Segunda-feira, 19 de maio de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 18 de maio de 2025
Desde que estourou o escândalo do INSS, cujos desvios começaram em 2019 e permaneceram na atual gestão, o governo Lula se viu acossado por um tema que há anos não é considerado pelos brasileiros o problema prioritário do país: a corrupção. Entre o turbilhão político iniciado em junho de 2013 e o mês final do governo Michel Temer (MDB), em 2018, o assunto pontuava alto nas pesquisas de opinião, mas arrefeceu no período de Jair Bolsonaro e nos primeiros anos do Lula. Agora, volta a ressoar e a ser explorado pela oposição, algo que o PT do presidente enfrentou de forma intensa no auge da Lava-Jato. Em Brasília, costura-se a criação de uma CPI que daria ainda mais holofotes ao esquema dos descontos indevidos de aposentados.
O saldo da revelação das cobranças irregulares ainda não foi medido pelos grandes institutos, mas levantamentos internos do governo já identificam que o episódio minou a melhora tímida que Lula vinha registrando desde março nas sondagens, depois de meses em queda. Mesmo com o argumento de que o esquema começou no governo anterior e de que foi a atual gestão quem conduziu as investigações, o impacto político se mostra inevitável.
Marco das menções
A série histórica do Datafolha, que inclui nas pesquisas o tópico “principal problema do país”, expõe que nem mesmo o mensalão, primeira grande crise dos mandatos de Lula, foi capaz de fazer a corrupção pontuar dois dígitos na pergunta. O brasileiro começou a mencioná-la de forma mais assídua no levantamento de junho de 2013, quando as ruas das grandes cidades juntaram milhões de pessoas em protestos de sentidos difusos que, no fim das contas, colocaram o modus operandi da política tradicional nas cordas.
Ali, o percentual daqueles que consideravam a corrupção o principal problema do país chegou a 11% e se manteve em níveis parecidos até o início de 2015, já com Dilma Rousseff (PT) reeleita depois de uma disputa acirrada com Aécio Neves (PSDB). Ao mesmo tempo, a Lava-Jato, iniciada no ano anterior, ganhava tração e colocava as suspeitas de desvios no centro do debate político. Em fevereiro do primeiro ano de Dilma, a corrupção foi citada como problema maior por 21% dos entrevistados, mais que o dobro da pesquisa anterior, de dezembro de 2014.
Durante o segundo mandato de Dilma, encurtado pelo impeachment em 2016, e também em toda a gestão Michel Temer (MDB), a menção ao problema ficou nos dois dígitos, quase sempre acima dos 20%. O ápice se deu em março do ano do afastamento da petista, com ela ainda no Palácio do Planalto: 37%, mesmo com o processo de impeachment sendo mais relacionado a atos de improbidade administrativa do que de desvio de dinheiro público. Os protestos nas ruas pelo impeachment eram pautados pelo discurso anticorrupção.
Também em março de 2016, Lula foi alvo de condução coercitiva para ser interrogado no âmbito da Lava-Jato, uma medida que despertou controvérsia no meio jurídico e acabaria proibida pelo Supremo Tribunal Federal (STF) dali a dois anos.
“Essa história do INSS pode resgatar um peso significativo para a corrupção nas pesquisas. Com certeza não atingirá nada próximo aos patamares que o problema ocupava no período da Lava-Jato, muito menos durante a eleição crítica de 2018, mas é natural que, quando se tem noticiário associado a determinado tema, ele sobressaia”, observa o cientista político e sociólogo Antonio Lavareda, presidente de honra da Associação Brasileira de Pesquisadores Eleitorais (Abrapel). “O governo estava conseguindo, em abril, aumentar o volume de notícias positivas e arrefecer o de negativas, mas quando veio o INSS esse esforço veio abaixo.”