Segunda-feira, 17 de março de 2025

Entenda como a crise entre Ucrânia e Rússia pode afetar o Brasil

Se a Rússia vier a invadir a Ucrânia como vêm alertando os Estados Unidos e seus aliados, haverá consequências indiretas para países que não estão envolvidos no conflito, mas que têm parcerias comerciais com os russos ou os ucranianos, apontam especialistas. O Brasil seria afetado principalmente por causa da economia, e o impacto mais significativo seria maior pressão sobre a inflação.

O presidente Jair Bolsonaro (PL) está em viagem à Rússia, mas o Brasil é secundário na disputa, diz Fernanda Magnotta, senior fellow do núcleo EUA do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri). A visita oficial do brasileiro nada tem a ver com a crise internacional.

“No entanto, todos os países se afetam de alguma forma. E, de cara, há efeitos econômicos derivados de um conflito: o abastecimento de gás e uma alta de preço de combustíveis, por exemplo, que afetariam de forma muito significativa países como o nosso, onde o preço de combustíveis já tem sido, nos últimos meses, o responsável por pressão inflacionária”, aponta a especialista.

José Márcio Camargo, economista chefe da Opus Investimentos, afirma que no ano passado o petróleo já teve um aumento de mais de 40%, e que, além disso, haveria um choque nos preços de alimentos.

Os principais produtos que o Brasil importa da Rússia são ligados à agricultura, especialmente fertilizantes. Na tabela abaixo, estão os cinco itens que o país mais comprou dos russos em 2021, em valores. Apenas um, hulha betuminosa (um tipo de carvão mineral), não é usado no solo para preparação para o plantio.

Magnotta afirma que o Brasil é muito dependente da Rússia em relação a esses insumos, e uma operação militar na Europa teria efeito direto em relação ao abastecimento de adubo e fertilizantes. “Já há algum desabastecimento em geral na economia por causa da pandemia, e no contexto de guerra isso seria agravado”, aponta.

Política externa

O Brasil pleiteou o apoio dos Estados Unidos para se tornar um membro extra-regional da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). No conflito, o governo russo pede o fim da política expansionista da Otan e que a organização se comprometa a não instalar armas de ataque perto de suas fronteiras.

Caso houvesse um conflito militar, o país seria cobrado pelas potências em relação ao seu posicionamento — ou seja, seria forçado a assumir um lado.

“Isso implica tomar decisões em relação a quem desagradar: de um lado o Brasil é parte da aliança ocidental e há a tentativa de se chegar a um acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia já há uma longa data, e do outro, a China tem sinalizado uma aproximação com a Rússia”, afirma Magnotta.

Viagem de Bolsonaro

Bolsonaro se encontrou com o líder russo nessa quarta (16).

Em trecho televisionado antes de encontro a portas fechadas com o presidente russo, Vladimir Putin, o brasileiro destacou as relações bilaterais entre Brasil e Rússia, dizendo que a viagem da comitiva a Moscou é um “retrato para o mundo de que podemos crescer muito nas nossas relações”.

“Somos solidários à Rússia. Há muito a colaborar em várias áreas: Defesa, petróleo e gás,  agricultura”, destacou Bolsonaro.

A fala do líder brasileiro, no entanto, não especifica ao que o governo é solidário. O trecho antecede a reunião restrita entre os dois presidentes, que serão acompanhados apenas de seus intérpretes. A crise com a Ucrânia, em meio às tensões de uma possível invasão, não foi o foco do encontro.

Durante a breve fala, o presidente brasileiro também agradeceu Putin por ter concedido indulto no ano passado ao brasileiro Robson Nascimento de Oliveira, que estava preso no país desde fevereiro de 2019. No caso, que envolvia um jogador de futebol que atuava por um clube russo, Robson foi
condenado por contrabando e tentativa de tráfico de drogas por ter levado para duas caixas do remédio Mytedom (cloridrato de metadona), que é proibido no país do Leste europeu, mas legal no Brasil.

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