Sexta-feira, 26 de setembro de 2025

Fim do casamento depois dos 50: por que cada vez mais casais ousam recomeçar na maturidade

“Nos separamos por exaustão. Ele tomou a decisão, e a verdade é que eu não me opus. Ele deu o passo que eu não ousava dar”, conta Carolina, que deixou o casamento aos 55 anos, após 33 anos de união. Mãe de dois filhos, ela afirma que comunicar a separação foi a parte mais difícil. “Senti como se estivesse desfazendo uma família, e isso ainda dói, mas nos recuperamos a cada dia”, diz. Hoje, após algum tempo, Carolina se permitiu viver um novo relacionamento e experimentar o formato de família recomposta. “Estou feliz e voltei a acreditar no amor”, completa.

Embora muitos ainda vejam separações tardias com cautela, o chamado divórcio grisalho — termo que remete à fase da vida marcada pelo envelhecimento — tem crescido em todo o mundo. O conceito, que descreve divórcios após os 50 anos, geralmente depois de décadas de casamento, foi cunhado em 2004 pela Associação Americana de Aposentados (AARP), com base em estudo que detectou a alta desse fenômeno nos Estados Unidos. Desde então, diversas pesquisas confirmam que não se trata de casos isolados, mas de uma tendência global.

Na Argentina, dados do Registro Civil da Cidade mostram que, neste ano, 796 casais com mais de 60 anos já se divorciaram. Em 2023 foram 1.516 registros, e em 2024, 1.621.

Mudanças culturais

Ximena Díaz Alarcón, cofundadora da consultoria Youniversal, explica que mudanças culturais têm redefinido os caminhos dos relacionamentos: “Hoje, uma pessoa de 50 anos pode facilmente pensar em mais 30 anos de vida e, com esse horizonte, a possibilidade de uma segunda etapa se amplia”.

Na chamada “idade dos cabelos grisalhos”, os motivos da separação são semelhantes aos de outros divórcios: desgaste do relacionamento e perda de satisfação conjugal. “Ao contrário do passado, muitas pessoas deixam de manter um relacionamento por inércia quando percebem que ele não as representa mais emocional ou vitalmente”, acrescenta a especialista.

Outro fator importante é a diminuição do estigma social. Separar-se na segunda metade da vida já não carrega o preconceito de décadas anteriores. Hoje, existem redes de apoio e ferramentas digitais que auxiliam no processo.

Para as mulheres, a maior independência financeira é um elemento decisivo. Ainda assim, a situação varia. “Uma pessoa com profissão ou ofício não é a mesma que alguém que nunca trabalhou. Começar um emprego aos 50 pode ser difícil. As conexões sociais ajudam a sair, fazer planos e se sentir viva”, avalia a psicóloga Carolina Damiani. Mulheres independentes tendem a se reerguer mais rápido, enquanto aquelas que internalizaram papéis tradicionais enfrentam maiores dificuldades.

O relato de Cláudia, 57 anos, ilustra o processo. Após quase três décadas de casamento e conflitos frequentes, decidiu se separar com incentivo dos filhos. “O mais difícil é ficar sem parceiro; os filhos crescem e seguem em frente”, diz. Ainda assim, afirma estar mais tranquila. “A única coisa que sinto falta dele é que consertava tudo o que quebrava”, comenta, entre risos, “mas hoje meus filhos e eu já damos conta de tudo”.

Recomeço

Para a advogada e coach familiar María Ana Cornu Labat, a maior expectativa de vida e a transformação nos papéis de gênero levam à reavaliação de objetivos e projetos. “O fenômeno do ninho vazio também faz com que os casais questionem se querem continuar em uma situação insatisfatória”, aponta.

Segundo ela, os motivos de separação em casais mais velhos seguem padrões semelhantes aos divórcios em outras faixas etárias, exceto nos casos de violência ou infidelidade. “Muitos só não se divorciam antes porque, como co-pais, funcionam bem. Quando os filhos crescem, percebem que o relacionamento entrou em deterioração e que já não existe um papel a cumprir.”

Ainda assim, há casos de “segunda rodada”. Amanda e Diego, por exemplo, se divorciaram aos 53 anos após 30 anos de casamento. Dois anos depois, reataram. Agora, vivem em casas separadas: ela em seu apartamento, ele perto dos filhos, com encontros nos fins de semana. “O amor é uma construção diária, não importa a idade”, afirmam.

 

(Com O Globo)

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