Quinta-feira, 03 de julho de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 1 de julho de 2025
O ex-secretário de comunicação do governo de Jair Bolsonaro (PL), Fábio Wajngarten, negou ter atrapalhado as investigações da suposta trama golpista e buscado informações sobre a delação do tenente-coronel Mauro Cid.
As afirmações ocorreram em depoimento simultâneo a de advogados de réus na superintendência da Polícia Federal (PF) de São Paulo, nesta terça-feira (1°). Ele alega que foi procurado pelo pai do ex-ajudante de ordens na mesma época em que Cid firmou acordo de delação, mas apenas para inscrever uma de suas filhas numa competição de hipismo.
“Fui demandado pelo general Lorena Cid para inscrever a neta numa competição de hipismo em São Paulo, no mês de agosto de 2023. Eu telefonei para o Paulo Bueno e ele procedeu com a inscrição da Giovana, a filha mais velha, e por uma feliz coincidência ela venceu o campeonato aqui na hípica de São Paulo. Assim se deram os contatos e as ligações, se é que houve, não me recordo”, disse.
Ele negou ter feito qualquer outro contato com familiares após esse episódio, apesar da “relação amistosa” que tinha com Cid, responsável por abastecê-lo de informações durante “crises de imprensa” de Bolsonaro ao final do mandato.
“Em hipótese alguma houve tentativa de desorganizar, de tumultuar, de atrapalhar qualquer investigação que seja, e estou estudando entrar com uma ação de denunciação caluniosa a quem quer que seja por essa tentativa de intimidar a defesa do presidente.
Wajngarten não soube dizer se esse contato ocorreu antes ou depois de Cid decidir colaborar com a Justiça e que a linha do tempo era “confusa”.
Em postagens nas redes sociais, o advogado afirmou que o depoimento “transcorreu dentro da maior normalidade com máxima educação e respeito”:
“Respondi todas as perguntas, reafirmando minha total indignação pela necessidade de comparecer ao depoimento tendo em vista meu histórico comportamental, meu total compromisso com o que prega a legislação, meu absoluto repúdio à tentativa de acusar-me de tentar obstruir a investigação, sendo que jamais tive qualquer ação que visasse tumultuar, desorganizar, embaralhar qualquer fase ou ato investigativo. Ao final afirmei que estudo medidas cabíveis a quem de direito para ingressar na justiça com a Ação de Denunciação Caluniosa”, escreveu.
Além de Wajngarten, a PF ouviu um dos advogados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Paulo Amador da Cunha Bueno, e Eduardo Kuntz, que defende o coronel Marcelo Câmara, em depoimentos simultâneos, em salas separadas. As oitivas ocorrem por suspeitas de obstrução de Justiça no caso da trama golpista. Bueno deixou o local cerca de 40 minutos depois do horário marcado. Wajngarten levou mais de duas horas, e Kuntz ainda não havia deixado a sede da PF até o fim da tarde.
Kuntz informou ao STF, no dia 17, que conversou com Cid por uma conta no Instagram sobre a sua delação premiada, o que violaria o sigilo do acordo. O documento inclui um print da tela em que Cid faz um sinal de positivo com uma das mãos enquanto segura o celular e supostamente estaria logado no perfil fake.
Antes de Kuntz entregar ao STF as referidas mensagens, o advogado Celso Vilardi, da defesa de Bolsonaro, perguntou a Cid durante o interrogatório no STF, em 9 de junho, se ele havia conversado sobre o conteúdo de sua delação com outras pessoas pelo Instagram. Ele negou. Em seguida, Vilardi questionou se ele conhecia um perfil chamado “GabrielaR702”. Cid respondeu que Gabriela é o nome de sua esposa, mas que não sabia se esse era o perfil dela. Dias depois, a revista Veja publicou mensagens atribuídas a esse perfil, sobre a delação de Cid.
O objetivo dos advogados de Bolsonaro e de Câmara é invalidar o acordo de colaboração premiada de Mauro Cid e todas as provas derivadas dele, em um efeito cascata para derrubar os principais elementos da denúncia da Procuradoria-Geral da República.
Ao STF, os advogados do tenente-coronel negaram que ele fosse o autor do diálogo e pediram a investigação da conta. Moraes atendeu ao pedido e determinou que a Meta enviasse os dados. Nos dados enviados pela Meta, há o registro de uma conversa entre Kuntz, o perfil “GabrielaR702” e Paulo Amador Cunha Bueno. Com informações do jornal O Globo.