Terça-feira, 01 de julho de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 1 de maio de 2022
Os preços do petróleo e da gasolina têm disparado nos últimos anos, e com isso sobem também os custos da produção e as contas de luz. O aquecimento global avança e os países parecem incapazes de cumprir os objetivos de cortes de emissões. E, como se isso não bastasse, a guerra na Ucrânia evidenciou a vulnerabilidade energética da Europa devido à sua alta dependência do gás russo.
“Chegou a hora de um renascimento nuclear”, disse recentemente o presidente francês Emmanuel Macron. Como Macron — que cinco anos antes havia prometido reduzir em um terço a produção de energia nuclear na França — muitos mudaram sua posição sobre a energia nuclear, muito criticada desde o acidente de Fukushima em 2011.
“Observa-se uma mudança de posição contra a energia atômica em todo o mundo, embora tenha se intensificado no último ano com a alta do preço do gás, e a crise atual foi a gota d’água”, explica o divulgador de ciência e tecnologia nuclear espanhola Alfredo García à BBC News Mundo (serviço em espanhol da BBC).
“Infelizmente, precisou haver uma guerra para nos mostrar que não podemos depender tanto dos combustíveis fósseis”, diz García. Eles geram pelo menos dois terços da energia elétrica e das emissões de gases do efeito estufa no mundo, segundo diferentes estudos de organismos internacionais.
A poluição do ar pela queima de combustíveis fósseis causou 8 milhões de mortes em 2018, 1 em cada 5 mortes em todo o mundo, de acordo com um estudo da Universidade Harvard (EUA). Nas taxas atuais, as emissões devem aumentar 14% nesta década, atrapalhando as metas do Acordo de Paris de 2015 de reduzir o aumento da temperatura global para 1,5°C até o final do século.
A necessidade de um modelo energético que não dependa de combustíveis fósseis se torna cada vez maior. Há duas opções disponíveis: nuclear e renovável. O Greenpeace acredita que é possível fazer a transição para a energia livre de combustíveis fósseis sem uso da energia nuclear. “Adotar um modelo de energia 100% renovável e eficiente é tecnicamente possível, economicamente viável e sustentável”, diz Meritxell Bennasar, chefe de Energia e Mudanças Climáticas do Greenpeace na Espanha.
No entanto, os defensores da energia nuclear questionam se isso é viável: as energias renováveis têm capacidade de geração limitada, exigem grandes quantidades de espaço e materiais e dependem das condições climáticas para alimentar a rede. A substituição por energia nuclear também tem suas dificuldades: construir uma usina nuclear e colocá-la em operação geralmente leva de 5 a 10 anos.
“Mudar um modelo energético não é fácil nem rápido e o processo deve ser gradual. A substituição progressiva exige eletrificar vários setores e assumir um compromisso firme com a energia nuclear e as energias renováveis, trabalhando em equipe. O custo total é difícil de quantificar, mas nós teríamos que realizar o processo em menos de três décadas”, explica García.
Nuclear
As usinas nucleares usam a fissão atômica para produzir energia — ou seja, a divisão de átomos. Ao dividir um átomo pesado — geralmente urânio 235 — nêutrons são produzidos e a energia liberada gera uma reação em cadeia em uma fração de segundo.
Isso libera nêutrons, raios gama e grandes quantidades de energia. O calor intenso é então usado para aumentar a temperatura da água e produzir vapor. Esse vapor então gira as turbinas de um reator, que ativam um gerador para produzir eletricidade e, finalmente, alimentar a rede de eletricidade.
O uso da fusão nuclear para a produção de energia é uma tecnologia que a humanidade ainda não conseguiu dominar. Ela consiste em liberar enormes quantidades de energia através da fusão de núcleos de átomos uns com os outros, algo que é feito através da aceleração dos átomos em alta velocidade. Isso é semelhante à reação que ocorre em estrelas, como o Sol.
A fusão é considerada por muitos como a solução definitiva para a geração de energia futura da humanidade, pois ela não gera resíduos radioativos, não consome recursos valiosos e pode produzir energia quase ilimitada.
Mas recriá-la com sucesso na Terra requer uma tecnologia que ainda está em desenvolvimento.