Domingo, 18 de maio de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 11 de agosto de 2022
As luzes de monumentos da capital alemã estão sendo desligadas. Autoridades de Berlim e da Holanda pediram aos habitantes que tomem banhos mais rápidos. O premiê espanhol sugeriu abandonar as gravatas para enfrentar melhor o calor do verão. Novos limites às temperaturas do ar-condicionado na Espanha entrarão em vigor no país nesta semana.
Em toda a Europa, governos nacionais e locais pressionam pela redução do
consumo de energia, num momento em que a Rússia corta os envios de gás em
resposta às sanções pela invasão da Ucrânia. As restrições extras tiveram, até agora, impactos secundários, mas de longo alcance, sobre o cotidiano do continente, onde algumas piscinas públicas baixaram as temperaturas e as cidades desligaram a iluminação e fontes d’água.
As políticas adotadas, até agora focadas nos espaços públicos, visam a poupar
energia e contribuir para estocar reservas, dizem especialistas, além de enviar aos moradores a mensagem de que terão de restringir seu consumo. A intensidade dos sacrifícios poderá aumentar nos próximos meses, num momento em que países que dependem de gás russo se preparam para o inverno (de dezembro a março, no hemisfério Norte) e para a possibilidade de uma suspensão total do fornecimento.
As novas medidas se harmonizam com uma estratégia dos 27 países da União Europeia (UE) no mês passado. Em meio a preocupações de que a Rússia pare de vez de fornecer energia, o bloco aprovou um plano para economizar 15% de gás ao longo de oito meses e fixou prioridades para determinar quais atividade seriam as mais afetadas.
“Cada quilowatt-hora que pouparmos agora será guardado para o inverno”, disse Belit Onay, prefeito de Hanover, na Alemanha, que tem seu próprio plano para reduzir o uso de energia no município em 15%, divulgado em julho.
A cidade do norte da Alemanha baixou temperaturas de aquecedores de piscinas e academias públicas, ao mesmo tempo em que planeja cortar o aquecimento dos prédios municipais com a aproximação do inverno. Onay espera que as medidas sirvam de exemplo os 500 mil habitantes da cidade.
Isso posicionou a cidade para suportar os próximos meses, dependendo do quanto as temperaturas cairão, disse Onay. Ele alertou que o apoio do público a essas reduções poderá minguar com o passar do tempo se a guerra e a desestruturação energética se prolongarem até os primeiros meses do ano que vem.
Em Berlim, autoridades disseram que desligarão aproximadamente 1,4 mil luminárias em torno de espaços públicos e de pontos de referência da cidade, como a Coluna da Vitória, o Palácio de Charlottenburgo e o Museu Judaico. A cidade de Potsdam, nas proximidades, reduziu as temperaturas das piscinas e saunas públicas. Hoje, a temperatura de uma sauna.
Munique desligou a água quente em escritórios municipais e a maioria das fontes da cidade estão secas à noite. Aproximadamente 50% dos semáforos da cidade ficarão desligados fora dos horários de pico. Um porta-voz da prefeitura disse que as tendas da Oktoberfest deste ano não usarão aquecedores a gás em suas cervejarias ao ar livre neste ano.
Com a aproximação do inverno, as famílias, que respondem por mais de um terço do uso de gás na Alemanha, terão também de mudar estilos de vida ou suportar preços mais elevados, disse Veronika Grimm, membro do Conselho Alemão de Especialistas em Economia, um grupo de assessoria nomeado pelo governo. “Esse será um verdadeiro desafio”, afirmou.
Governos de toda a Europa adotaram medidas próprias. Autoridades holandesas estimularam os habitantes nos últimos meses a utilizar o chuveiro por menos de cinco minutos como parte da campanha de economia. A Itália restringiu o uso de ar-condicionado em prédios públicos para níveis não inferiores a 25°C e limitou o aquecimento em aproximadamente 21ºC.
Nesta semana, o governo espanhol seguiu o exemplo, restringindo o ar-condicionado em espaços públicos e comerciais a não menos que 27°C e fixando o máximo de aquecimento em 18,9°C para todo o ano de 2023. E determinou a instalação de portas automáticas para impedir a dispersão do ar. O governo estima que mudanças do comportamento poderão reduzir a demanda de energia em 5% em curto prazo.
A líder da região de Madri disse que sua comunidade não cumprirá as regras, e escreveu num tuíte que as restrições vão gerar insegurança e prejudicar o turismo.
Pere Alemany, membro do conselho executivo da Câmara de Comércio de Barcelona, disse que, embora as medidas sejam boas, teria de haver mais tempo para que o cumprimento das regras fosse fiscalizado. Disse também que seria proveitoso ter subsídios governamentais para que empresas de pequeno porte sigam as regras.
Para alcançar esse número e neutralizar a falta de gás russo, a produção de energia tem de crescer, enquanto os setores produtivos e as famílias terão de cortar o consumo, disse Georg Zachmann, professor do centro de pesquisas Bruegel, com sede em Bruxelas.