Terça-feira, 30 de dezembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 29 de dezembro de 2025
Dá para dizer que a Ilha de Páscoa fica no meio do nada, mas, na verdade. Ela é até menos central do que isso. Um ponto na imensidão vazia do Pacífico Sul, a ilha de Rapa Nui fica a 1,3 mil quilômetros da vizinhança habitada mais próxima e a 2,2 mil quilômetros da costa do Chile.
Por séculos, especialistas tentam decifrar os moais, as figuras de pedra monolítica que representam ancestrais deificados. Entre os anos de 1200 e 1700, as estátuas foram talhadas em uma pedreira dentro da cratera do extinto vulcão Rano Raraku e, então, transportadas por até 18 quilômetros em terreno acidentado. Algumas delas alcançam dez metros de altura e pesam até 86 toneladas.
Aproximadamente 950 moais já foram descobertos na ilha. A grande maioria está voltada para a terra, de costas para o oceano, como a guardar os vilarejos. Mas sete das estátuas voltadas para o Oriente estão posicionadas de forma a encarar o por do sol durante o equinócio — fenômeno astronômico que ocorre duas vezes por ano, durante o qual os raios solares incidem diretamente sobre o Equador da Terra.
Esse posicionamento sugere que o local pode ter sido usado como observatório astronômico no passado. Cerca de 400 moais ainda estão na pedreira e 62 se encontram deitados no espaço entre a pedreira e as plataformas cerimoniais ao longo da costa. Todos esses números são intensamente debatidos, bem como a questão: os 62 moais foram abandonados em trânsito ou propositalmente deixados naqueles lugares?
Em um recente estudo publicado na revista científica The Journal of Archeological Science, Carl Lipo, da Universidade de Binghamton, e Terry Hunt, da Universidade do Arizona (EUA), demonstraram uma técnica plausível para explicar como as estátuas foram deslocadas pela ilha.
Há 14 anos, uma equipe de 18 pessoas moveu, na vertical, uma réplica de concreto de 4,35 toneladas por uma distância de cem metros em 40 minutos. Para isso, o grupo prendeu cordas à cabeça da escultura, fazendo com que ela balançasse, transferindo seu peso de um lado para o outro a cada puxão e avançando gradualmente para frente.
Esse experimento suscitou questionamentos sobre as hipóteses para o transporte das estátuas e reforçou as propostas no livro de Lipo e Hunt de 2011, The Statues That Walked: Unraveling the Mystery of Easter Island (As estátuas que andaram: desvendando o mistério da Ilha de Páscoa, em tradução livre).
O estudo apontou que as estátuas de estrada —descobertas ao longo do que alguns pesquisadores dizem acreditar serem os antigos caminhos de transporte — compartilhavam características de design distintas. Essas características incluíam bases largas em forma de D e posturas inclinadas para frente, que são fisicamente otimizadas para balançar as esculturas gigantes, segundo os pesquisadores.
Os autores do novo artigo propuseram que danos como fraturas laterais poderiam ser o resultado de quedas sofridas pelas esculturas durante essas “caminhadas”, e que o design côncavo e orientador das estradas ajudava a mantê-las oscilantes no percurso.
Segundo Lipo, o constante balanço e deslocamento das estátuas ao longo do tempo desgastou e contornou os caminhos. “Cada vez que os rapanui moviam uma estátua, parece que eles faziam uma estrada”, disse ele. “A estrada era parte do processo de mover a estátua.”
No novo estudo, os pesquisadores apresentam seu trabalho como “uma reivindicação da arqueologia experimental e um estudo de caso da resistência científica à mudança de paradigma.” Mas a pesquisa é alvo de críticas.
Nicolas Cauwe, curador de coleções pré-históricas e oceânicas dos Museus Reais de Arte e História em Bruxelas (Bélgica) e autor de Easter Island: The Great Taboo (Ilha de Páscoa: o grande tabu, em tradução livre), afirmou que Lipo e Hunt podem ter interpretado evidências de forma errônea.
Cerca de metade das estátuas descobertas ao longo dos caminhos está intacta, e mesmo as quebradas têm fragmentos próximos. Isso, de acordo com Cauwe, sugere que elas racharam enquanto estavam deitadas, em vez de cair durante o transporte.
Na opinião dele, os sulcos estreitos causados pela erosão da água da chuva indicam que as estátuas permaneceram em pé ao longo das trilhas por um período prolongado —potencialmente décadas ou possivelmente mais de um século.
Ele também observou que o estilo das estátuas das estradas se assemelhava mais àquelas encontradas nas encostas do vulcão do que às erguidas em plataformas cerimoniais.
“Com base nessas características, parece que as estátuas que se encontram ao longo dos antigos caminhos não têm nada a ver com transporte”, afirmou Cauwe. Com informações do portal Estadão.