Sábado, 12 de outubro de 2024

Empresários brasileiros veem ameaças do candidato direitista à presidência da Argentina de não negociar com o nosso País, caso seja eleito, como retórica de campanha

A indústria brasileira acompanha com atenção as eleições na Argentina, cujo primeiro turno acontece neste domingo (22), confiando que o comércio entre os dois maiores sócios do Mercosul estará protegido de potenciais atritos políticos se o pleito terminar com a vitória do candidato libertário, Javier Milei. A avaliação é de que a dependência mútua, dada a integração produtiva entre os países, impedirá um esfriamento nas trocas de produtos por questões políticas.

A referência dos industriais é recente. Nos últimos três anos, de 2020 a 2022, o Brasil, com o ex-presidente Jair Bolsonaro, e a Argentina, com o atual presidente, o peronista Alberto Fernández, tiveram governos de linhas políticas antagônicas, e mesmo assim as exportações da indústria de transformação para lá subiram mais de 50% no período.

As multinacionais têm operações complementares dos dois lados da fronteira. Itens não produzidos em um país são fornecidos pelo outro, sejam produtos acabados, sejam componentes.

Assim, mesmo que a diplomacia presidencial seja importante ao andamento da agenda bilateral, o comércio é, no dia a dia, mais ditado pelas condições econômicas na região do que propriamente pelas orientações políticas dos governos. “Quem vencer as eleições vai ter de pensar no país, e os argentinos não têm alternativa. Podem namorar os americanos, mas vão se casar com os brasileiros”, comenta Synésio Batista da Costa, presidente da Abrinq, a entidade que representa os fabricantes de brinquedos.

Falta de dólares

Há anos, o maior obstáculo no intercâmbio comercial entre os parceiros sul-americanos é a escassez de dólares no país vizinho, que leva a atrasos na entrada de produtos brasileiros na Argentina. A afinidade entre Fernández e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva resultou em acordos de financiamento do comércio com a Argentina, porém, não impediu que as restrições do outro lado da fronteira continuassem piorando, inclusive com a criação de um imposto sobre operações de câmbio para pagamento de importações.

Para representantes industriais, a Argentina buscará, no mínimo, preservar esse fluxo, desde que as ameaças de Milei de não negociar com Brasil e China, além de Rússia, sejam, como acreditam os empresários brasileiros, apenas retórica de campanha.

“Tivemos o governo mais liberal do Macri (Mauricio Macri, antecessor de Fernández), outros mais protecionistas, e não foi isso que prejudicou ou fez o comércio com a Argentina melhorar. O que está prejudicando não é a questão ideológica, mas, sim, econômica, principalmente a dificuldade de divisas na Argentina”, observa José Velloso, presidente executivo da Abimaq, a associação dos fabricantes de máquinas e equipamentos.

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