Sábado, 04 de outubro de 2025

Entrada de dinheiro estrangeiro na Bolsa brasileira bate recorde: instabilidade mundial torna o País mais atraente

Nos primeiros 68 dias do ano, o saldo de capital externo na Bolsa de Valores chegou a R$ 71,06 bilhões, acima dos R$ 70,78 bilhões registrados no ano passado, o recorde da série histórica. Isso ocorre apesar de inflação acelerada, desemprego alto e previsões ruins para o PIB.

O País ainda está às vésperas de uma eleição e há uma guerra com impacto direto na economia global. Para analistas, a explicação para a aparente contradição vem do fato de o mercado brasileiro estar diretamente ligado às commodities, que ganharam força coma invasão russa à Ucrânia. Especialistas consideram especulativa a natureza desse capital.

O Brasil vive um momento econômico delicado, com inflação em aceleração, desemprego persistentemente alto e perspectivas ruins para o PIB. Também está às vésperas de uma eleição que se configura complicada, e o mundo vive uma guerra que ameaça todo o funcionamento da economia global. Tudo isso, porém, não parece problema para os investidores estrangeiros.

Desde o início do ano até a última quarta-feira – ou seja, 68 dias –, o saldo de capital externo na Bolsa de Valores chegou a R$ 71,063 bilhões, superando o número de todo o ano passado, recorde da série histórica, de R$ 70,785 bilhões.

O que explica esse movimento? Para analistas, uma das principais causas é o fato de o mercado brasileiro estar fortemente ligado às commodities, que já vinham em trajetória de alta e ganharam ainda mais força com a invasão da Rússia à Ucrânia.

Em relatório, o banco americano Goldman Sachs apontou que, diante do atual cenário, sua preferência para investimentos é no Oriente Médio, Norte da África e Brasil, dado o perfil exportador de matérias-primas dessas regiões. “Esses países oferecem proteção tática contra a combinação preocupante de crescimento mais fraco e inflação mais alta (no mundo).”

A intensa entrada de investimentos tem provocado a queda da cotação do dólar no Brasil, apesar de toda a turbulência econômica global. A moeda americana fechou, na sexta-feira, cotada a R$ 5,0541. No início do ano, era negociada na casa dos R$ 5,60. Dólar mais barato ajuda a conter a inflação, embora, no cenário atual, isso venha tendo bem pouco efeito. O risco, segundo os analistas, é de que esse capital que tem vindo para o Brasil tem perfil bastante especulativo. Portanto, pode ir embora muito rapidamente, se as condições ficarem adversas.

Eleições

Para Luis Stuhlberger, famoso gestor da Verde Asset, e Rogério Xavier, da SPX Capital, uma possível vitória de Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições presidenciais de 2022 pode ter instigado essa migração.

Além disso, a bolsa brasileira estaria descontada frente aos pares. Vale lembrar que o real foi a moeda do G20 que mais se desvalorizou no segundo semestre do ano passado. O Ibovespa, na contramão de boa parte dos índices externos, terminou o exercício em queda de 11,9%.

Rodrigo Franchini, sócio da Monte Bravo Investimentos, explica que há uma mudança radical na política monetária e fiscal do mundo para conter a inflação. Com juros mais altos no cenário mundial, há menos dinheiro rodando nos mercados e, por consequência, menos fluxo nas bolsas de valores.

“Existem bolsas que subiram muito, que são as de ‘primeiro mundo’, em especial as bolsas americanas. E aí o gringo começa questionar se ainda há espaço para crescer mais nesses mercados ou se em 2022 essas bolsas que já valorizaram muito ano passado terão crescimento mediano”, afirma Franchini.

Fora isso, existe uma rotação de carteiras de investidores globais. Tomás Awad, sócio da 3R Investimentos, vê uma migração de capital de empresas de crescimento (growth) para empresas de valor (value). As primeiras são geralmente ligadas à tecnologia, das quais o mercado espera um crescimento agressivo e altos resultados no futuro. “Muito do valor dessas empresas está no crescimento e quando sobem juros no mundo elas tendem a perder valor”, afirma Awad.

Já as de valor são aquelas que representam a velha economia, como instituições financeiras e companhias ligadas a commodities. “Metade da Bolsa brasileira são ações de valor, que foram o que deu certo nesse começo de ano. O mundo se moveu de crescimento para valor e o Brasil tem uma bolsa que tem muitas companhias de valor”, explica.

Os estrangeiros não se limitaram apenas à velha economia. “No primeiro movimento foram comprar valor, compraram Vale, Petrobras e bancos, mas depois o fluxo se espalhou para empresas de outros setores”, explica Awad. “É meio estranho, mas a impressão é que eles venderam crescimento nos EUA para comprar crescimento no Brasil.”

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