Domingo, 30 de novembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 30 de novembro de 2025
A quatro meses de completar 80 anos, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu é sempre consultado por políticos de vários matizes ideológicos: do PT ao Centrão, do MDB ao PL do ex-presidente Jair Bolsonaro. “Sabe por que o diabo é sábio?”, pergunta, olhando por cima dos óculos. Ele mesmo responde: “Porque é velho”.
Nos últimos dias, Dirceu assumiu papel de destaque na montagem da campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à reeleição. Ao resgatar a credencial de articulador político do partido, que comandou de 1995 a 2002, o ex-ministro afirmou que nenhum candidato da direita ganhará votos defendendo anistia a Bolsonaro, mas também não conseguirá se livrar dele.
“Bolsonaro não vai sair de cena. Isso é uma ilusão. O bolsonarismo tem um problema para resolver”, avaliou Dirceu, em entrevista. “Ninguém forma maioria pregando indulto para Bolsonaro”.
O desafiante de Lula pelo campo conservador, no seu diagnóstico, será o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que receberá um “ultimato” da elite para entrar no páreo.
Cassado pela Câmara em 2005, após o escândalo do mensalão, Dirceu foi preso oito anos depois, acusado de chefiar um esquema de compra de votos no Congresso. Retornou à prisão outras três vezes, na esteira da Lava Jato. Em 2024, suas últimas condenações foram anuladas e, no ano que vem, ele disputará uma cadeira de deputado federal.
Na nova plataforma petista sob sua batuta haverá diretrizes para o partido nas próximas décadas. “A construção do pós-Lula passa pela reconstrução do PT”, observou Dirceu, que defende a criação de um ministério exclusivo para cuidar da segurança pública.
Veja os principais trechos da entrevista:
O sr. chegou a dizer que o ex-presidente Jair Bolsonaro não tinha condições de ir para a prisão fechada e deveria ficar em domiciliar por ser muito instável, além de ter a saúde debilitada. Agora, o sr. ainda acha que ele deve cumprir a pena em casa?
Bolsonaro tem que cumprir a pena no regime que a Justiça achar adequado, a partir das condições de saúde dele. Agora, ele tem um agravante porque tentou fugir. Eles iam fazer um tumulto e ele ia fugir, provavelmente para a embaixada americana. Eu cumpri minha pena. Eu não fugi.
O sr. já foi preso várias vezes. Se pudesse dar um conselho a Bolsonaro sobre prisão, qual seria?
Eu não vou dar conselho nenhum para o Bolsonaro, porque ele não merece. Bolsonaro sempre defendeu prisão perpétua e justificou a tortura. Eles já apresentaram proposta de pena de morte no Brasil. Agora, hipocritamente, querem apresentar projetos para mudar o Código Penal e, conforme o tipo de crime, reduzir as penas. O que eles querem é impunidade.
Mas o PT também recorreu ao discurso de perseguição política quando o presidente Lula e até mesmo o sr. foram presos…
A diferença é que Bolsonaro tentou dar um golpe de Estado e, ainda, tentando envolver as Forças Armadas. É um crime gravíssimo, de alta traição, porque os militares têm o compromisso de honra de defender a Constituição e o Brasil como uma nação soberana. Ele fez o plano “Punhal Verde e Amarelo”, que previa o assassinato do presidente Lula, do vice-presidente Geraldo Alckmin e do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes. Imagine o terror que seria desencadeado no País e o que iria acontecer conosco.
A Polícia Federal concluiu que o quarto nome a ser abatido, de codinome Juca, seria o sr. Em algum momento o sr. foi ameaçado?
Não. Mas o STF fez muito bem em julgar e condenar. Há uma tentativa de desqualificar a destruição da Câmara, do Senado, do Palácio do Planalto, do STF. É como destruir a Casa Branca. Percebe? É como destruir o Palácio do Planalto. Não dá para tratar isso como uma arruaça.
O bolsonarismo sem Bolsonaro morreu?
Não. Primeiro que o Bolsonaro está aí. Ele não vai sair de cena. Isso é uma ilusão. Por que a pessoa está presa sai de cena? Não necessariamente. Ele tem um filho senador, um filho deputado, um filho vereador, esposa que quer ser candidata a senadora e tem outro filho que quer ser candidato a senador. Ele tem um partido, o PL. Eu não vejo assim.
Mas ele está perdendo apoio…
O bolsonarismo não será mais maioria no País. Nós temos condições de ser maioria, fazendo alianças. Ele vai ser coadjuvante numa próxima eleição. Aquela imagem do Bolsonaro com a tornozeleira (queimada com ferro de solda) foi patética. Ridícula. Com informações do portal Estadão.