Segunda-feira, 30 de junho de 2025

Evangélicos se dividem sobre política nas igrejas

Fenômeno importante na última década, a forte ligação do protestantismo brasileiro com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) passou a ganhar novas análises com a divulgação do Censo 2022 no começo deste mês. Os dados mostram que diminuiu o ritmo de crescimento do número de crentes no Brasil — o que não era esperado pelas denominações nem por uma ala de pesquisadores. Uma das hipóteses que se tem debatido é se o movimento político pode ter prejudicado o campo religioso.

O Censo 2022 apontou que 26% da população brasileira com mais de 10 anos são formados por evangélicos, um importante contingente de 47 milhões de pessoas. Em 2010, o segmento correspondia a 21,6%. Apesar do crescimento expressivo, analistas projetavam um patamar de 30%. Além disso, o crescimento foi percentualmente maior nas duas edições anteriores do levantamento realizado a cada dez anos pelo IBGE.

Ao mesmo tempo, o país viu uma forte associação entre o segmento em franca expansão com o bolsonarismo. Na véspera do segundo turno das eleições de 2022, o Datafolha indicou que 69% dos votos válidos dos evangélicos iriam para a reeleição do então presidente Bolsonaro. As últimas pesquisas de opinião a respeito do governo Lula confirmam a distância desse eleitorado com a esquerda: em nenhum momento nesses dois anos e meio de mandato a reprovação do petista neste grupo caiu abaixo de 52%. E o último levantamento, de maio, mostra que o patamar chegou a 66%.

Pautas do campo da esquerda, como a defesa do aborto em casos previstos em lei, do casamento de pessoas do mesmo sexo e da descriminalização das drogas, são fortemente combatidas por lideranças evangélicas.

Para a professora do departamento de Sociologia da Universidade Federal Fluminense (UFF) Christina Vital, que coordena o Laboratório de Estudos em Política, Arte e Religião (LePar) na instituição, os evangélicos já sofrem preconceitos ligados à questão racial e de classe e essa forte associação com o bolsonarismo traz mais um estigma.

“Soma-se a questão do conservadorismo político, de serem identificados como aqueles que são antagônicos a direitos, quando isso não é a verdade da maior parte dos evangélicos. Algumas lideranças capturam os evangélicos e a narrativa evangélica para firmar um lugar de conservadorismo, de fundamentalismo, que às vezes não se sustenta na base social evangélica”, diz a pesquisadora.

De acordo com o sociólogo especializado em religião Paul Freston, essa associação do campo religioso a um lado da política pode ter um “preço a pagar em termos de adesões”. Christina Vital percebe outro risco: o cansaço gerado pela tensão política polarizada tende a causar abandono de fiéis, como aconteceu com Josela, ainda maior do que criar uma barreira de entrada. A discussão também chegou a lideranças religiosas. Enquanto a maior parte delas questionou os dados do Censo ou minimizou as descobertas, a tese de que a politização dos templos atrapalhou a igreja foi defendida em um culto pelo pastor Aluizio Dias, da Igreja Videira.

“O ritmo de crescimento caiu. E a causa disso foi o bolsonarismo. Quando os pastores no púlpito resolveram assumir politicamente algo, fecharam a porta da igreja para um montão de gente. Não as pessoas da esquerda, mas de pessoas que não querem se identificar com um segmento. Isso é distração do maligno”, discursou o pastor, que é próximo de Pablo Marçal, o ex-coach que disputou a prefeitura de São Paulo em 2024.

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