Segunda-feira, 20 de outubro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 20 de outubro de 2025
Candidato do PDC (Partido Democrata Cristão), o senador Rodrigo Paz foi eleito presidente da Bolívia no domingo (19), informou o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) do país. Ele obteve uma vantagem de cerca de 10 pontos percentuais sobre o seu oponente, Jorge “Tuto” Quiroga, da Alianza Libre.
Paz assumirá o cargo em 8 de novembro. Essa é a primeira vez em 20 anos que um candidato que não é de esquerda vence as eleições presidenciais bolivianas.
O mandatário eleito, de 58 anos, é filho do ex-presidente Jaime Paz Zamora, e ex-prefeito da cidade de Tarija. Ele propõe um “capitalismo para todos” e define o seu projeto político como de “centro”. No seu plano de governo, está previsto o congelamento de atividades de todas as empresas estatais deficitárias e de contratações pelo Estado.
Um dos principais desafios de Paz será lidar com a crise econômica boliviana. Durante a sua campanha presidencial, ele defendeu a descentralização do governo e a promoção do crescimento do setor privado, mantendo os programas sociais.
O novo presidente da Bolívia não terá uma tarefa fácil, principalmente para corrigir os fortes desajustes na economia. No primeiro semestre deste ano, o país teve a primeira recessão em quase quatro décadas, com uma taxa negativa de crescimento de 2,4%.
Com uma produção de gás em declínio — a atividade extrativa geral do país caiu 12,98% no segundo trimestre —, a Bolívia tenta lidar com uma grave escassez de dólares, que impacta fortemente o preço do produto e o abastecimento de combustível, quase todo importado.
Filas quilométricas já são parte do cotidiano dos bolivianos, que viram elas se multiplicarem nos postos de gasolina e diesel no último ano. Motoristas de ônibus e caminhões chegam a passar três dias em filas, à espera de conseguir abastecer.
A falta de combustível gerou, inclusive, temores de problemas logísticos nas eleições de domingo (19).
Mas o governo de Luis Arce (atual presidente) e a estatal YPFB (Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos) se comprometeram com o TSE a garantir o fornecimento necessário para a realização do pleito.
A escassez, porém, atinge vários setores essenciais para o dia a dia dos bolivianos, como a produção de alimentos. No começo da semana, a CAO (Câmara Agropecuária do Oriente), que abrange produtores da região leste do país, afirmou que a falta de combustível paralisou a produção e pediu ao futuro presidente uma solução definitiva para o problema.
A falta de dólares e de combustível também incide em outro problema que castiga os bolivianos: a inflação, que em setembro atingiu 23,32% anuais.
Para a cientista política Lily Peñaranda, independente do grau de capitalismo proposto, o próximo presidente terá que tomar iniciativas “absolutamente impopulares”. “Serão medidas que levarão a um aprofundamento da crise, porque não tem outra saída”, disse em entrevista à CNN.
Segundo ela, o país agora tem uma “estabilidade fictícia” com o atual valor do câmbio oficial — de cerca de sete bolivianos por dólar americano —, sustentado com a queima das poucas reservas internacionais que restam do país.
“Necessariamente, terá que haver uma flexibilização do câmbio e, com a desvalorização da moeda, teremos inflação na cesta básica e no custo de vida. O câmbio flexível também vai encarecer os combustíveis e, com os aumentos de preços, os salários não serão suficientes. É a receita para uma crise social profunda, mas é inevitável, iniludível”, afirmou.