Sexta-feira, 03 de maio de 2024

Estatinas mostram potencial para prevenir desenvolvimento de câncer renal

O câncer de rim está entre os 14 mais incidentes no mundo. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2020 foram mais de 400 mil diagnósticos e 170 mil mortes por carcinoma de células renais claras (CCR), o tipo mais comum. No mesmo período, no Brasil, foram registrados 12 mil casos. Atualmente, os tratamentos disponíveis incluem terapia-alvo e imunoterapia, mas os pacientes podem, no futuro, receber o reforço de um medicamento comum. Trata-se da estatina, fármaco tradicionalmente utilizado para controle de colesterol, e que, de acordo com um grupo internacional de pesquisadores, incluindo um oncologista de Brasília, pode ajudar na recuperação e prevenção do tumor renal.

O estudo, publicado recentemente na revista Critical Reviews in Oncology/Hematology, recapitula pesquisas anteriores que concluíram que as estatinas podem reduzir o risco de câncer de rim em pessoas que nunca tiveram a doença, além de diminuir a probabilidade de uma recidiva em pacientes que foram operados. Trata-se, porém, de um trabalho observacional, que não traça uma relação de causa e efeito.

Os artigos revisados também demonstraram que as estatinas têm potenciais propriedades preventivas para alguns tumores sólidos. Além disso, os indivíduos que tomam a medicação a longo prazo apresentam menor grau de evolução do câncer renal no momento do diagnóstico e redução da recorrência e/ou mortalidade específica desta doença.

Inflamação

A estatina foi descoberta na década de 1970 e é um medicamento mundialmente empregado na diminuição de colesterol para evitar riscos cardiovasculares, como derrame e infarto. Segundo Fernando Sabino, oncologista clínico do Hospital Santa Lúcia e um dos autores do estudo, a população tem vivido mais com o uso dessas substâncias.

É importante destacar que o remédio não age diretamente na célula do tumor. Ele funciona como redutor de estresse inflamatório e de excesso de radicais livres, fatores que podem desencadear o câncer no organismo. De acordo com o médico, o sobrepeso, por exemplo, é uma condição que oferece predisposição à doença: “Isso acontece porque essas pessoas têm mais radicais livres no corpo e excesso de estresse inflamatório. O uso da estatina pode ajudar esse grupo na prevenção”.

Nos últimos anos, o uso de medicamentos para carcinoma de células renais avançado tornou-se um foco importante para uro-oncologistas e oncologistas médicos, que buscam identificar potenciais efeitos sinérgicos que aumentariam a sobrevida dos pacientes. O estudo revisional escolheu focar no câncer de rim, porém, conforme explica Sabino, atualmente estão em andamento mais de 200 pesquisas que investigam o uso do anticolesterol no tratamento e prevenção da doença em diversos órgãos, como próstata, ovário e mamas.

A estatina é sondada como complemento dos tratamentos atuais, aplicada conjuntamente com terapia-alvo e imunoterapia. Isolado, o medicamento também pode ser uma alternativa para prevenção do câncer de rim em pessoas mais propensas a desenvolvê-lo. O problema renal é mais frequente em homens na faixa etária de 50 a 70 anos, atingindo principalmente quem tem histórico familiar de doenças nos rins, hipertensos, fumantes e pessoas com sobrepeso. “Essa é uma oportunidade de utilizar um medicamento barato, acessível e popularmente conhecido para potencializar os tratamentos de câncer”, destaca o pesquisador.

O trabalho é o primeiro de revisão para câncer de rim, baseado em testes pré-clínicos utilizando plasmas sanguíneos e ratos. “Esse é um estudo gerador de hipótese, que pode fortalecer os já existentes ou impulsionar o início de pesquisas nessa área”, afirma Sabino.

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