Domingo, 05 de outubro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 5 de outubro de 2025
Israel reformulou o Oriente Médio à sua maneira em dois anos de guerra contra o Hamas. Se no dia 7 de outubro de 2023, o país sofreu o maior ataque terrorista de sua história, hoje a realidade é diferente. O Hamas não apresenta a mesma ameaça, o Hezbollah está enfraquecido, o Irã está calado depois da guerra dos 12 dias, em junho, e há otimismo sobre a implementação de plano de paz proposto pelos Estados Unidos.
O novo momento colocou Israel como uma potência regional, capaz de atingir alvos em qualquer lugar, sem as travas que limitavam sua atuação no passado. O poder quase sem limites foi comprovado no Irã, quando um general morreu em um bombardeio certeiro que atingiu seu quarto, na Síria, onde ataques atingiram o Ministério da Defesa e áreas próximas ao palácio presidencial, e mais no Catar, que abriga o escritório político do Hamas e é um importante aliado dos Estados Unidos.
O status israelense aumentou os temores de que Tel-Aviv estaria se tornando a força hegemônica do Oriente Médio e poderia ameaçar a segurança das nações do Golfo, incluindo países que têm relações diplomáticas com Israel, e vizinhos de fronteira que têm um longo vínculo de paz.
Mudança
“Os ataques de 7 de outubro levaram Israel a um realinhamento estratégico significativo”, aponta David Roberts, professor de Relações Internacionais da King’s College, em Londres. “Israel tentou avançar em manobras que afetaram países vizinhos, como o Líbano, e também mais distantes, como Catar e Irã. Estamos vivendo uma nova era.”
Mas o contexto atual aumentou o isolamento de Israel na arena internacional e dificultou ainda mais a possibilidade de ampliar a aliança criada pelos Acordos de Abraão, em 2021, quando Emirados Árabes, Bahrein, Sudão e Marrocos normalizaram as relações com Tel-Aviv.
O desconforto dos países do Oriente Médio em relação a Israel ficou mais forte após o bombardeio ao escritório do Hamas em Doha, no Catar, em 9 de setembro. Tel-Aviv alega que atacou porque o país permite que terroristas vivam em seu território. O Catar serve como mediador, ao lado do Egito, de todas as negociações envolvendo o Hamas e abriga o escritório político do grupo a pedido dos EUA.
O ataque foi considerado sem precedentes e inaceitável pelo Catar, que exigiu um pedido de desculpas. Desde os bombardeios, os governos de países do Golfo, Jordânia, Egito e Turquia passaram a temer que seus territórios possam ser atacados também.
Domínio
“Existe uma grande preocupação entre os países do Golfo e a Turquia de que Israel queira ser um hegemonia regional”, avalia Douglas Siliman, presidente do Instituto dos Estados Árabes do Golfo, com sede em Washington, e ex-embaixador dos EUA no Iraque e no Kuwait. “Israel removeu as restrições que havia imposto anteriormente sobre a condução de ataques militares na região e se tornou o principal fator de desestabilização no Oriente Médio, ao lado do Irã.”
Duas semanas depois dos ataques em Doha, a Arábia Saudita assinou um pacto de defesa mútua com o Paquistão, país que tem armas nucleares. O tratado marca a primeira decisão de defesa importante por um país árabe do Golfo desde o bombardeio e manda um sinal para o resto da região. Outros acordos do tipo estão sendo avaliados, incluindo um plano de criar uma “Otan do Oriente Médio”.
Relação com os EUA
Os questionamentos dos países do Oriente Médio em relação a sua própria segurança poderiam prejudicar as relações dos EUA com as nações árabes. Washington tem vínculo econômica e militar com o Golfo, o que não impediu o ataque ao Catar.
O temor causado pelos israelenses pode limitar a relação de Tel-Aviv com os EUA. Segundo pesquisas, o apoio a Israel entre americanos tem diminuído, e os bombardeios no Catar e na Síria prejudicaram os esforços de Trump para estabelecer a paz.
Entre os membros da cúpula trumpista, as reclamações sobre o envio de ajuda militar e econômica para Israel estão aumentando. Washington já enviou mais de US$ 300 bilhões a Tel-Aviv desde 1948. Um acordo de assistência militar que se encerra em 2028 prevê mais US$ 3,8 bilhões por ano aos israelenses. Líderes de Israel temem que Trump queira renegociar o acordo. Com informações de O Estado de S. Paulo