Terça-feira, 30 de dezembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 30 de dezembro de 2025
O futebol feminino no Brasil segue como um castelo de cartas: construído com esforço e dedicação de atletas e profissionais, mas vulnerável a qualquer ventania. Na noite desta segunda-feira (29), o Fortaleza anunciou o encerramento das atividades da categoria, justificando a medida pela queda do time masculino e pela necessidade de contenção de despesas.
A decisão significa que a única equipe do Ceará na primeira divisão nacional não disputará a maior competição da modalidade, justamente após conquistar acesso inédito. O anúncio ocorre a apenas dois anos da Copa do Mundo Feminina, que terá Fortaleza como uma das sedes.
Na temporada em que celebraram a vaga na elite, as jogadoras agora lamentam a descontinuidade do projeto e vivem incertezas sobre o futuro. Muitas famílias dependem da renda gerada pelo futebol. Sob comando de Erandir Feitosa, as Leoas vinham em ritmo de crescimento, conquistando a Copa Maria Bonita e o Campeonato Cearense.
O Fortaleza, considerado exemplo de gestão no Brasil e na América do Sul, aprovou em 2025 um orçamento recorde de R$ 387 milhões, sendo R$ 118,8 milhões destinados ao futebol. O valor investido no feminino, porém, não foi revelado.
Em nota, a SAF do clube afirmou ter buscado alternativas e reforçou o empenho para manter o projeto, mas a decisão levanta dúvidas: seriam os esforços possíveis também os necessários?
O esporte feminino tem se consolidado globalmente. Pesquisa da Women’s Sport Trust aponta que 80% dos patrocinadores pretendem aumentar investimentos na modalidade nos próximos anos, enquanto 85% dos atuais querem manter o suporte.
No Brasil, a final do Campeonato Brasileiro entre Corinthians e Cruzeiro contou com o apoio de 15 grandes marcas e bateu recordes de audiência na TV aberta, mostrando que o futebol feminino também gera retorno financeiro.
A CBF anunciou novo calendário com mais clubes, competições e investimentos, incluindo maior atenção à base. O Brasil, primeiro país da América do Sul a receber um Mundial feminino, precisa fortalecer a modalidade.
Em julho, o Fortaleza recebeu visita da Federação de Futebol dos Estados Unidos, que inspecionou locais para servir de apoio à seleção norte-americana. A ausência das Leoas como protagonistas nesse cenário é vista como um retrocesso.
A Arena Castelão é candidata a receber o jogo de abertura da Copa, que pode contar com estrelas como Marta e talentos locais, como Fátima Dutra. Diversas atletas das Leoas já se destacaram em convocações da base, como a atacante Tainá e a meia Érika.
Com o encerramento das atividades, o Fortaleza será punido pela CBF com dois anos fora das disputas. Caso retome o projeto, terá de começar da Série A3, a terceira divisão.