Domingo, 15 de junho de 2025

Entenda por que vacinas contra covid protegem mesmo diante das mutações do coronavírus

Vírus são microrganismos com estruturas relativamente simples, compostos basicamente de proteínas e de informações genéticas. Essa característica faz com que eles tenham uma alta capacidade de mutação.

Com o coronavírus não é diferente. A circulação extensiva do vírus causador da covid contribui para o surgimento de novas variantes. Desde a descoberta da ômicron, em novembro de 2021, o coronavírus continuou a evoluir, dando origem a muitas linhagens descendentes e também recombinantes.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), que realiza o monitoramento contínuo das diferentes linhagens, a diversificação genética da Ômicron indica uma pressão do vírus pela adaptação aos hospedeiros humanos.

A maior parte das mutações virais está localizada na proteína Spike, utilizada pelo vírus para invadir as células humanas. Algumas dessas mutações podem tornar o vírus menos suscetível à resposta imunológica esperada pelas vacinas.

As vacinas contra a covid em uso no mundo foram desenvolvidas a partir das linhagens do vírus que circulavam no início da pandemia e que não apresentavam a mesma quantidade de mutações das cepas circulantes no momento.

No entanto, estudos em andamento indicam que, mesmo diante das mutações, os imunizantes permanecem eficazes na proteção contra quadros graves, hospitalizações e morte pela doença. As análises indicam, ainda, que a dose de reforço aumenta significativamente o nível de proteção contra a infecção que tende a diminuir após seis meses.

A imunologista Cristina Bonorino, professora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), explica alguns dos fatores que contribuem para a manutenção da eficácia das vacinas em uso.

Segundo a especialista, a efetividade das vacinas está relacionada à produção de anticorpos neutralizantes específicos contra o coronavírus e à indução de outros mecanismos relacionados à defesa do organismo, como a ativação dos linfócitos, ou células T.

A chamada resposta celular gerada pelos imunizantes envolve células de memória do sistema imunológico que permanecem no organismo. Assim, quando o indivíduo entra em contato com o coronavírus por meio de uma infecção natural, elas ativam a produção de anticorpos que respondem contra a infecção, evitando principalmente o agravamento da doença.

“Existem dois tipos de proteção imunológica aos vírus que geram memória. Um desses são os anticorpos, o outro são os linfócitos T, que ficam nos tecidos, nos pulmões e demais órgãos, protegendo da doença. Essa imunidade não foi afetada pelas variantes em nada pelo que conseguimos medir”, afirma Cristina.

Como grande parte das mutações são encontradas na proteína Spike, os principais impactos refletem principalmente na capacidade do vírus de invadir as células humanas, e não no agravamento da doença.

“A maior parte das mutações está na parte da proteína Spike que chamamos de RBD, que é a parte que liga no receptor. As mutações da ômicron são principalmente ali. Se você olha, por exemplo, os linfócitos T, as mutações não afetam as áreas que eles reconhecem. Por que eles reconhecem pedaços bem pequenos”, explica a imunologista.

Pesquisadores do Imperial College, de Londres, realizaram um amplo estudo que vai ao encontro da importância da vacinação. Embora o organismo humano seja capaz de produzir defesas contra o coronavírus durante a infecção natural, o nível de proteção pode não ser tão elevado dependendo da variante envolvida, segundo a pesquisa.

No estudo britânico, que contou com a participação de profissionais de saúde, os pesquisadores investigaram a imunidade das células T e B contra a ômicron em vacinados com diferentes históricos de infecção pelo SARS-CoV-2.

Os resultados do estudo, publicado na revista Science, apontaram que a infecção pela ômicron não foi capaz de reforçar os mecanismos de ação do sistema imunológico.

Estudos

Diferentemente dos testes de eficácia, que dizem respeito aos estudos conduzidos em ambientes controlados, como aqueles realizados durante o desenvolvimento das vacinas, os dados de efetividade refletem os resultados da vacinação na prática em grandes populações.

Pelo menos 33 estudos de 14 países (Argentina, Brasil, Canadá, Chile, República Tcheca, Dinamarca, Finlândia, Noruega, Israel, Catar, África do Sul, Reino Unido, Estados Unidos e Zâmbia) avaliaram amplamente a proteção de seis vacinas contra a covid diante da infecção pela variante ômicron.

Entre as pesquisas, 12 estudos contribuíram com estimativas de efetividade apenas do esquema primário de vacinação, quatro apresentaram dados apenas da primeira dose de reforço e 17 contribuíram para ambas.

Os resultados desses estudos mostram redução da efetividade das vacinas contra a variante ômicron, com apenas a série primária, para todos os desfechos (doença grave, doença sintomática e infecção) em comparação ao que foi observado para as outras quatro variantes de preocupação do coronavírus: alfa, beta, gama e delta.

No entanto, as estimativas de efetividade contra a ômicron permanecem mais altas para doenças graves do que os outros quadros clínicos na maioria dos estudos. As análises apontam ainda que a primeira dose de reforço melhora significativamente a efetividade das vacinas para todos os desfechos clínicos.

Os resultados dos estudos indicam que, após a primeira dose de reforço, a efetividade das vacinas diminui mais em relação a doença sintomática e infecção do que para doença grave ao longo do tempo. No entanto, ainda não estão disponíveis estudos que avaliem a efetividade da vacinação de reforço em um prazo maior do que seis meses.

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