Domingo, 28 de abril de 2024

Europa passa a investir forte nos técnicos especialistas em bola parada

Traçar estratégias eficientes na bola parada tem virado assunto sério na Europa, onde muitos clubes nos últimos anos vêm apostando em técnicos especialistas no assunto. A estratégia é montada após um grande levantamento de dados e um extenso estudo do próprio elenco e também sobre o adversário. A especialização de funções na comissão técnica de times de futebol não é nova, desde a inserção de preparadores de goleiro até dos analistas de desempenho.

A última janela de transferências foi movimentada no futebol inglês não só envolvendo contratações de jogadores, mas também de treinadores específicos de bola parada. Na Inglaterra, o Arsenal tirou Nicolas Jover, do Manchester City, enquanto o Manchester United inaugurou a vaga com o jovem Eric Ramsey, de apenas 29 anos.

“O futebol é muito conservador, mas essa é uma tendência natural. É uma ferramenta que pode dar três, quatro pontos ao fim de uma competição e isso pode fazer a diferença para definir um título ou um rebaixamento de um time”, analisa Eduardo Dias, CEO do Footure, empresa de scouting e que também presta análise de desempenho para times e jogadores.

Na última Copa do Mundo, 42% dos gols saíram desse jeito. A seleção brasileira foi eliminada pela Bélgica por 2 a 1, sendo um dos gols em cobrança de escanteio. Além de 2018, a bola parada tem sido um problema recorrente para o Brasil em Mundiais anteriores, quando caiu para Alemanha (2014), Holanda (2010) e França (2006), com gols de escanteios e cobranças de falta.

A Itália foi a campeã do torneio com um especialista em bola parada e um das maiores referências da área: Gianni Vio. Dos 13 gols marcados pelos italianos na competição, apenas dois saíram assim, mas um deles foi o de empate contra a Inglaterra justamente na final da competição. Vio é um ex-banqueiro que atuou como assistente técnico em times menores nas horas vagas. São mais de 20 anos pesquisando e analisando escanteios, cobranças de falta e até laterais. Quando realizou o curso para ser treinador, escreveu a tese “Bola parada: o atacante de 15 gols”.

O livro que escreveu sobre bola parada, intitulado Aqueles 30% Extra, atraiu a atenção do ex-goleiro italiano Walter Zenga, que convidou Vio para integrar sua comissão técnica no Catania em 2008, quando a equipe lutava contra o rebaixamento no Campeonato Italiano. Em seu primeiro jogo, diante do Napoli, na vitória por 3 a 0, um gol saiu de cobrança de falta e outro de escanteio. Eram jogadas ensaiadas. No fim do torneio, foram 17 dos 44 gols em bola parada – quase 40%. O time conseguiu permanecer na primeira divisão.

Vio também passou por Fiorentina e Milan, também da Itália, além dos ingleses Brentford e Leeds. No ano passado, recebeu uma ligação do técnico da seleção italiana, Roberto Mancini, para fazer parte da comissão técnica nacional. O convite foi logo aceito e a parceria rendeu o título europeu neste ano.

Vio conta com um arsenal de mais de quatro mil variações de jogadas de bola parada. Cada estratégia é adaptada aos pontos fortes de cada jogador. “Você precisa analisar os atletas que possui e encontrar soluções sob medida para suas habilidades”, disse ao jornal La Nuova di Venezia.

Rogério Ceni

No ano passado, Vio ajudou o técnico Rogério Ceni, à época no comando do Fortaleza, para melhorar o desempenho da equipe no quesito. Assistente de Ceni, o francês Charles Hembert usou dos seus contatos no futebol europeu para falar com o italiano. Tanto a comissão técnica de Ceni quanto Vio trocaram arquivos de vídeos, dados e análises para corrigir erros e aprimorar acertos da bola parada do time cearense. Também no ano passado, o então técnico do Flamengo, Domènec Torrent, contava com o auxiliar Jordi Guerrero, especialista na função, mas o futebol brasileiro ainda não abraçou a nova tendência.

“A bola parada é uma fronteira pouco explorada no futebol, especialmente, no Brasil. São várias resistências culturais. Tem muita margem de melhora nos clubes brasileiros nesse aspecto. O jogo mudou para o que foi no passado. Hoje, você tem aspectos que dificultam mais: há goleiros maiores e mais ágeis que antigamente, tem times que colocam jogador deitado atrás da barreira”, analisa Dias.

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