Segunda-feira, 06 de outubro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 6 de outubro de 2025
Vivemos tempos em que interpretações extremas tentam capturar o Direito. De um lado, o hiperlegalismo que transforma a letra da lei em escudo contra qualquer senso de equidade. De outro, um voluntarismo que flerta com a desordem, desprezando os limites do ordenamento jurídico em nome de uma suposta justiça imediata. No meio desse embate, está o advogado.
Nem juiz do mérito, nem mero operador da engrenagem jurídica. Sua missão é mais profunda: ser um mediador entre o que está escrito e o que é justo. Um agente que atua dentro das regras, mas que as interpreta à luz de princípios, contextos e pessoas. Seu papel é assegurar que o processo — e não apenas o resultado — esteja a serviço da dignidade humana.
A Constituição Federal não por acaso conferiu à advocacia a condição de função essencial à Justiça. A essência disso está no compromisso com a liberdade, com o contraditório, com a busca do melhor direito para cada caso concreto. Ao advogado não se exige perfeição, mas retidão.
Não se exige unanimidade, mas coerência. E, sobretudo, coragem para agir mesmo quando a maré aponta na direção oposta.
O Brasil atravessa ciclos de tensão institucional, além de recorrentes desafios no exercício das funções públicas. Nesse cenário, o fortalecimento da advocacia não é um luxo — é um imperativo democrático. Advogados fortes e independentes significam cidadãos mais protegidos e instituições mais equilibradas. Não há Justiça sem diálogo, nem Direito sem humanidade.
A advocacia não pode se limitar a tecnicismos, nem se acomodar diante da complexidade atual. O desafio é conciliar rigor com empatia, firmeza com diálogo, letra com espírito.
Em tempos de vozes exaltadas e decisões apressadas, o advogado permanece como guardião dos ritos, da escuta e da ponderação. Sua força não está no grito, mas na firmeza argumentativa. Sua autoridade nasce da coerência.
É essa presença serena, mas ativa, que pode sustentar a confiança da sociedade no sistema de Justiça. Em tempos de decisões difíceis, o advogado sustenta a confiança social com argumentos serenos, presença ética e compromisso constante com a civilidade.
(Leopoldo Lara é advogado em Porto Alegre)