Quinta-feira, 15 de maio de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 14 de maio de 2025
A morte do jogador uruguaio Juan Manuel Izquierdo, aos 27 anos, durante uma partida em São Paulo no ano passado, trouxe à tona um diagnóstico ainda pouco conhecido pela população, mas bastante comum: as arritmias cardíacas. Assim como em muitos casos de morte súbita, a condição foi a responsável pelo falecimento do atleta.
O cardiologista Eduardo Saad, coordenador do Serviço de Arritmias Cardíacas do Hospital Samaritano, no Rio de Janeiro, alerta para a prevalência da doença. Segundo ele, cerca de uma em cada quatro pessoas desenvolve algum tipo de arritmia sem saber. Considerado um dos maiores especialistas no tema no país, Saad destaca que o distúrbio se refere a alterações na parte elétrica do coração, que afetam os batimentos cardíacos.
“Estamos vivendo uma epidemia de arritmias cardíacas. A mais comum é a fibrilação atrial, caracterizada por batimentos irregulares e acelerados, com potencial de gravidade”, explica o médico, que toma posse nesta sexta-feira como novo membro da Academia Nacional de Medicina (ANM).
A nomeação reforça a trajetória de uma família dedicada à medicina. Eduardo é neto de Aarão Benchimol, filho de Edson Saad e sobrinho de Cláudio Benchimol – todos cardiologistas reconhecidos no Brasil. Criada em 1829 por Dom Pedro I, a ANM reúne médicos influentes para orientar políticas públicas e continua sendo, segundo Saad, um espaço relevante de diálogo entre gerações, capaz de contribuir em temas atuais, como a regulação de cursos de medicina.
A academia também se posicionou criticamente durante a pandemia da Covid-19 e contra a recente liberação da ozonioterapia. Para Saad, esse papel ativo é essencial. Ele destaca ainda a importância simbólica da posse da primeira mulher presidente da ANM, a professora Eliete Bouskela, como sinal de renovação institucional.
Sobre as arritmias, o especialista explica que o coração possui três áreas funcionais principais: o fluxo sanguíneo pelas artérias, o desempenho do músculo cardíaco e o sistema elétrico, que coordena os batimentos. Quando há falhas nessa última parte, surgem as arritmias – que podem se manifestar por ritmos lentos (bradicardia) ou acelerados (taquicardia).
O envelhecimento da população é um dos fatores que explicam o aumento de casos, mas há também uma incidência crescente entre os mais jovens. Estilo de vida moderno, exposição a poluentes e agrotóxicos, distúrbios do sono, uso excessivo de medicamentos e suplementos hormonais, além de alimentos ultraprocessados, estão entre os possíveis gatilhos.
Saad chama atenção para o consumo de substâncias estimulantes, especialmente em pré-treinos e energéticos. Embora o café tenha sido inocentado em doses moderadas, bebidas com altas concentrações de cafeína e compostos como taurina representam risco elevado. A combinação com álcool, comum entre jovens, é particularmente perigosa e potencializa as chances de arritmias.
As chamadas mortes súbitas muitas vezes atribuídas a infartos fulminantes podem, na verdade, ter origem em arritmias cardíacas. Muitas delas são causadas por condições genéticas silenciosas. Por isso, o cardiologista recomenda atenção aos sinais do corpo e acompanhamento médico, especialmente para quem tem histórico familiar ou sintomas recorrentes. (Com O Globo)