Terça-feira, 11 de novembro de 2025

Estratégia delineada pelo mais novo ministro de governo segue a tática do “nós contra eles” da gestão Lula

No momento em que a oposição tenta encurralar o governo federal no debate sobre segurança pública, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Guilherme Boulos, diz não acreditar que essa se transforme na principal pauta da disputa presidencial de 2026.

Boulos, que deverá atuar como um coordenador informal da campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que deve disputar a reeleição pelo PT, adiantou dois temas que, na sua visão, nortearão os embates no ano que vem: “Quem paga a conta” e soberania nacional. “Quem está do lado do povo, e quem está do lado de bilionários?”, provocou. “Para mim, esses dois temas vão separar o joio do trigo na eleição.”

A estratégia segue a tática do “nós contra eles” da gestão Lula. Para alguns especialistas, o governo tenta promover ajuste fiscal aumentando receitas, em vez de cortar gastos.

O ministro rechaçou críticas de que teria sido um erro Lula abandonar a cautela inicial para subir o tom, e classificar a operação policial nos morros da Penha e do Alemão no Rio de Janeiro como “matança”. Depois dessa fala, a popularidade de Lula oscilou para baixo em “trackings” de institutos de pesquisas, e até no monitoramento interno. “Pautar-se por uma demagogia do medo e do sangue não é uma política razoável para nenhum governo”, criticou, referindo-se ao modelo defendido pelo governador do Rio, Cláudio Castro, filiado ao PL. Ele reiterou que o governo defenderá que o combate ao crime deve ser feito com inteligência e mirar as lideranças: “A resposta não será com pirotecnia”.

Em entrevista, o ministro detalhou algumas de suas primeiras ações no cumprimento da principal missão que lhe foi delegada por Lula: aproximar o governo de segmentos que rejeitam a gestão petista e seguem alinhados ao bolsonarismo, como evangélicos, forças de segurança e motoristas e entregadores de aplicativos.

Nesse caso, adiantou que a divisão interna no governo foi superada em relação à atuação do Ministério do Trabalho, que teve as propostas rejeitadas pelos trabalhadores. Boulos e o ministro Luiz Marinho estão alinhados sobre o tema, e vão trabalhar juntos para buscar um modelo que atraia o segmento. Ele vem defendendo um piso mínimo para a categoria, e que as plataformas arquem com a maior parte da alíquota previdenciária a ser contratada aos trabalhadores.

Boulos ainda minimizou a dificuldade de estreitar os laços com os evangélicos: “Sabe qual é o pior erro que a esquerda pode cometer? É julgar os mais de 40 ou 50 milhões de evangélicos pela régua do Silas Malafaia”. Lembrou que esse público está concentrado nas periferias, e desponta como alvo central das políticas públicas do governo.

Leia os principais pontos da entrevista ao Valor:

1) Lula errou ao chamar de “matança” e “desastrosa” a operação policial no Rio de Janeiro?

Não errou. Eu acho que foi uma matança, e algumas das vítimas dessa matança, quatro particularmente, foram policiais. Agora, dizer que uma operação que matou mais de 120 pessoas não foi uma matança? Então nós temos que ressignificar a língua portuguesa, por que foi o quê?

2) Mas o presidente hesitou antes de subir o tom sobre a operação. A segurança pública é um terreno inóspito para a esquerda?

O presidente começou a romper esse tabu quando apresentou a PEC (proposta de emenda à Constituição) da segurança, para que o governo dele puxe mais responsabilidades. Qual seria a situação mais cômoda de quem está no governo federal? Dizer que “isso não é comigo”. O presidente Lula fez o contrário. Falou “eu quero ajudar a resolver esse problema”. Apresentou a PEC da segurança, o PL antifacção, está dialogando com o Ministério da Justiça, com a Polícia Federal, para que façam operações de combate ao crime organizado como foi a Carbono Oculto, com papel decisivo da Receita e da Polícia Federal, pegando a cabeça do crime organizado.

3) Mas esse modelo seria viável sempre?

Qual é a nossa diferença para a extrema direita? Eles querem usar a insegurança da população para fazer política à base do medo e do sangue. Nós queremos enfrentar de verdade o problema da segurança e do crime organizado. Isso passa pelo quê? Pegar peixe grande.

4) Mas pesquisas mostraram que a maioria da população apoiou a ação policial no Rio, mesmo com tantas mortes. A defesa de outro modelo de segurança pública será convincente?

A população aplaudiu o banho de sangue (no Rio), assim como a população de São Paulo, em 1992, aplaudiu o massacre do Carandiru. Agora, francamente, se esse sentimento, que é compreensível de uma parcela expressiva da população – porque está indignada, porque não vê soluções – for pautar a decisão política de um governo, daqui a pouco estaremos defendendo câmera de gás. A resposta não será com pirotecnia. (Com informações do Valor Econômico)

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