Sexta-feira, 20 de junho de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 4 de outubro de 2022
Maior referência do tênis brasileiro, Gustavo Kuerten está otimista quanto ao futuro da modalidade no País. O catarinense avalia que o momento atual é “promissor” e que a nova geração já conta com bons candidatos a dar o “pulo do gato” nos próximos anos. Para o tricampeão de Roland Garros, o eventual sucesso dos garotos e garotas do tênis nacional será consequência natural dos bons resultados obtidos pela geração atual, encabeçada no momento por Beatriz Haddad Maia.
“A Bia hoje é a grande detentora da bandeira do nosso tênis”, diz Guga ao Estadão, ao mencionar a tenista que acompanha desde os primeiros passos em quadra. A atual número 15 do mundo, melhor colocação da história de uma tenista brasileiro no ranking de simples, iniciou sua carreira com Larri Passos, ex-treinador do próprio Guga.
Para o ex-número 1 do mundo, Bia está abrindo caminho para novas tenistas brasileiras. “Ela é o exemplo para o tênis feminino, é quem está trazendo as meninas para dentro da quadra. O esporte ainda é um ambiente mais masculino e essa inspiração que ela causa aproxima as meninas. E isso facilita ser profissional? Teremos muitas meninas jogando agora? Isso vai depender de inúmeros fatores. Mas é uma contribuição importante.”
Guga cita sua própria trajetória. “Nós vimos isso acontecer em 1997”, afirma, lembrando seu primeiro título em Roland Garros. “Na época em que fui número 1 do mundo, veio o André Sá, o Flávio Saretta, o Ricardo Mello. Teve um momento em que tínhamos quatro brasileiros jogando Grand Slam ao mesmo tempo.”
A rápida evolução de Bia nesta temporada não surpreende o catarinense. “A gente sabia que ela iria vingar. Mas aí ela se machucava. Ficava me perguntando: ‘quando ela vai acontecer?’. Eu sempre dizia que ela precisaria jogar uns dois ou três anos seguidos sem ter nenhum tipo de intervenção para virar Top 30 do mundo.”
Guga vê a compatriota entre as dez melhores do mundo nas próximas temporadas. “Terminando entre as 20 melhores, se estabilizando em dois ou três anos, vai acontecer naturalmente de chegar entre as 10. Tem capacidade para isso. É uma questão de amadurecimento, dentro de um nível que já é extraordinário. Chegar tão longe assim é muito difícil”, valoriza.
O ex-tenista espera que a ascensão de Bia seja melhor aproveitada pelo tênis brasileiro do que foi sua própria trajetória no topo. “Essa conquista tem de ser bem aproveitada, extrair o máximo da motivação para trazer as meninas para dentro do esporte. No meu caso, o passo seguinte da renovação precisava ter sido mais eficiente.”
Candidatos a brilhar
Se a lição de Guga for assimilada pelo tênis brasileiro, o “pulo do gato” pode acontecer daqui a pouco tempo. Os jovens Pedro Boscardin (19 anos), João Fonseca (16) e Matheus Pucinelli (21) são os nomes mais lembrados por Guga. “O Matheus está num processo bem legal de amadurecimento, tentando conquistar esse espaço, de estar no Top 200, quem sabe no Top 100. Ali é muito difícil de sair. Deu para ver com o Thiago Monteiro, que entra direto nos Grand Slams, sente o gostinho de estar lá dentro. E aí o cara se motiva mais, convive com os melhores.” Pucinelli é o atual 193º do mundo.
Monteiro, número 1 do Brasil e 63º do ranking, também é inspiração, do lado masculino. “Para um garoto de 16 anos, é importante ter alguém como o Thiago entre os 60 do mundo, um outro em 120º ou 150º. Os passos seguintes se tornam mais visíveis, mais palpáveis. O cenário está bacana. Acredito que daqui a uns cinco aninhos a gente tenha boas respostas.”
Um dos motores desta “engrenagem”, como explica Guga, é o retorno de torneios no Brasil, que ficou carente de competições de nível ITF e ATP nos últimos 10 anos. “Esses torneios que estão sendo feitos na América do Sul contribuem muito. Trazem os argentinos todos que são 120, 150 do mundo. Para a garotada, é importante estar mais perto dos torneios, se acostumar com essa vivência.”
O próximo desafio, na avaliação do ex-atleta, é colocar um número maior de tenistas brasileiros dentro do Top 100 e Top 200 dos rankings masculino e feminino. “Ainda não existe no horizonte essa capacidade de colocar três, quatro ou cinco no Top 100. Mas podemos fazer uma segunda geração maior a partir de agora. E depois a coisa vem de arrasto porque um chama o outro”, projeta.