Sexta-feira, 21 de novembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 20 de novembro de 2025
O dia 20 de novembro, feriado nacional da Consciência Negra, trouxe um simbolismo especial para Belém, cidade que acolhe a COP30. A data, que celebra resistência e memória, coincidiu com um momento em que milhares de cidadãos aproveitaram para conhecer de perto este evento grandioso e único. Era visível a curiosidade de um povo hospitaleiro, que tanto se preparou para receber o mundo e mostrar a Amazônia como protagonista da agenda climática global.
Entretanto, a quinta-feira não foi apenas de celebração. Um incêndio atingiu a Blue Zone, espaço central da conferência, reservado às negociações oficiais entre países e organismos internacionais. A área foi evacuada rapidamente, e o Corpo de Bombeiros controlou as chamas em poucos minutos. O boletim oficial confirmou que houve atendimentos médicos por inalação de fumaça, mas felizmente não houve feridos graves. A ONU e a presidência da COP informaram que a Blue Zone foi reaberta após inspeção, embora parte do pavilhão siga interditada. As plenárias da quinta tiveram que ser canceladas, e os trabalhos serão retomados nesta sexta, com transmissão online para todas as delegações.
Não pretendo gastar muitas linhas com este incidente, ainda que tenha ocupado grande parte do noticiário. Mais importante é destacar que os debates estavam avançando para a consolidação dos documentos finais que formarão o chamado Acordo de Belém. Diferente de um único texto, trata-se de um conjunto de rascunhos e pacotes de decisões.
Entre eles, o Mutirão Global se destaca como uma inovação: um documento que reúne compromissos de financiamento climático, com metas claras para mobilizar trilhões de dólares em investimentos verdes, especialmente voltados para países em desenvolvimento e regiões vulneráveis. O texto propõe mecanismos de cooperação internacional, novos fundos de transição energética e maior transparência na aplicação dos recursos.
Já a carta final do Acordo de Belém reafirma o compromisso de limitar o aquecimento global a 1,5°C, estabelece cronogramas para redução progressiva dos combustíveis fósseis e reforça a necessidade de acelerar a transição para energias renováveis. Também inclui metas de reflorestamento e proteção de biomas, além de reconhecer o papel central da Amazônia como patrimônio da humanidade.
Os contratempos não foram poucos. Houve críticas à organização, algumas válidas, outras claramente exageradas. As declarações infelizes e preconceituosas do chanceler alemão ainda reverberam, mas não terão peso maior do que as lembranças que este momento propiciará aos povos da Amazônia. Afinal, é a primeira vez que a região recebe uma conferência desta magnitude, e isso já é um legado em si.
A COP30 trouxe inovações que mostraram ao mundo uma nova forma da diplomacia climática. A participação intensiva da sociedade civil, dos povos originários, da iniciativa privada e do próprio povo local foi notável. Cada grupo se manifestou à sua maneira, mas sempre com respeito mútuo, compondo um mosaico de vozes que reforça a ideia de que a luta contra a crise climática é conjunta. Essa diversidade deu à conferência um caráter único, mais inclusivo e representativo do que em edições anteriores.
Com o incêndio, a COP30, prevista para encerrar na sexta-feira, deverá se estender até domingo. Não é a primeira vez que uma conferência sofre atrasos: em Baku, no Azerbaijão, a COP29 terminou com dois dias de atraso, quando os países só chegaram a acordo sobre financiamento climático no sábado. O prolongamento das negociações é quase uma tradição, reflexo da complexidade de se buscar consenso global em temas tão urgentes.
Continuarei cobrindo o evento e trazendo informações sobre os desdobramentos. Acredito que uma agenda positiva será construída, e que este incêndio apenas reforça a necessidade de estruturas permanentes e melhores no norte do Brasil. Corrijo aqui a expressão: não foram “desventuras em série”, mas sim desafios sucessivos que evidenciam como regiões mais afastadas carecem de investimentos duradouros. O legado da COP30 não será apenas diplomático ou ambiental, mas também estrutural: deixar bases sólidas para que Belém e a Amazônia possam sediar muitos outros eventos, cada vez melhores e mais sustentáveis, um superando o outro.
Renato Zimmermann – Desenvolvedor de negócios sustentáveis e ativista da transição energética