Segunda-feira, 24 de março de 2025

Forças Armadas viram impasse na transição de Lula: Futuro governo enfrenta dificuldades com às cúpulas militares

O governo de transição do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deixou para o final a montagem da equipe que vai coletar informações com o Ministério da Defesa e as Forças Armadas. Está pendente, ainda, a definição do núcleo que fará contato com o Gabinete de Segurança Institucional (GSI). Lula enfrenta dificuldades de quadros com acesso às cúpulas militares e com a direção da Defesa e do GSI. A relação é considerada sensível e o impasse será arbitrado pelo petista na volta da viagem ao exterior.

O vice-presidente eleito Geraldo Alckmin, coordenador-geral da transição e um dos nomes a quem se confiou a aproximação com os militares, afirmou a interlocutores que a equipe da Defesa será anunciada “assim que formada”. Há um silêncio total sobre os nomes que estão sendo recrutados e integrantes da transição afirmam que será preciso “muito tato” na relação com a Defesa. Dizem que o setor militar foi preterido da pauta prioritária na formação da equipe, mas vem sendo tratado por um núcleo mais fechado no entorno de Lula.

Coordenador do grupos técnicos, Aloízio Mercadante afirmou que o grupo da Defesa será anunciado assim que Lula voltar. O ex-ministro é um dos nomes citados por generais como bem avaliado na caserna para assumir a Defesa. Mercadante é filho do ex-comandante da Escola Superior de Guerra general Oswaldo Muniz Oliva.

Emissários do governo eleito ouviram de generais que não agradaria às cúpulas militares repetir a fórmula de embaixadores no comando da pasta. Além disso, eles também não veem com bons olhos a indicação de um nome oriundo do Supremo Tribunal Federal (STF), que é, atualmente, alvo de críticas na caserna.

Nos bastidores da transição, há divergências sobre como o grupo deve funcionar e sua composição. O impasse já foi motivo de conversas entre Mercadante, Alckmin, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e os ex-ministros da Defesa Jaques Wagner e Celso Amorim.

Uma ala defende um grupo misto, composto por civis e militares da reserva. Outra ala avalia que deveriam ser convidados apenas militares da reserva que foram colaboradores de gestões passadas do PT. Há, no entanto, quem opine que deveria haver apenas civis, ou somente militares, além dos que julgam que os grupos de defesa e inteligência estratégica poderão funcionar juntos. Há também quem avalie que os grupos de Defesa e Inteligência Estratégica deveriam funcionar juntos.

Indicações

Mercadante disse existir um problema “institucional” em discussão, mas que não deve ser objeto do grupo de trabalho. “É uma instituição secular, organizada, diagnóstica, não tem maiores preocupações em relação a essa agenda. Pode ter algumas questões pontuais. Tem um problema institucional, o lugar das Forças Armadas, a relação com a Constituição, mas isso não é propriamente um tema do grupo de trabalho”, observou.

Capitão da reserva, Bolsonaro deu inédito protagonismo político aos militares, que ocuparam aproximadamente 6 mil cargos na Esplanada dos Ministérios. Lula já disse que pretende reverter essa situação. Além disso, indicou que nomeará um civil na Defesa.

O presidente eleito tem sido aconselhado a não criar desgate desnecessário na relação com Exército, Marinha e Aeronáutica. A aposta é que Lula nomeará o mais antigo entre os oficiais-generais, quando for escolher os comandantes.

Atos antidemocráticos

Embora as cúpulas militares se digam legalistas, na semana passada os atuais comandantes-gerais das Forças Armadas emitiram nota conjunta sobre as manifestações na frente dos quartéis, que tinham como principal pauta a rejeição da vitória de Lula e um pedido de intervenção militar. Há militares envolvidos nos atos, assim como seus parentes.

O ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, também se manifestou por nota e ofício, levantando suspeitas sobre o funcionamento das urnas eletrônicas. A fiscalização realizada por uma equipe técnica de especialistas militares, porém, não apontou qualquer evidência de fraude. Ao contrário: o relatório indicou o funcionamento das urnas sem anomalias e a contagem de votos sem divergências.

Além de ter feito previsões negativas sobre o que seria um “governo da posição”, o ex-comandante do Exército Eduardo Villas Bôas afirmou que o clamor de socorro às Forças Armadas deriva de “dúvidas” sobre o processo eleitoral e “atentados à democracia”. Em carta divulgada no início dessa semana, o general se referiu de forma elogiosa aos atos que pediam intervenção.

Compartilhe esta notícia:

Voltar Todas de em foco

Time da Alemanha diz que está pronto para pagar multas por críticas a violações aos direitos humanos no Catar
Transição e Tribunal de Contas da União falam em rever benefícios tributários
Pode te interessar
Baixe o app da TV Pampa App Store Google Play