. “Fiquei acompanhando de longe. Não paguei mais nada nesse tempo, até dia 22 de novembro, quando eles assinam o TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) com o MP. Eu entro na boate mesmo em 16 de dezembro de 2011. Fiquei lá pouco mais de 1 ano”.

Ele negou a afirmação de uma testemunha, que disse que ele ajudou a carregar sacos de cimento na reforma da Kiss. Mauro também informou que, na Absinto, não havia espuma porque o estabelecimento estava localizado no subsolo de um shopping. “Não tínhamos problemas com acústica”. E que ele não foi comunicado da aplicação do produto na Kiss.

Pirotecnia

A banda Gurizada Fandangueira já tocou na Absinto Hall. Mas, de acordo com o relato do réu, “nunca constou em contrato nenhum que a banda fazia uso de fogos de artifício”. Falou sobre algumas regras que a casa tinha durante as apresentações musicais, como não tocar hino de time de futebol, e que não fazer uso desses recursos também era uma dessas condições.

27 de janeiro

Quando soube do incêndio, Mauro correu para a boate. Os táxis estacionados em frente atrapalharam a saída, na avaliação do empresário, mas eles também ajudaram no transporte das vítimas. Esse pode ter sido o motivo de tantas vítimas fatais encontradas nos banheiros. “Porque não conseguiam sair”.

“Era cena de horror”, definiu. “As pessoas ainda saíam vivas de lá. Pouco tempo depois, a gente tomou a proporção (da gravidade dos fatos)”. Mauro lembra que ficou no local até por volta das 5 horas de domingo e que se apresentou na Delegacia de Polícia posteriormente.

Empreendedor

Formado em Administração de Empresas, Mauro Londero Hoffmann tem 56 anos, é casado e tem duas filhas. Ao falar sobre a sua trajetória como empresário, disse que entrou no ramo do entretenimento noturno ainda muito jovem, com um amigo, “por acaso”. Depois disso, teve vários tipos de negócios. O retorno para as casas noturnas foi em 1999, a Absinto.

Mauro teve os bens bloqueados e encerrou os negócios. “Tive que fugir com a minha família, pois, nas redes sociais, diziam que iam queimar a nossa casa”. De acordo com o empresário, até funcionários seus foram ameaçados. “Sempre tive vontade de ajudar [as famílias]. Aqui só temos perdedor. Ninguém ganhou nada”.

“A sociedade não apoiou os pais. Deram um falso apoio a eles. Santa Maria buscou se desenvolver e considerava os pais um ‘calo’”, criticou Mauro. “Acreditei nos órgãos públicos. Só entrei no negócio porque o Ministério Público autorizou a boate a funcionar. A fé pública de um TAC de um Promotor me fez entrar nisso”, afirmou o empresário, que ficou preso por 4 meses. “Eu quero pedir perdão. Ninguém queria isso. Sou forte, vou recomeçar a minha vida”.

Mauro citou um áudio onde o Promotor de Justiça de Santa Maria teria afirmado que não havia provas contra o empresário. “Esse júri provavelmente não iria acontecer se esse áudio fosse liberado”, acusou.

 

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