Segunda-feira, 28 de abril de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 28 de abril de 2025
Com a gestão questionada após a Polícia Federal (PF) e a Controladoria-Geral da União (CGU) descobrirem um esquema bilionário de desvios em aposentadorias e pensões, o ministro da Previdência, Carlos Lupi, admite que houve demora em tomar medidas para conter as fraudes. Ele nega, porém, que tenha havido omissão de sua parte e diz não se sentir desconfortável em permanecer no governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
“No governo, tudo é demorado. Eu sabia o que estava acontecendo, das denúncias. Eu sabia que estava havendo um aumento muito grande (dos descontos nas mensalidades), que precisava fazer uma instrução normativa para acabar com isso e comecei a me irritar pela demora. Só que o tempo no governo não é o tempo de uma empresa privada”, afirmou em entrevista ao jornal O Globo.
A operação “Sem Desconto”, deflagrada na quarta-feira passada, apura descontos irregulares feitos por associações que possuem convênios com o INSS. Segundo as investigações, esses grupos podem ter desviado mais de R$ 6 bilhões nos últimos anos.
Com a revelação do esquema, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mandou demitir o presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, nomeado por Lupi e que vinha sendo defendido por ele.
“As dez associações que concentram 65% dos descontos fizeram grande investimento para atrair mais filiados. Todo mês, entra um milhão de pessoas pedindo aposentadoria, pensão, beneficio por incapacidade e cerca de 30% ou 40% desses procedimentos são aceitos. Como eu vou controlar isso? Antes de receber aposentadoria, você já recebe telefonema de oferta de empréstimo. É uma coisa muito difícil de controlar, é muita gente”, disse Lupi.
A ex-integrante do Conselho Nacional de Previdência Social (CNPS), a advogada Tônia Galleti, contrariou a versão apresentada pelo ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, sobre suposta reação da pasta contra denúncias de fraudes nos chamados descontos associativos, que somam R$ 6,3 bilhões de 2019 a 2024, segundo investigações.
Primeiro, a advogada teria alertado pessoalmente o ministro de maneira informal, em janeiro de 2023. Em seguida, como revelam atas do CNPS, Lupi foi informado sobre as irregularidades no INSS em junho de 2023 durante uma reunião do Conselho, mas levou cerca de um ano para tomar providências.
Tonia Galleti apresentou a situação durante reunião na qual Lupi presidia. Em sua defesa, Lupi disse que, além de Galleti, outras pessoas denunciaram casos de fraude, mas era preciso ter “fatos concretos para serem investigados”.
Lupi sustenta que a prova de que não foi omisso sobre as denúncias é a demissão do diretor de Benefícios, André Fidelis. “A diretoria responsável pela área começou a apurar o caso. O tempo foi passando, e o diretor (Fidelis) não apresentava nenhum relatório. Até julho de 2024, nada tinha andado, e eu demiti ele. Coloquei o Vanderlei (Barbosa), e em três meses ele apresentou, mostrando erros e falhas que existiam, mas vinham de uma herança”, afirmou o ministro.
Segundo a advogada, Lupi reconheceu a relevância do tema e disse que a denúncia exigia ampla apuração. Em seguida, teria indicado que o tema seria pautado no próximo encontro do conselho, o que não ocorreu.
“Não levaram para o conselho, não debateram o tema, não criaram, por exemplo, um grupo de trabalho com mais pessoas envolvidas. Acabou ficando uma situação bastante constrangedora porque parece que ninguém sabia e não é verdade. Todo mundo estava vendo o problema”, disse Galleti ao jornal O Globo, nesta segunda-feira (28).
Segundo a versão de Lupi sobre o caso, a então conselheira não voltou a levar o tema ao CNPS, por isso, a denúncia teria ficado de fora das reuniões seguintes. Galleti contestou essa versão.
A Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa da Câmara dos Deputados promove, nesta terça-feira (29), audiência pública sobre fraudes em repasses para entidades conveniadas ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
Na última quarta-feira (23), a Polícia Federal e a Controladoria-Geral da União (CGU) fizeram uma operação em 13 estados e no Distrito Federal contra fraudes no INSS, por desvios que ocorreram entre 2019 e 2024 e podem somar até R$ 6,3 bilhões.
Segundo as investigações, os envolvidos no esquema cobravam mensalidades indevidas, descontadas diretamente dos benefícios de aposentados e pensionistas.