Domingo, 02 de novembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 1 de novembro de 2025
A felicidade não é mais apenas um tema filosófico. Diversos estudos científicos começam a demonstrar que esse estado emocional tem implicações diretas para a saúde pública. Além de ser uma sensação subjetiva, a felicidade pode ser mensurada e, segundo novas descobertas, até mesmo influenciar a expectativa de vida.
Um estudo recente sugere que, assim como parar de fumar, atingir um certo nível de bem-estar pode nos proteger de doenças que encurtam a vida.
Uma equipe da Universidade de Alba Iulia (Romênia), liderada pela Professora Iulia Luga, analisou a relação entre felicidade e mortalidade em um estudo publicado na Frontiers in Medicine. “Mostramos que o bem-estar subjetivo, ou felicidade, parece atuar como um trunfo para a saúde da população apenas quando um limite mínimo de aproximadamente 2,7 na escala da Escada da Vida é ultrapassado”, explica Luga.
Esta escala mede percepções pessoais de bem-estar de 0 a 10, com 0 representando a pior vida possível e 10, a melhor. Os dados foram coletados entre 2006 e 2021, abrangendo 123 países, com base em estatísticas globais de saúde e pesquisas de opinião pública.
Acima do limite de 2,7, o estudo constatou uma redução notável na mortalidade por doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs). “A escada da vida pode ser visualizada como uma escala simples de felicidade de 0 a 10, onde 0 representa a pior vida possível e 10, a melhor. As pessoas imaginam onde estão atualmente nessa escada”, acrescenta o pesquisador.
Abaixo do limite
Uma pontuação de 2,7 está no limite inferior do bem-estar. “Um adjetivo que se encaixaria nesse nível seria ‘mal conseguindo sobreviver’”, observa Luga. No entanto, ultrapassar esse limite pode fazer a diferença: cada aumento de 1% na felicidade está associado a uma redução de 0,43% na taxa de mortalidade por DCNT entre 30 e 70 anos.
O estudo não encontrou efeitos negativos associados a altos níveis de felicidade. “Dentro da faixa observada, não encontramos evidências de efeitos adversos da felicidade ‘excessiva’”, diz Luga. Em contraste, aqueles que permanecem abaixo do limite não apresentam melhorias mensuráveis na saúde, sugerindo que melhorar o bem-estar básico é um primeiro passo necessário.
Os países com melhor desempenho tendem a investir mais em saúde pública, ter redes de segurança social mais fortes e governos mais estáveis. Durante o período analisado, a média global na escala de felicidade foi de 5,45, com pontuações variando de 2,18 a 7,97.
Ciclo virtuoso
Os pesquisadores alertam que as pontuações de felicidade são autorrelatadas, portanto, podem refletir vieses culturais ou diferenças na interpretação das perguntas. Ainda assim, os resultados sugerem que a promoção de políticas que aumentem o bem-estar coletivo (como a redução da obesidade, a limitação do consumo de álcool, a melhoria da qualidade do ar e o aumento dos gastos per capita com saúde) pode ter um impacto tangível na longevidade.
“Identificar esse ponto de inflexão pode fornecer evidências mais precisas para políticas de saúde”, conclui Luga. “A felicidade não é apenas um sentimento pessoal, mas também um recurso mensurável para a saúde pública.”
Conclusões do estudo
• Limiar crítico: os benefícios para a saúde aparecem quando a felicidade excede 2,7 pontos na escala de vida.
• Efeito progressivo: um aumento de 1% no bem-estar reduz a mortalidade por doenças crônicas não transmissíveis em 0,43% entre os 30 e os 70 anos de idade.
• Fatores associados: obesidade, álcool, poluição, urbanização e governança influenciam os resultados.
• Limitações: dados autorrelatados podem ser tendenciosos e podem não refletir diferenças regionais ou grupos vulneráveis. (As informações são de O Globo)