Sexta-feira, 24 de outubro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 24 de outubro de 2025
A fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante entrevista coletiva em Jacarta, na Indonésia, nessa sexta-feira (24), gerou uma das maiores ondas de reação digital do segundo semestre. Conforme levantamento da Ativaweb DataLab, a declaração de que “os traficantes são vítimas dos usuários” mobilizou 15,6 milhões de menções nas redes sociais em apenas 10 horas. De acordo com a Ativaweb, a fala se tornou o principal gatilho de polarização política do mês de outubro, com “disseminação acelerada e forte carga emocional nas plataformas”.
O estudo, que analisou publicações nas redes Facebook, Instagram, X (antigo Twitter), TikTok e YouTube, mostra que a repercussão cresceu 176% nas dez primeiras horas, em relação às primeiras duas horas de análise. A frase foi dita quando Lula criticava a política antidrogas dos Estados Unidos sob o governo de Donald Trump, que classificou cartéis como organizações terroristas e promoveu ataques a embarcações suspeitas no Caribe e no Pacífico.
“Os usuários são responsáveis pelos traficantes, que são vítimas dos usuários também”, disse o presidente, ao defender que o combate às drogas deve incluir medidas voltadas à redução da demanda e respeito à soberania dos países.
Tom crítico
De acordo com o Índice de Sentimento Ativaweb (ISA), 69,8% das menções tiveram tom negativo, enquanto 15,9% foram positivas e 14,3% neutras. As expressões mais recorrentes foram “vergonha nacional”, “inversão de valores” e “defesa de criminosos”. Entre apoiadores, as tentativas de contextualizar a fala como uma discussão sobre as causas sociais do tráfico não conseguiram conter o avanço das críticas.
O Instagram (38,2%) e o X (35,7%) concentraram a maior parte do debate, com vídeos, memes e interpretações fragmentadas da fala presidencial. No Facebook, a repercussão se espalhou em grupos de opinião e páginas noticiosas.
“Cada frase de Lula se transforma em um espelho da sociedade dividida. No ecossistema digital, o contexto desaparece e a emoção vira combustível de engajamento”, analisa Alek Maracajá, fundador da Ativaweb DataLab.
O tema repercutiu em todos os Estados brasileiros, com destaque para São Paulo (24,8%), Rio de Janeiro (14,6%) e Minas Gerais (8,7%), segundo o Índice de Distribuição Ativa (IDA). A análise aponta que o debate atravessou linhas regionais e ideológicas, inclusive em Estados com eleitorado historicamente alinhado ao governo federal.
O Índice de Convergência Política (ICP) atingiu 0,84, um dos maiores do ano, sinalizando forte polarização. Perfis de direita utilizaram a fala como símbolo de “falha moral”, enquanto grupos de esquerda buscaram contexualizar a frase, utilizando frases como “não foi isso que ele quis dizer”.
“O caso mostra como o discurso político deixou de ser institucional e se tornou emocional. Hoje, o algoritmo define o ritmo da opinião pública. Toda fala presidencial, no Brasil digital, é uma faísca em um tanque de emoções. O algoritmo reage antes do contexto aparecer”, diz Maracajá. (Com informações do jornal O Globo)