Sexta-feira, 26 de setembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 26 de setembro de 2025
Em um momento crítico para seu governo, o presidente da Argentina, Javier Milei, recebeu um impulso econômico e político de Donald Trump após uma reunião entre os dois em Nova York, nos Estados Unidos.
“Ele tem feito um trabalho fantástico”, disse Trump ao lado do presidente argentino.
Quando repórteres lhe perguntaram se ele iria “resgatar” a economia argentina, Trump respondeu que os argentinos não precisam disso.
“Nós vamos ajudá-los”, disse ele.
Trump se referia à ajuda financeira que seu governo ofereceu à Argentina na última semana por meio de mensagens publicadas pelo secretário do Tesouro, Scott Bessent, no X, pouco antes da abertura do pregão de Wall Street.
O secretário afirmou que os EUA estão prontos para fazer “o que for necessário” para apoiar a Argentina e que “todas as opções estão sobre a mesa”. Em meio a essa situação, muitos se perguntam como a economia argentina se deteriorou tanto — e em apenas alguns meses — a ponto de Trump ajudar Milei.
Esses foram alguns dos motivos:
1. Escassez de dólares: quando Milei assumiu o poder em dezembro de 2023, “ele começou bem”, diz a economista Marina Dal Poggetto, diretora executiva da empresa Eco Go Consultores.
Naquele momento, o Banco Central se concentrou em comprar grandes quantias de dólares e reduzir o déficit fiscal, diminuindo o risco que o país representava para os investidores — e recebendo um voto de confiança dos mercados.
O governo conseguiu obter mais dólares e, em abril deste ano, o FMI garantiu um empréstimo que deu um respiro à economia argentina.
Esse modelo, começou a falhar quando o país começou a ficar sem dólares. O país se comprometeu, entre outras coisas, a refinanciar os vencimentos da dívida pública em moeda local e estrangeira, mas não acumulou dólares suficientes para garantir os pagamentos.
A escassez de dólares levou a uma espécie de aperto monetário com altas taxas de juros que prejudicaram o crescimento econômico.
Nesta semana, o governo argentino anunciou a suspensão das chamadas “retenções de grãos” — os impostos que o governo impõe às exportações agrícolas, com o objetivo de obter recursos em meio às tensões cambiais.
2. Contexto político: as expectativas do mercado eram de que Milei faria ajustes fiscais e acumularia dólares e que seu partido venceria uma série de pleitos até a eleição presidencial de 2027.
Os ajustes fiscais foram feitos, mas as questões do acúmulo de dólares e do apoio dos eleitores parecem estar afetando o governo de Milei. A combinação de derrota eleitoral com recentes escândalos de corrupção não ajudou.
Seu partido perdeu para a oposição peronista nas eleições legislativas na maior região eleitoral do país, a província de Buenos Aires, que o próprio presidente havia dito que seria um teste crucial para sua administração em nível nacional, disparando alarmes sobre a confiança do mercado.
E houve um escândalo de corrupção com a divulgação de gravações de áudio ligando Karina Milei, irmã do presidente Javier Milei, a supostos subornos. Isso teve um impacto significativo.
Além disso, os índices de aprovação de Milei caíram, o que também está deixando os investidores nervosos.
3. Peso supervalorizado: vários economistas concordam que o peso argentino está supervalorizado. Alguns dizem que a moeda está entre 20% e 30% acima do nível normal.
Mauricio Monge, economista sênior para a América Latina da Oxford Economics, disse que essa supervalorização é uma das principais causas da turbulência financeira dos últimos dias.
Como é necessário construir confiança nos mercados e garantir os pagamentos aos detentores de títulos com vencimento nos próximos meses, o economista sustenta que “o que o país realmente precisa é de uma desvalorização cambial”.
Existem diferentes maneiras de fazer isso. Por exemplo, liberalizar completamente a taxa de câmbio, o que “não é o mais aconselhável”, aponta Monge.
Outro caminho é modificar os limites das faixas (teto e piso) dentro das quais a taxa de câmbio se move para cima ou para baixo. Em outras palavras, expandir os limites de movimentação do dólar.
A Argentina precisa gerar um fluxo constante de dólares. No momento, isso não está acontecendo e as exportações não estão crescendo nos níveis esperados.
A ideia seria reduzir as importações e aumentar as exportações para que mais dólares entrem no país.