Domingo, 13 de julho de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 10 de julho de 2025
Luiz Inácio Lula da Silva quer aprofundar os laços comerciais com a Índia, a nação mais populosa do mundo. A questão, enquanto o presidente brasileiro recebeu o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, em Brasília na terça-feira (8), é como fazer isso.
Modi também foi do Rio, onde participou da reunião do Brics no fim de semana, para Brasília, onde foi recebido por Lula numa visita de Estado.
Apesar de ambas as nações integrarem o grupo Brics e serem aliadas naturais em áreas como a redução da pobreza e produção de biocombustíveis, a Índia ocupa um lugar bem aquém na lista de parceiros comerciais do Brasil.
O comércio total é ofuscado pelo mantido com a China, os Estados Unidos, a vizinha Argentina e até a Alemanha. É um descompasso que Lula reconheceu na semana passada, quando brincou que tinha acabado de saber que Modi, um hindu devoto, não comia carne. O Brasil é o maior exportador de proteína animal do mundo.
“Nossa relação comercial é só de US$ 12 bilhões, é nada”, disse Lula em um evento. “Então, por favor, providencie uma caixa de queijo. Eu quero colocar na mesa para ele jamais reclamar da comida brasileira e quem sabe começar a comprar o queijo brasileiro.”
Com as tarifas de Donald Trump que afetam o comércio global, Lula passou meses buscando fortalecer as relações comerciais com mercados além dos parceiros tradicionais. Agora, ele está determinado a destravar uma relação que nunca decolou totalmente, devido a uma série de incompatibilidades e ao fato de que o Brasil e a Índia frequentemente competem na venda de produtos similares.
O comércio acelerou nos últimos anos e dobrou desde que os dois países formaram o bloco BRICS com China, Rússia e África do Sul, mais de uma década atrás. O comércio cresceu 24% nos primeiros cinco meses de 2025 em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com o governo brasileiro.
Gigante agrícola
No entanto, a Índia, com 1,4 bilhão de habitantes, ainda permanece um mercado em grande parte inexplorado para o Brasil. É um gigante agrícola, cujo comércio com a China mais que quadruplicou desde o lançamento do BRICS em 2009, mostram dados oficiais.
O Brasil busca diversificar as exportações para a Índia além do açúcar e do petróleo bruto, que dominam as vendas atuais. No início deste ano, a Embraer — a terceira maior fabricante de aeronaves do mundo — estabeleceu uma subsidiária em Nova Déli, em uma tentativa de ampliar a presença nos setores de defesa e aviação da Índia.
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O Brasil também quer expandir um acordo comercial preferencial que a Índia mantém com o Mercosul.
O país também identificou uma oportunidade no mercado de gergelim, apesar de a Índia ser um dos principais produtores mundiais da semente. As exportações de gergelim cresceram significativamente desde a abertura do mercado indiano para o Brasil em 2020, em parte porque o país do sul da Ásia o importa durante a entressafra para atender à demanda interna e honrar compromissos de exportação.
O Brasil também está de olho na expansão das exportações de etanol, agora que a Índia eleva o teor do produto misturado à gasolina. A Índia atualmente impõe restrições à importação de etanol para proteger a indústria de energia limpa, mas acordos bilaterais sobre o produto estão entre os acordos que o governo Lula pretende fechar com Modi esta semana.
“Isso abre um espaço interessante para o Brasil nessa pauta de biocombustíveis”, disse Gustavo Ribeiro, chefe de inteligência de mercado da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos, a ApexBrasil.
Ele completa:
“Eles têm uma grande produção de açúcar, mas a depender do ano, de como está a safra, às vezes eles importam açúcar, às vezes importam o próprio etanol porque faltou açúcar no mercado. Então o Brasil acaba sendo uma boa fonte alternativa ou de açúcar ou de etanol.”
O Brasil enfrenta concorrência nessa frente: o governo Modi vem há meses pressionando por um acordo comercial com o governo Trump para evitar tarifas dos Estados Unidos, enquanto Washington também busca acesso ao enorme mercado indiano para o seu próprio etanol.
Após o encontro desta semana no Rio de Janeiro, Lula passará a presidência rotativa do Brics para Modi. A dupla tem usado o bloco para reforçar as ambições de se tornarem membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas. A meta foi reafirmada no Brasil e provavelmente será uma prioridade para a Índia em 2026. (Com informações da agência Bloomberg)