Domingo, 14 de dezembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 14 de dezembro de 2025
Em meio ao salto na imigração de países da América Latina para o Brasil e à taxa de desemprego mais baixa da história, os estrangeiros já respondem por 4% das contratações do mercado formal de trabalho brasileiro, e quase metade deles são da Venezuela.
Dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) mostram que, apenas entre janeiro e outubro de 2025, o saldo entre admissões e demissões de pessoas de outras nacionalidades ficou positivo em 73,4 mil (ante um total de 1,8 milhão de novas vagas).
É mais do que os 71,1 mil em todo o ano passado, quando os estrangeiros também representaram cerca de 4% dos postos de trabalho com carteira assinada, e um salto de 196,2% em relação a 2020, quando começa a série do Caged pela atual metodologia.
As principais nacionalidades dos contratados são venezuelanos (47,8% do total de estrangeiros admitidos neste ano), haitianos (8,2% do total), argentinos (4,8%) e paraguaios (4,3%).
Eles vêm representando uma fatia cada vez maior do mercado formal de trabalho. Em 2020, quando o mercado como um todo eliminou postos de trabalho por causa da pandemia, foram 24,8 mil contratados; em 2021, o número caiu para 5.200 mil (ou 0,19% do saldo total); em 2022, esse número saltou para 35,9 mil (1,78% do total), e em 2023, para 47,3 mil (3,2%).
O movimento está relacionado em parte ao forte fluxo de imigração para o Brasil entre a década passada e a primeira metade desta década. De 2010 a 2025, 182, 2 milhões de estrangeiros entraram no Brasil pelos postos de fronteira, enquanto 184,2 milhões deixaram o país. Ou seja, o saldo ficou negativo em mais de 2 milhões nesse período, segundo o Ministério da Justiça e Segurança Pública.
“Em termos líquidos, quando há mais saída de brasileiros do que entrada de estrangeiros, perdemos mão de obra. Mas por outro lado estamos ganhando com os estrangeiros que vêm ao Brasil”, diz Bruno Imaizumi, economista especializado em mercado de trabalho da 4intelligence.
Além da disponibilidade maior de mão de obra estrangeira, o crescimento é inversamente proporcional à queda na taxa de desemprego. Em 2021, a desocupação estava em 12,1%; em 2022, 8,3%; em 2023, 7,6%; em 2024, 6,2%. No trimestre encerrado em outubro deste ano, ficou em 5,4%, o menor patamar da série histórica iniciada em 2012, de acordo com dados do IBGE.
“O principal motivo para a absorção de mão de obra estrangeira é o fato de que o mercado de trabalho se encontra aquecido o suficiente”, aponta Imaizumi.
Ele lembra que a rotatividade do mercado de trabalho está em patamar recorde no Brasil, atingindo 36,1% dos trabalhadores formais nos últimos 12 meses encerrados em outubro. No pré-pandemia, no início de 2020, estava abaixo de 25%.
Os estrangeiros são contratados principalmente para vagas em segmentos onde há dificuldade de se achar funcionários, como o posto de alimentador de linha de produção, que lidera as contratações de quem vem de fora do país (saldo positivo de 13,8 mil até outubro).
Um levantamento feito pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) ajuda a explicar: 20,5% das indústrias paulistas que procuraram novos empregados entre o início de 2024 e março deste ano não conseguiram contratar.
Entre as vagas mais ocupadas por estrangeiros, estão ainda faxineiros (5.300), açougueiros (4.700) e serventes de obras (4.100).
“Há escassez de mão de obra brasileira para essas funções e para outras também”, aponta o professor sênior da Faculdade de Economia da USP e coordenador do salariômetro da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) Hélio Zylberstajn. “E para os países da América Latina, o Brasil virou um polo de atração.”
Dados do Censo 2022 do IBGE mostram que, entre 2010 e 2022, houve um aumento de 2.900 para 271,5 mil venezuelanos chegando ao Brasil, em meio ao agravamento das dificuldades socioeconômicas da Venezuela durante o governo de Nicolás Maduro.
Os dados do Caged mostram que a maior parte dos venezuelanos estão sendo contratados nos Estados do Sul do Brasil. Entre janeiro e outubro, 25,9 mil conseguiram emprego formal na região, com destaque para Santa Catarina, com 10,8 mil contratações, seguido do Paraná (9.300) e Rio Grande do Sul (5.600). (Com informações do jornal Folha de S.Paulo)