Quarta-feira, 30 de abril de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 29 de abril de 2025
Nos próximos 25 anos, as estimativas da Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (Iarc, da sigla em inglês), braço da Organização Mundial da Saúde (OMS), apontam que os casos da doença devem aumentar em cerca de 65,7% no planeta. Para o Brasil, a agência prevê que, em 2050, serão mais de 1,1 milhão de novos pacientes anualmente, uma alta de 74,5% em relação aos números de 2025.
Especialistas explicam que alguns fatores ajudam a explicar a tendência, como envelhecimento da população, impacto de álcool e tabagismo e avanço da obesidade. Mas também consideram que o cenário poderá ser melhor do que aparenta – embora os casos aumentem, a medicina avança a passos largos para oferecer um arsenal de novos tratamentos.
Eles explicam que os principais avanços para os próximos anos devem sair de duas frentes: a imunoterapia e a aplicação de técnicas de inteligência artificial. A expectativa é que a ciência caminhe não apenas nas terapias, mas na capacidade de identificar qual estratégia funciona melhor para cada paciente e no diagnóstico cada vez mais precoce, algo essencial para elevar a perspectiva de cura.
Novas imunoterapias
A imunoterapia compreende hoje um conjunto de técnicas que utilizam o próprio sistema imunológico do paciente para eliminar o tumor – algo que não acontece naturalmente porque as células cancerígenas têm mecanismos para “se esconder” das defesas do organismo. A estratégia rendeu o Prêmio Nobel de Medicina a seus criadores em 2018.
— Hoje temos mais de 60 indicações. O problema é que menos de 10% dos pacientes são candidatos, por conta das características moleculares de cada tumor, então o número de pessoas que pode se beneficiar ainda é limitado. Mas no futuro muito próximo haverá novas gerações de imunoterápicos que vão expandir esse acesso — avalia o presidente da Oncologia D’OR e professor da Universidade de São Paulo (USP), Paulo Hoff, que abordou o tema durante uma palestra no X Congresso Internacional Oncologia D’Or, no início de abril, no Rio de Janeiro.
Uma das categorias de imunoterápicos que tem avançado significativamente, com novas alternativas já entrando no mercado, são os anticorpos monoclonais. Hoff explica que existem principalmente três tipos trazendo bons resultados: os conjugados à quimioterapia, a partículas radioativas e os biespecíficos.
— São tratamentos alvo moleculares, desenvolvidos para mirar alterações específicas presentes nas células tumorais, mas não nas células saudáveis. No primeiro, o anticorpo carrega uma molécula potente de quimioterapia. Ao se ligar à célula tumoral, libera a medicação dentro, como se fosse um cavalo de Troia. Temos resultados impressionantes em diversos tipos de câncer, como no de mama — conta o oncologista.
O segundo tipo é semelhante, mas, em vez de uma quimioterapia, carrega uma molécula radioativa que emite uma “radioterapia ultralocalizada” quando o anticorpo a insere no tumor. Hoff diz que essa abordagem já sai do papel para tumores neuroendócrinos. Recentemente, houve aprovação também para casos de câncer de próstata avançado, o tipo mais frequente de neoplasia entre os homens.
— Já a terceira vertente são os anticorpos biespecíficos. O anticorpo parece um Y, cujas duas pontas de cima geralmente se ligam ao mesmo alvo. Mas esses são desenvolvidos para cada uma das pontas se ligar a um alvo diferente. Isso permite atacar dois alvos distintos da célula cancerígena ou fazer com que uma ponta se ligue à célula cancerígena e a outra à célula de defesa do próprio paciente, “puxando” o sistema imune para destruir o câncer — continua o especialista.
Inteligência artificial
Assim como em outras áreas, a medicina também está sendo impactada pelo avanço da inteligência artificial. Os especialistas veem com otimismo a perspectiva de que algoritmos consigam acelerar o diagnóstico e melhorar as perspectivas de tratamento, além de auxiliar a selecionar as melhores terapêuticas e atuar no desenvolvimento de fármacos.
— No diagnóstico, a IA consegue fazer uma triagem dos testes. Ela me diz quais estão normais e quais não estão. Isso hoje é feito por análise do patologista no microscópio, uma a uma. Mas imagina na fila do SUS, em que um diagnóstico pode demorar meses. Se eu priorizar os pacientes que têm alguma alteração identificada rapidamente pela IA, e depois confirmada com o olhar humano, consigo reduzir isso — diz Fernando Soares, professor da USP e chefe do Departamento de Patologia Anatômica da Rede D’Or.
O especialista explica que a adoção da tecnologia nos laboratórios em larga escala ainda é “incipiente”, mas que vê como algo que explodirá em até dois anos. A Rede D’Or, por exemplo, firmou uma parceria com a empresa americana Path AI, em fevereiro, para implementar a técnica em sua rede nacional, atendendo 78 hospitais.
— Seja você um oncologista, um patologista, um cientista ou qualquer pessoa da área da saúde, a IA vai impactar todas as nossas vidas — afirmou o patologista Eric Walk, Chief Medical Officer (CMO) da PathAI, que esteve no Rio para o congresso da Oncologia D’Or. As informações são do portal O Globo.