Domingo, 18 de maio de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 17 de maio de 2025
A colombiana Sindy Estrada sai de casa o mínimo necessário e seu filho de 16 anos parou de encontrar os amigos fora da escola: o medo e o estresse dominam a família, que contesta uma ordem de deportação no tribunal. Segundo especialistas, a investida anti-imigração de Donald Trump causa problemas de saúde mental entre os migrantes como não se via desde os atentados de 11 de setembro de 2001.
O presidente prometeu a maior deportação de imigrantes sem documentos da história dos Estados Unidos (cerca de 11 milhões, segundo estimativas). Trump se refere a eles como “criminosos” por terem entrado no país sem visto ou permissão. Além disso, foram revogadas centenas de milhares de licenças temporárias de permanência nos EUA.
Em entrevista à AFP, Sindy afirmou que a ordem de deportação que solicitou que ela e sua família saíssem do país em 30 de abril “causou uma ruptura emocional: estresse, depressão, ansiedade e pânico”. A mulher saiu da Colômbia há 3 anos por ser vítima de extorsão na empresa de seu marido e da insegurança.
“Tenho medo de voltar à Colômbia (e) enfrentar (aquilo) que me fez sair de lá”, afirmou a Sindy em seu apartamento em Nova Jersey.
A mulher tem um filho de 16 anos que “começou a roer as unhas, perder o sono e rendimento escolar”. Ela afirma que na escola perguntaram a ele “o que vai acontecer, se vai ficar ou não”. Já seu marido utiliza tornozeleira eletrônica para ser monitorado 24 horas e acredita que “querem monitorá-la” também.
Semelhança
A investida de Donald Trump contra a imigração tem base legal frágil, e inclui incursões, prisões arbitrárias, deportações sem o devido processo para uma prisão de segurança máxima em El Salvador, e deportação de cidadãos americanos com pais sem documentos.
Na semana passada, o presidente republicano ofereceu US$ 1.000 (R$ 5,6 mil) para aqueles que se alistassem no programa de retorno voluntário. Ainda que os agentes da Polícia de Imigração e Alfândega (ICE, na sigla em inglês) digam priorizar a detenção de migrantes com antecedentes criminais, apenas uma pequena parte dos deportados entra nesta carta, segundo a mídia americana.
A presença de agentes do ICE em bairros ou linhas de metrô frequentadas por imigrantes, em particular latinos, dispara o medo. De acordo com Juan Carlos Dumas, consultor de saúde mental do Departamento de Serviços de Saúde da Prefeitura de Nova York, a “incerteza, temor e angústia” que a comunidade migrante está vivendo é “semelhante aos sofridos nos atendidos do 11 de Setembro”.
Ele também afirma que a situação aumentou o consumo de álcool, drogas, tabaco e os conflitos familiares. Juan Carlos acredita que a angústia tem que ser depositada em algum lado e observa também o crescimento na prática da automutilação.
“Os mais afetados são os imigrantes sem documentos que há muitos anos construíram sua vida nos EUA. Para estes, a perspectiva de deixar o país é absolutamente traumática”, assegura o consultor, que destaca o momento preocupante: “Cada um trata de resolver (o medo) como pode. Não víamos algo assim há muitos, muitos anos.”
Serviços
O especialista demonstra preocupação quanto à saúde mental dos imigrantes e pede que, apesar da situação, ninguém “desista e se dê por vencido” e que sigam com seus trabalhos. Ele reforça também que em Nova York há “numerosos serviços de saúde mental” e “uma boa quantidade de pessoas envolvidas, como assistentes sociais, psicólogos e terapeutas para fornecer consolo e relaxamento dentro do possível”.
“O que se constrói com anos de esforço (…) pode ser destruído em um dia”, alerta Juan Carlos Dumas.