Quarta-feira, 20 de agosto de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 19 de agosto de 2025
O economista-chefe da Moody’s Analytics, Mark Zandi, não ficou aliviado com os dados que apontam para uma retomada do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA no segundo trimestre, depois do recuo no primeiro trimestre. A avaliação dele, na verdade, é que a economia americana “está à beira da recessão”.
Em meio ao tarifaço imposto pelo presidente Donald Trump, setores como indústria, agricultura e construção já estão em território de contração, segundo Zandi. Mais importante: o avanço do emprego “está parando”, diz, após o fraco relatório de julho mudar a avaliação sobre o mercado de trabalho. Para ele, além disso, quando o cenário estiver mais claro, os consumidores arcarão com dois terços do impacto das tarifas.
Essas são opiniões que costumam ser ouvidas de Wall Street a Washington, mesmo quando desagradam. Frequentemente, o economista é chamado para apresentar as perspectivas econômicas ao Congresso. Quando a Moody’s Ratings rebaixou a nota soberana dos EUA em maio, foi Zandi o alvo da ira da Casa Branca – embora a Moody’s Analytics seja um braço de análise econômica que opera de forma independente da divisão de classificação de crédito.
A seguir, os principais trechos da entrevista:
É razoável esperar entre dois e três cortes de juros do Fed este ano?
Sim, porque mesmo que a inflação vá acelerar, a economia está enfraquecendo, o crescimento do emprego está parando e os riscos de recessão são muito altos. O Fed está dando mais peso à economia e ao seu mandato de pleno emprego do que à inflação por duas razões. Primeiro, acredita, mais ou menos apropriadamente, que os aumentos tarifários representam um aumento único na inflação, que não será persistente. Não acho que devamos estar excessivamente confiantes sobre isso, mas essa é a visão. E, segundo, os dirigentes do Fed desesperadamente querem evitar uma recessão, no contexto das pressões políticas que enfrentam. Há muita pressão em relação à independência do Fed e há até um movimento no Congresso para aprovar legislação que mudaria o Federal Reserve Act de 1913, que proporciona essa independência. O Fed estaria sob pressão tremenda, pois tais mudanças legislativas teriam probabilidade maior de ocorrer se a economia entrasse em recessão.
Quantos cortes o sr. espera?
Espero corte de juro de 0,25 ponto porcentual na reunião de setembro e, em seguida, 0,25 ponto porcentual a cada trimestre no próximo ano, até que a taxa dos Fed Funds atinja sua taxa de equilíbrio em 3%. Os juros agora estão em 4,25% (no limite inferior da banda), então isso implicaria em cinco cortes de juros entre agora e o final do próximo ano. O cenário base não prevê uma recessão, mas prevê uma economia muito fraca e, portanto, cortes de juros consistentes.
O sr. chegou a dizer recentemente que os EUA estão à beira da recessão. O que o levou a dizer isso?
Por causa dos altos e baixos no comércio, dados os aumentos tarifários, o crescimento na primeira metade do ano foi de pouco mais de 1%, muito fraco. O consumo das famílias ficou estagnado. Manufatura, construção, mineração, agricultura, transporte, distribuição já estão em recessão. Grandes partes da economia já estão se contraindo. E, mais importante, o crescimento do emprego praticamente parou. Se os números de empregos se tornam negativos, historicamente, isso sempre foi o início da recessão. Portanto, os riscos de recessão são muito altos. Estamos à beira de uma desaceleração forte. Nossa linha de base ainda não prevê uma recessão real, mas vai ser difícil navegar com toda a incerteza pendendo para o negativo.
Apesar da desaceleração do emprego, as demissões seguem baixas. Por quê?
As empresas estão nervosas em demitir, dado o mercado de trabalho apertado. E elas demitiram durante a pandemia e foram pegas de surpresa quando a economia voltou com força e tiveram de aumentar custos trabalhistas para trazer os trabalhadores de volta. Então, estão relutantes em demitir e se encontrarem em uma situação semelhante. O que fizeram, em vez disso, foi congelar contratações. Mas o próximo passo, se houver mais enfraquecimento na demanda do consumidor, é começar a demitir. E, se eles demitirem, isso é recessão. Esse é outro motivo pelo qual é razoável pensar que a economia está à beira de uma recessão. Com informações do portal Estadão.