Segunda-feira, 03 de novembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 15 de março de 2022
Em meio às celebrações dos 250 anos de Porto Alegre, a Fundação Iberê Camargo mantém a exposição “No Andar do Tempo”. São 38 obras do acervo do artista plástico gaúcho Iberê Camargo (1014-1994), incluindo pinturas e desenhos, que podem ser visitadas nas tardes de quinta-feira (com entrada franca) e de sexta a domingo, até 31 de julho.
A mostra propõe um passeio pelo olhar do artista por locais-chave da capital gaúcha, como a Catedral Metropolitana, Praça da Matriz, Ponte de Pedra, Rua da Praia, Usina do Gasômetro, Parque da Redenção e bairro Cidade Baixa, além do Guaíba e o pôr-do-sol.
Nascido em Restinga Seca (Região Central do Estado), Iberê mantinha fortes laços com a cidade que adotou em 1935. Esse sentimento é evidenciado não apenas em imagens, mas também em palavras, a exemplo do que escreveu em sua carta de agradecimento à Câmara de Vereadores pelo título Cidadão de Porto Alegre, em 1970:
“Gosto de perambular, sonhando, pelas tuas mais antigas ruas cheias de sol e poesia. Olaria [atual Lima e Silva], Varzinha [Demétrio Ribeiro], Arvoredo [Fernando Machado]. Oh! A Rua da Praia dos encontros e namoros! Praça da Alfândega, do Portão, da Matriz… são ilhas cheias de verde e de luz. Lugares cheios de histórias… O caminho, amigos, é o rasto do homem.. Porto Alegre, perto ou distante, vejo-te refletida no Guaíba que tem feição de mar, onde todas as tardes o sol se esvai num lençol de sangue…”.
Ao final da vida, Iberê e a esposa Maria Coussirat Camargo se mudaram para o bairro Nonoai (Zona Sul), na parte alta da cidade. O pôr-do-sol visto da janela de seu ateliê inspirava, por exemplo, o astro vermelho que se apresenta misteriosamente em um estudo e em uma guache de sua fase final, bem como no alaranjado que inunda o fundo de sua última pintura, “Solidão”, realizada em 1994, ano em que faleceu, vítima de câncer.
Organizadores da exposição, Eduardo Haesbaert e Gustavo Possamai sublinham que Iberê retratou uma vida urbana que se organizava ao redor de espaços do Centro e arrabaldes próximos nos anos 1940:
“Trata-se de uma forma de cultura pública, que englobava as elites e as camadas médias urbanas”, observam. “Alguns artistas eram vistos nas esquinas, em meio ao povo, no local onde estava concentrada a maioria das casas comerciais, repartições públicas, bancos, escritórios, consultórios, lojas comerciais, hotéis, cafés, restaurantes e até pequenas fábricas.”
Serviço
– Exposição “Iberê e Porto Alegre – No Andar do Tempo”, com 38 pinturas e desenhos do artista plástico gaúcho Iberê Camargo (1914-1994).
– Local: Fundação Iberê Camargo: Avenida Padre Cacique nº 2.000, bairro Cristal (Zona Sul).
– De quinta-feira a domingo, até 31 de julho (entrada franca às quintas). Informações: iberecamargo.org.br.
(Marcello Campos)