Segunda-feira, 17 de novembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 17 de novembro de 2025
No domingo (16), a agenda cultural da COP30 ganhou destaque com a realização de um painel sobre o legado de José Lutzenberger e o lançamento nacional do documentário Sociedade Regenerativa. O evento aconteceu na Casa BNDES, instalada no histórico Complexo dos Mercedários, no bairro da Cidade Velha, em Belém (PA). O prédio, datado do século XVIII, foi restaurado com recursos do BNDES e será administrado pela Universidade Federal do Pará (UFPA) após o encerramento da conferência.
O painel “Legado Lutzenberger” reuniu nomes de peso da ciência e do ambientalismo brasileiro. A Dra. Irene Carniatto, educadora ambiental premiada 22 vezes por sua atuação, participou do debate e segue agora para a Argentina, onde será novamente homenageada. Também compôs a mesa o jornalista Sérgio Xavier, coordenador do Fórum Brasileiro de Mudança do Clima e enviado especial da COP30, nomeado pelo presidente da conferência, André Corrêa do Lago.
O painel contou ainda com Arnildo Schildt, veterano de 24 edições da COP, coordenador de mais de cem projetos ambientais e atualmente envolvido em iniciativas de mobilidade logística no Rio Grande do Sul. O cientista Paulo Nobre, pós-doutor e pesquisador do INPE, foi convidado a se juntar ao grupo e fez um depoimento emocionante sobre como Lutzenberger influenciou sua trajetória científica.
José Lutzenberger foi lembrado como um dos pioneiros da consciência ambiental no Brasil. Começou sua militância em 1971, aos 45 anos, após uma carreira internacional como executivo da empresa alemã BASF. Ao se deparar com o desenvolvimento de agrotóxicos, teve um despertar ético e passou a dedicar sua vida à defesa do planeta. Atuou por três décadas, até sua morte em 2002. Em 2026, será celebrado o centenário do seu nascimento.
Durante o painel, foram destacadas suas amizades com Ailton Krenak, Chico Mendes e James Lovelock, além de sua forte base filosófica e ética. Lutzenberger foi o precursor da Teoria de Gaia no Brasil, que vê o planeta como um organismo vivo e interconectado. Essa visão embasou sua atuação como Ministro do Meio Ambiente entre 1990 e 1992, durante o governo Collor. Embora tenha sido demitido poucos meses antes da RIO-92, sua participação nas reuniões preparatórias foi decisiva para a construção da agenda positiva da conferência, que resultou na criação da UNFCCC, órgão da ONU responsável pela realização das COPs.
O painel também abordou sua atuação em defesa da Floresta Amazônica, por meio de artigos, palestras e denúncias internacionais. Sua integridade, embasamento científico e pioneirismo foram reconhecidos como fundamentais para a formação da consciência ambiental brasileira.
O documentário Sociedade Regenerativa, dirigido por Pedro Zimmermann e produzido pela OKNA Produções, foi exibido após o painel. Com 52 minutos de duração, o filme apresenta o Rincão Gaia, propriedade rural fundada por Lutzenberger no Rio Grande do Sul, que se tornou referência em manejo sustentável, agroflorestas, bioconstruções e educação ambiental. O documentário traz depoimentos de pensadores como Lara Lutzenberger, Rualdo Menegat, Ailton Krenak e Mia Couto, e propõe alternativas de desenvolvimento capazes de superar os impactos humanos sobre os ecossistemas.
Durante o evento, Paulo Nobre sugeriu que o BNDES passe a se chamar Banco Nacional de Desenvolvimento Ecológico, Econômico e Social, como forma de alinhar sua missão aos desafios do aquecimento global. A proposta foi apoiada pelos painelistas e deverá ser encaminhada à presidência do banco.
Enquanto isso, a Blue Zone teve programação suspensa, conforme previsto no cronograma oficial da COP30. O domingo foi reservado para revisão de documentos e preparação para a reta final da conferência. A Green Zone, voltada ao público geral, também esteve fechada, com retorno previsto para segunda-feira. Com isso, os eventos paralelos ganharam força, espalhando atividades culturais por diversos pontos da cidade.
O evento em homenagem a Lutzenberger foi considerado um dos pontos altos da agenda cultural da COP30. A sugestão de renomear o BNDES é um sinal de que seu legado continua reverberando, inspirando novas gerações e reafirmando a urgência de uma transformação ecológica profunda.
* Renato Zimmermann, desenvolvedor de negócios sustentáveis e ativista da transição energética