Sexta-feira, 17 de outubro de 2025

Estados Unidos pedem ao Brasil extradição de espião russo que se passava por brasileiro

O governo dos Estados Unidos pediu ao Brasil a extradição de Sergei Cherkasov, espião russo preso após tentar entrar na Holanda com identidade brasileira falsa. O pedido deve ser enviado ao Ministério da Justiça e cabe ao Supremo Tribunal Federal julgá-lo. A decisão final, porém, será do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A Rússia também havia solicitado a extradição, alegando que Cherkasov é um traficante. Segundo o Itamaraty, o pedido “será prontamente encaminhado ao Ministério da Justiça e Segurança Pública”, responsável pela cooperação jurídica internacional. Em nota enviada ontem ao Estadão, o Itamaraty acrescentou que não poderia fornecer dados específicos sobre o caso em razão do direito à privacidade.

Cherkasov foi preso em abril de 2022 pela Polícia Federal após a polícia holandesa interceptá-lo no aeroporto, onde ele desembarcou para trabalhar no Tribunal Penal Internacional. Na ocasião, o russo foi enviado de volta ao Brasil. Ele atuou durante anos nos EUA como espião do Departamento Central de Inteligência da Rússia (GRU), fingindo ser um estudante brasileiro.

Pela lei brasileira, todo estrangeiro pode ser extraditado a qualquer momento por ter cometido crimes no Brasil ou fora, desde que o País tenha um tratado de extradição com quem solicita, como é o caso dos EUA. No entanto, o pedido traz um impasse diplomático, já que a Rússia também pediu a extradição – embora por crimes diferentes.

Battisti

Depois de ser recebido pelo Itamaraty, o pedido é repassado para o Ministério da Justiça e entregue ao STF, que analisa se os documentos cumprem os requisitos para extradição. Ainda de acordo com a lei, no entanto, cabe ao presidente a última palavra.

O precedente foi estabelecido em decisão do STF, de 2009, sobre a extradição do italiano Cesare Battisti. Embora tenham aprovado o envio de

Battisti à Itália, os juízes na época decidiram que o presidente tinha a decisão final. Na ocasião, Lula negou a extradição – ele acabou preso e extraditado durante o governo de Michel Temer, em 2018.

Cherkasov, o espião russo, vivia em São Paulo, usava o nome falso de Victor Muller Ferreira e se passava por brasileiro. Ele usou essa identidade para estudar na Universidade John Hopkins, nos EUA, de onde tentou conseguir estágios em agências governamentais e internacionais. Ao obter um cargo no TPI, em Haia, foi descoberto por autoridades americanas e holandesas e enviado para o Brasil.

Informações

Na universidade americana, o espião teve a chance de se aproximar do establishment de segurança dos EUA, do Departamento de Estado à CIA. Segundo depoimento registrado pelo FBI, o acesso que Cherkasov obteve possibilitou que ele colhesse informações a respeito das maneiras com que autoridades do governo de Joe Biden responderam à concentração de tropas russas na fronteira da Ucrânia, pouco antes da invasão.

Além do Brasil, o russo viveu como estudante brasileiro na Irlanda. Como mostrou o Estadão, um inquérito aberto na Polícia Federal de São Paulo mapeia “atos de espionagem” de Cherkasov em território brasileiro. Também há suspeitas de crimes de corrupção e lavagem de dinheiro.

Sua prisão ocorreu no início de uma operação de desmantelamento, atualmente em andamento, de redes de inteligência russas por toda a Europa, que foi lançada após a invasão da Rússia à Ucrânia e, segundo autoridades ocidentais, afetou as operações das agências de espionagem do Kremlin.

Versão russa

Moscou nega que Cherkasov seja espião e solicitou sua extradição do Brasil apresentando uma suposta segunda identidade falsa, alegando que ele não é nem estudante nem agente secreto, mas sim um traficante de heroína procurado que fugiu da Rússia.

Pela versão russa, os crimes teriam sido cometidos entre 2011 e 2013. Os registros da imigração brasileira, porém, apontam que a primeira viagem dele ao Brasil ocorreu em 2010. Em 2011, ele entrou no País pela segunda vez.

O espião foi condenado a 15 anos de prisão pela Justiça Federal de São Paulo pelo uso continuado de documentação falsa. Desde dezembro, ele está em um presídio federal de Brasília.

Clandestino Cherkasov vivia em São Paulo, usava o nome falso de Victor Muller Ferreira e se passava por brasileiro

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