Domingo, 09 de novembro de 2025

Exército quer distância de condutas individualizadas de militares

A cúpula do Exército quer afastar a imagem da instituição da contaminação de “atos ideológicos” cometidos pelos militares. Parte dessas condutas foi relatada pelo hacker Walter Delgatti Neto em depoimento à CPI dos Atos Extremistas no Congresso.

O hacker afirmou ter ido cinco vezes ao Ministério da Defesa, inclusive conversando com o então ministro da pasta, general Paulo Sérgio, em uma dessas ocasiões. O objetivo, segundo Delgatti, era discutir aspectos técnicos das urnas eletrônicas e de seu código-fonte.

Na ocasião, representantes das Forças Armadas participavam da comissão de fiscalização eleitoral do TSE, destinada a averiguar a segurança do processo eleitoral.

O hacker está preso por ter cometido uma série de crimes. Mesmo com essa “ficha corrida” já em conhecimento público, Delgatti foi recebido pelos militares para essa série de reuniões em um tema sensível e estratégico.

A cúpula do Exército pretende agora agir com “distanciamento” – e tratar como “condutas individualizadas”. Nos bastidores, o entendimento é de que, se confirmadas, essas reuniões acontecerem fora do arco institucional convencional.

Relatório oficial

O hacker Walter Delgatti Neto disse em depoimento à CPI dos Atos Golpistas que “orientou” a íntegra do conteúdo do relatório do Ministério da Defesa sobre as urnas eletrônicas entregue ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em novembro de 2022, após as eleições presidenciais.

O relatório não apontou qualquer fraude na votação, mas pediu que o TSE fizesse “ajustes” no sistema eleitoral já rejeitados tecnicamente por entidades fiscalizadoras e disse que não era possível atestar a “isenção” das urnas.

A posição do Ministério da Defesa, sugerindo dúvidas sobre a isenção das urnas, divergiu de todas as demais entidades fiscalizadoras nacionais e internacionais. Essas entidades foram unânimes em comprovar que a urna eletrônica é segura e que as eleições foram limpas.

“Então, tudo isso que eu repassei a eles consta no relatório que foi entregue ao TSE. Eu posso dizer hoje que, de forma integral, aquele relatório tem exatamente o que eu disse, não tem nada menos e nada mais”, prosseguiu.

O relatório da Defesa foi algo inédito nas eleições de 2022, criado após pressão do então presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro – que insistiu pela participação das Forças Armadas como entidades fiscalizadoras do processo.

Assessoria

Durante seu depoimento, Delgatti também mencionou integrantes da corporação que teriam pedido para que fossem checados dados de relatórios fraudulentos sobre o processo eleitoral, que colocavam em cheque a segurança das urnas eletrônicas.

Aos parlamentares, Delgatti Netto afirmou que mantinha contato com o coronel Marcelo Jesus, que atuava no Alto Comando do Exército.

“Na época havia relatórios de um argentino que fez uma live. Ele me enviava e pedia que eu autenticasse, só que com dados que estavam no TSE, porque o relatório pega o banco de dados. A ideia dele era que eu fosse no relatório, fosse até o site e confirmasse se realmente aquele dado que estava no relatório constava no site do TSE. Então, por diversas vezes eu realizei essa autenticação de relatório a ele”, disse Delgatti Netto.

Ele se referia ao vídeo do canal “La Derecha Diário” no YouTube, com informações falsas sobre as eleições brasileiras, do consultor Fernando Cerimedo, que chegou a ser retirado do ar pelo TSE em novembro do ano passado. Cerimedo é amigo do deputado federal Eduardo Bolsonaro.

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