Quarta-feira, 19 de novembro de 2025

Estudo do Departamento de Economia e Estatística avalia desigualdades étnico-raciais no Rio Grande do Sul e no Brasil

Entre 2015 e 2025, os rendimentos aumentaram para todos os grupos no Rio Grande do Sul. Pessoas brancas tiveram crescimento de 13,6%, pardas de 27,5% e pretas de 19,4%. Mesmo com o avanço mais intenso entre pardas e pretas, a diferença absoluta permaneceu elevada em 2025.

Na média do primeiro trimestre desse ano, pessoas brancas receberam R$ 3.981, enquanto pardas obtiveram R$ 2.733 e pretas, R$ 2.527. No Brasil, o comportamento foi semelhante no mesmo período, com rendimento médio de R$ 4.295 entre pessoas brancas, R$ 2.602 entre pardas e R$ 2.526 entre pretas.

Entre 2016 e 2025, o Rio Grande do Sul registrou queda da informalidade entre todos os grupos raciais entre pessoas de 14 anos ou mais. Em 2025, porém, as pessoas pardas continuaram com a maior taxa (33,8%), seguidas das brancas (30,7%) e das pretas (30,5%).

No Brasil, no mesmo ano, a informalidade diminuiu entre pardas e pretas, mas aumentou entre brancas. Ainda assim, as pardas mantiveram a maior informalidade (42,9%), seguidas pelas pretas (40,6%) e pelas brancas (32,3%).

A análise está apresentada no estudo ODS 18 – Igualdade Étnico-Racial no Brasil, elaborado pelo DEE (Departamento de Economia e Estatística), vinculado à SPGG (Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão), com autoria dos pesquisadores Felipe Nathan dos Santos e Gabriele dos Anjos, sob a coordenação da pesquisadora Mariana Pessoa.

O documento reúne dados preliminares referentes às metas do ODS (Objetivo de Desenvolvimento Sustentável) 18, composto por 10 metas e 137 indicadores, a partir de diversas bases de dados e das referências conceituais conduzidas pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz). O ODS 18 foi adotado voluntariamente pelo Brasil e reúne indicadores sobre desigualdades que atingem povos indígenas, afrodescendentes e outros grupos sujeitos à discriminação.

Violência e encarceramento

No Rio Grande do Sul, entre 2015 e 2024, a taxa de violência contra pessoas brancas heterossexuais passou de 46,1 para 97,4 por 100 mil habitantes, aumento de 111,6%. Entre pessoas negras heterossexuais, a taxa cresceu de 55,3 para 86,6 por 100 mil, variação de 56,8%. No grupo autodeclarado “outro”, quanto a orientação sexual, houve crescimento de 19,8% entre pessoas brancas e queda de 5,6% entre pessoas negras.

As taxas de encarceramento masculino aumentaram entre 2016 e 2024: entre homens negros, 46,9% no Brasil e 32,5% no Rio Grande do Sul; entre homens brancos, 22,6% no país e 51,1% no Estado. Entre 2020 e 2024, os processos por injúria racial também cresceram. No Brasil, a taxa foi de 14,55 registros por 100 mil habitantes, com motivação racial em 88% dos casos; no Rio Grande do Sul, o índice foi de 5,36 por 100 mil habitantes, sendo 86% referentes à cor ou raça.

Representatividade política

Nas eleições municipais de 2016 e 2020, respectivamente, pessoas brancas representaram 66,4% e 63,4% das candidaturas a prefeito no Brasil. Entre candidatos a vereador, pessoas brancas corresponderam a 50,5% em 2016 e a 47,7% em 2020. Esses percentuais são superiores à proporção de brancos na população brasileira, que é de 43,5%.

No Rio Grande do Sul, a concentração foi maior: candidatos brancos a prefeito representaram 96,6% em 2016 e 96,8% em 2020; entre candidatos a vereador, 89,6% e 86,7%. Entre os eleitos, prefeitos brancos corresponderam a 98,3% em 2016 e 98,2% em 2020, enquanto vereadores corresponderam a 95,1% em 2016 e 93,7% em 2020. Para fins de comparação, a proporção de brancos no Estado é de 78,4%.

Moradia e infraestrutura

Os indicadores domiciliares referentes ao Censo Demográfico de 2022 mostram vulnerabilidades nos territórios tradicionais. No Brasil, 3,3% dos domicílios indígenas tinham esgotamento adequado e 47,7% usavam fossa rudimentar, enquanto 22,6% não possuíam banheiro. No Rio Grande do Sul, 80,4% dos domicílios indígenas utilizavam fossa rudimentar, enquanto apenas 0,8% tinham sistemas adequados.

Entre quilombolas, no Brasil, 51,9% dos residentes em território quilombola não possuíam ligação com a rede geral de distribuição de água, enquanto no Rio Grande do Sul essa proporção era de somente 28,9%. Fora de territórios quilombolas, os percentuais para o país e para o RS eram de 33,7% e 39,4%, respectivamente.

Saúde

Entre 2015 e 2024, aumentou a proporção de mães que realizaram sete ou mais consultas de pré-natal no Rio Grande do Sul. Mulheres brancas passaram de 76,3% para 84,3%, enquanto mulheres indígenas de 57,6% para 68,5%. No Brasil, o movimento foi semelhante: mulheres brancas variaram de 77,8% para 84,8% e mulheres indígenas, de 33,6% para 53,7%.

Entre nascidos pretos ou pardos, os índices também cresceram no período. No Brasil, as taxas de adequação de pré-natal alcançaram 76,7% e 76,8%, respectivamente. No Rio Grande do Sul, os mesmos grupos tiveram taxas de 77,8% e 80,4%.

Educação

Entre 2015 e 2023, as taxas de abandono escolar nos anos finais do Ensino Fundamental caíram entre estudantes indígenas, no Rio Grande do Sul, passando de 7,5% para 5,7%, enquanto entre estudantes pretos e pardos a redução foi modesta. Na educação quilombola, a taxa passou de 2% para 2,2%. No Brasil, houve queda entre todas as categorias no período, mas estudantes indígenas permaneceram com as maiores taxas, com uma média de 5,7%.

No Ensino Superior, em 2024, a escolarização de jovens brancos entre 18 e 24 anos, no Rio Grande do Sul, alcançou 35,7%, enquanto a de jovens pretos e pardos foi de 15,4%. No país no mesmo ano, os jovens brancos atingiram valores maiores que o RS (37,4%), ao passo que os jovens negros apresentaram valores menores (20,6%).

Reparação socioeconômica

Em 2025, o equivalente a 54,0% da população indígena do Brasil estava inscrita no CadÚnico (Cadastro Único para Programas Sociais); no Rio Grande do Sul, 70,2%. Entre quilombolas, a proporção chegou a 67,3% no País e 93,4% no Estado.

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