Quarta-feira, 01 de maio de 2024

Empresas dos Estados Unidos lucram bilhões com a guerra na Faixa de Gaza

Em meio à devastação da guerra em Gaza, suas mais de 34 mil vidas perdidas, quase 80 mil feridos, 8 mil desaparecidos e centenas de milhares de deslocados, além dos riscos de uma crise generalizada no Oriente Médio, o setor de defesa vê o conflito como mais uma chance de lucro em um momento que já era considerado “de ouro”.

Com guerras como a da Ucrânia, que demanda uma quantidade de equipamentos poucas vezes vista na história recente, as empresas dos EUA — incluindo a General Dynamics — venderam o equivalente a US$ 238 bilhões (R$ 1,22 trilhão) em equipamentos militares, desde munições até aeronaves, sendo que US$ 80,9 bilhões (R$ 414,8 bilhões) em vendas através do governo americano.

“Armar a Ucrânia, incitar o medo da China, agora a ajuda a Israel, essas empresas agora estão fazendo dinheiro de todas as formas, e elas têm planos para expandir a base de produção de armas”, explicou William Hartung, especialista em segurança nacional no Instituto Quincy e autor de uma série de livros sobre o complexo industrial-militar dos EUA. Ele acrescenta que “todas essas são coisas que a indústria queria há anos, e que agora parecem estar caindo no colo delas”.

Neste contexto, o caso israelense merece um capítulo à parte. O país é o maior receptor acumulado de ajuda americana — financeira e militar — com um número estimado em US$ 300 bilhões (R$ 1,538 trilhão, ajustados pela inflação) desde sua fundação, em 1948. Do total, US$ 216 bilhões (R$ 1,11 trilhão) na forma de ajuda militar, cujos envios variaram de acordo com o período histórico. Em 1979, quando a Guerra do Líbano ganhava corpo no país vizinho, o valor chegou a US$ 13,2 bilhões (R$ 67,68 bilhões), número similar a um pacote defendido atualmente por Joe Biden no Congresso. Em 2000, quando estourou a Segunda Intifada, foi de US$ 4,6 bilhões (R$ 23,59 bilhões).

O volume atual de ajuda foi estabelecido no último ano do mandato do presidente Barack Obama, e estipulou o valor de US$ 38 bilhões (R$ 194,84 bilhões), distribuídos ao longo dos 10 anos seguintes, sendo que US$ 3,3 bilhões (R$ 16,92 bilhões) em equipamentos militares e US$ 5 bilhões (R$ 25,64 bilhões) destinados a sistemas de defesa aérea, como o Domo de Ferro. Na prática, se trata de um dinheiro que deverá ser usado, em sua maior parte, na compra de equipamentos militares americanos, gerando lucros…para empresas americanas.

Vendas “sigilosas”

Um exemplo conhecido é o dos caças F-35, produzidos pela Lockheed-Martin, aeronave com custo estimado de US$ 77,9 milhões (R$ 399,42 milhões)— a ordem inicial foi de 50 aviões, sendo que 39 foram entregues. No final de março, o governo Biden autorizou a venda de mais 25 aeronaves, em uma operação estimada em US$ 2,5 bilhões (R$ 12,82 bilhões). A transação foi realizada sem alarde, e não precisou ser notificada ao Congresso, como requer a legislação, porque já havia sido autorizada em 2008 pelo Legislativo. Em 2023, o lucro líquido da Lockheed-Martin foi de US$ 6,9 bilhões (R$ 35,38 bilhões).

Essa não foi a única venda “sigilosa” dos EUA. Conforme revelou o Washington Post, em março, a Casa Branca e o Departamento de Estado vêm utilizando brechas legais para continuar fornecendo armas a Israel, incluindo algumas usadas em bombardeios. É o caso, por exemplo, da bomba MK84, produzida pela General Dynamics a um custo individual de US$ 16 mil (R$ 82 mil): com peso de 900 kg, ela foi ligada a ataques que deixaram dezenas de mortos em Gaza desde o ano passado, e as ordens mais recentes da Casa Branca liberaram a venda de 1.800 unidades a Israel. No ano passado, General Dynamics lucrou US$ 3,3 bilhões (R$ 16,92 bilhões).

Segundo levantamento da organização American Friends Service Committee, cerca de 50 empresas de vários países além dos EUA, incluindo Israel, lucraram com a guerra em Gaza, desde o fornecimento de uniformes e coletes até bombas guiadas por satélite.

Mas o “negócio” bilionário e próspero das empresas de defesa começou a ser questionado, ao menos no caso de Israel, em meio à morte de dezenas de milhares de pessoas e às imagens de destruição absoluta — o ataque com um drone (que não teria tecnologia americana, mas sim britânica) contra trabalhadores humanitários da ONG World Central Kitchen, que matou sete deles, soou como uma gota d’água, e agora dezenas de parlamentares aliados de Biden defendem um cessar-fogo e questionam as vendas.

 

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