Domingo, 16 de novembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 16 de novembro de 2025
Os dados mais recentes sobre a Amazônia mostram duas tendências que parecem caminhar em sentidos opostos. O balanço da temporada 2023/2024 registrou uma redução de 30,6% no desmatamento, com 6.288 quilômetros quadrados de floresta derrubados, o menor índice em quase uma década.
Quando o foco está no início de 2025, porém, o cenário se inverte. Os alertas do sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), mostram crescimento acelerado na área sob risco de destruição em abril e maio.
A repetição de meses com alta acendeu o alerta entre especialistas e autoridades. Uma parte expressiva desse avanço tem relação direta com as queimadas, que estiveram em alta nos últimos anos. A seca mais intensa e prolongada facilita a propagação do fogo, que nos meses recentes respondeu por mais da metade dos alertas de desmatamento.
O engenheiro ambiental Alessandro Bertolino, professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), diz que a redução da derrubada e o aumento do fogo não são movimentos opostos, mas processos diferentes que acontecem ao mesmo tempo.
Segundo ele, o desmatamento está ligado a abrir novas áreas, enquanto as queimadas podem ocorrer tanto em áreas já abertas quanto em trechos onde a vegetação permanece em pé.
“Mesmo com a redução do corte, o fogo pode estar sendo empregado como manejo de pastagens e resíduos agrícolas, e algumas condições climáticas mais secas ampliam a probabilidade de propagação”, afirma.
O engenheiro florestal Eraldo Matricardi, professor da Universidade de Brasília (UnB), acrescenta que a proporção de queimadas segue alta em pastagens, áreas agrícolas e até em vegetação nativa. Para ele, mesmo com menos desmatamento, o fogo continua se espalhando por diversos tipos de território.
“No processo de desmatamento, o fogo é quase sempre utilizado para limpar o terreno, mas as queimadas se estendem muito além das áreas recém-abertas”, afirma.
Quando as chamas avançam sobre ecossistemas naturais, os danos se multiplicam. “Os impactos comprometem o solo, a biodiversidade e a produção de água, além de aumentar as emissões de gases de efeito estufa”, aponta.
A dinâmica do fogo também evidencia desafios de fiscalização. Para o engenheiro florestal Jorge Antonio de Farias, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), o avanço das ações contra o desmatamento nos últimos anos não se refletiu com a mesma força no enfrentamento às queimadas.
“Hoje temos tecnologias que permitem identificar focos e desmatamentos em tempo real. É uma decisão política definir se o governo quer enfrentar isso de forma consistente”, afirma.
A geógrafa Cláudia Nascimento, professora da Universidade Católica de Brasília (UcB) e pesquisadora de temas ligados ao desenvolvimento sustentável na Amazônia, avalia que a permanência de queimadas em níveis altos mantém o bioma sob forte pressão, mesmo em um cenário de redução da derrubada.
“Apesar da queda do desmatamento, manter altos índices de queimadas na Amazônia gera impactos severos para o equilíbrio do bioma, o clima global e a saúde das populações locais”, alerta a especialista. (Com informações do portal de notícias Metrópoles)